tag:blogger.com,1999:blog-23248364721127887752024-03-13T23:12:11.711-03:00Manuscritos do SilêncioSisáhttp://www.blogger.com/profile/09159579741334248551noreply@blogger.comBlogger12125tag:blogger.com,1999:blog-2324836472112788775.post-88898842369321962312012-09-22T02:10:00.001-03:002012-09-22T04:22:53.324-03:00Legado Laynes<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-IpDlYC7XyH4/UF1nLHC6rHI/AAAAAAAAAdU/wXYKtGvzvFg/s1600/LegadoLaynesCapa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://1.bp.blogspot.com/-IpDlYC7XyH4/UF1nLHC6rHI/AAAAAAAAAdU/wXYKtGvzvFg/s400/LegadoLaynesCapa.jpg" width="300" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">A vida é cheia de desafios.
Milhares de vezes você realmente considera desistir de tudo, abandonar os
problemas e simplesmente sumir, deixando tudo para trás. A solução mais fácil.
Perdemos a conta das vezes que sentamos e largamos o controle de nossas vidas,
mas quando vencemos entendemos que se o caminho até ali não tivesse sido tão
rigoroso e cheio de obstáculos, aquela vitória não seria digna.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Game! Partida, Laynes. –
Gritou o juiz sentado na cadeira alta na lateral da quadra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Estava ofegante e exausto
quando abandonei a raquete no chão e cai sentado. Havia sido uma longa partida
pela final do Torneio de Marselha, mas a vitória era minha. A multidão aplaudia
o jogo acirrado e os patrocinadores davam inicio a cerimônia de encerramento. Minha
carreia como tenista começou ainda quando muito pequeno e agora valia o
esforço.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Aí está o grande astro! –
Um homem fisicamente muito parecido comigo abria espaço entre amigos e fãs na
festa de comemoração. – Estou orgulhoso de você, Luke.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Não teria conseguido
chegar até aqui sem a sua ajuda, Tommy.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Thomas Laynes, tenista
classe A aos 25 anos, e meu irmão mais velho. Durante anos jogávamos em dupla
nos torneios regionais, mas em algum momento seguimos rumos diferentes em
torneios diferentes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Relaxe, irmãozinho.
Apenas aconselho você. Se não fosse um bom tenista não faria diferença nada do
que falo. – Tommy deixou a taça de vinho de lado. – Bom, preciso ir ou vou
perder o avião.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Avião? – Perguntei
surpreso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Estou voltando para
Londres essa noite. Meus treinos começam depois de amanhã.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Sim, dentro de três meses
começaria um dos quatros torneios mundiais. Roland-Garros prometia ser bem
disputado este ano. De minha parte, não estava dando maior importância para o
torneio em si, meu objetivo era outro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Tenho uma semana de
férias graças a essa vitória em Marselha, mas também darei inicio aos treinos,
Tommy, e daqui há três meses vou derrotar você em Roland-Garros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Meu irmão logo riu me dando
um abraço e bagunçando meu cabelo. Um típico irmão mais velho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- É bom sonhar, Luke. É bom
sonhar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Ele gostava de treinar em
Londres, nossa cidade natal. Não importa onde será o torneio, os treinos são em
casa. Quanto a mim, treino na cidade onde será o torneio, evitando o cansaço
das viagens. Para minha sorte, estava agora em Paris, e era exatamente onde o
próximo torneio aconteceria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Nos vemos em três meses,
irmãozinho. – Tommy me cumprimentou e já dava as costas, rumando para a porta
do salão de festas. – Ah, mais uma coisa. Não se esqueça que inventaram a palavra
Problema...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Para justificar a palavra
Superação. Eu sei. – Vivi meus 23 anos sob o lema de meu irmão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Nos meses seguintes mal
tive contato com Tommy. Treinávamos e dormíamos, sem tempo para vida social.
Esportistas sérios sacrificam tudo para serem os melhores em seus esportes, ao
invés de desperdiçar tempo e dinheiro com festas e futilidades.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Das poucas vezes que falei
com meu irmão por e-mail, trocamos apenas desafios de quem seria o melhor no
grande torneio. Uma rixa antiga entre dois irmãos competitivos demais, porém
que nunca nos afastou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Vários tenistas já
chegaram a Paris. – Meu treinador assistia ao jornal de esportes enquanto
tomávamos café. – E seu irmão?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Chegará esta noite. Estou
ansioso em vê-lo. Aposto que melhorou muito e vai ser um bom desafio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Naquela tarde treinei sem
descanso. Apenas com vinte minutos de pausa para um lanche ao meio-dia. Não vi
ou falei com ninguém além de meu técnico. Eram por volta de sete e meia da
noite quando deixamos as quadras e voltamos ao hotel onde estava concentrada a
maior parte dos tenistas do torneio. Assim que cruzei a porta senti o clima
pesar. Funcionários do hotel e outros jogadores me olhavam com surpresa, ou
talvez fosse pesar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Laynes... – Francis
Every, um tenista francês velho conhecido vinha me estendendo a mão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Every. Quanto tempo não o
vejo. – Estava agindo normalmente, embora Francis parecesse hesitar. – O que
houve? Todos parecem tão abatidos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">O francês ainda apertava
minha mão quando arregalou os olhos confusos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Você não sabe... – Novamente
hesitava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- O que?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Francis soltou minha mão e
foi até o televisor no saguão do hotel, aumentando o volume do telejornal. Imagens
de um grupo de resgate apagando o fogo de alguma estrutura metálica deformada
ocupavam a tela enquanto a repórter falava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- O avião de passageiros da
Air France partiu de Londres as seis da tarde desta terça-feira, com destino à
Paris. Cerca de uma hora após a decolagem o piloto relatou problemas no motor e
tentou realizar um pouso forçado. O trem de pouso não respondeu aos comandos e
o avião se chocou contra o chão, explodindo imediatamente. Não há
sobreviventes. – Uma pausa dramática que para mim pareceram longas horas. –
Entre os passageiros estava o tenista Thomas Laynes, a caminho de um torneio na
França...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">A repórter continuou
falando, mas eu não ouvia mais nada. Era como se o mundo houvesse parado de
girar sob meus pés enquanto a tela dividida mostrava os destroços
irreconhecíveis do avião e uma foto de meu irmão mais velho. Os olhares de pena
de todos a minha volta começavam a me irritar. Quando Francis disse que sentia
muito por minha perda e me abraçou, me senti uma criança e não tive como evitar
todas as lágrimas que me vieram aos olhos. Meu irmão mais velho, meu melhor
amigo, estava morto e nada o traria de volta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">No dia seguinte liguei para
meus pais. Estava determinado a abandonar o torneio, voltar para Londres e
realizar todas as cerimônias possíveis em honra a meu irmão, mas minha mãe me
convenceu de que Tommy não gostaria que eu abandonasse tudo por ele. Quando
nossos avós morreram anos antes, meu irmão foi paciente com minha tristeza e
disse que a morte faz parte da vida, que é uma opção chorar por quem se foi,
mas nunca devemos deixar que nossos corações se vão com quem já não está mais
aqui e sim guardar os entes queridos em nossa memória.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Quatro dias após o acidente
que tirou a vida de meu irmão, se deu inicio o torneio de Roland-Garros.
Durante a abertura houve uma grande homenagem a Tommy. Fotos e vídeos de sua
carreira como tenista, elogios sem fim de amigos, fãs por todo lado com faixas
e cartazes. Todos os tenistas, homens, mulheres ou juniores, decidiram passar o
resto do torneio com uma braçadeira negra, em luto pelo amigo e rival perdido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Meus jogos estavam um
desastre. Ganhava com dificuldade e com pontos apertados. Os treinos eram
horríveis e eu entregava jogadas ao adversário. Minha concentração era zero e
minha vontade de continuar era tão baixa quanto. Estava cansado. Mal dormia,
todas as noites me revirando na cama entre memórias e pesadelos. Logo o cansaço
me faria delirar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- O que está fazendo? –
Alguém falou no quarto escuro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Tentando dormir. –
Respondi de forma automática, sem associar as coisas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Não, seu idiota. O
torneio. Está estragando tudo. – A voz se calou esperando algum comentário meu,
mas eu estava cansado demais. – Luke, não estrague sua carreira só porque eu
morri.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Em um estalo levantei
assustado e disparei a mão para o interruptor de luz. Não havia ninguém no
quarto. Mais consciente começava a perceber que não estava sonhando e que a voz
de Tommy estava muito clara ali. Era isso, enfim eu estava enlouquecendo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Saí para o treino sozinho
antes mesmo do sol aparecer. Estava sufocante ficar naquele quarto e estava
certo de que a qualquer momento eu iria pirar completamente. Corri os poucos
quilômetros até as quadras de treino. Por vezes tive certeza de ouvir mais um
par de pés correndo atrás de mim, mas todas as vezes que me virei não havia
ninguém.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Pela décima vez errei o
saque no treino. Irritado atirei a bolinha contra a grade, reclamando comigo
mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Droga... Foco. Preciso
parar de me distrair.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Em questão de segundos a
mesma bolinha que havia atirado contra a grade do outro lado da quadra batia
com força em minha cabeça. Me virei pronto a mandar para o inferno quem quer
que fosse que tivesse atirado aquela bola em mim. Eu estava sozinho na quadra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Impossível... – Sussurrei
para o nada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Impossível é a sua
capacidade de ser um babaca! – Alguém estava parado atrás de mim. Desta vez
quando me virei, a pessoa continuou ali.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Arregalei os olhos ao mesmo
tempo em que tentei dar passos para trás até perder o equilíbrio e cair
sentado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Tommy... – Fechei os
olhos com força, rindo. – Estou tendo visões agora. Ótimo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Quando abri os olhos meu
irmão mais velho continuava em pé na minha frente. Me senti desesperado. Cobri
as orelhas com as mãos e fechei os olhos com mais força.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Você não está aqui. É só
uma ilusão. Só uma ilusão. Estou cansado demais e abalado com o acidente. É só
isso. – Abri os olhos e não tinha mais ninguém na minha frente. Suspirei
aliviado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Repetir isso te faz
sentir melhor? – Tommy estava sentado ao meu lado, extremamente perto, com sua
cara de tédio, ignorando completamente o quase infarto que tive naquele
momento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Você... Você... Morreu...
Ah, meu Deus... Você... – Eu gaguejava, ficando em pé e andando de um lado para
o outro, esperando que a qualquer momento eu olhasse para meu irmão e ele
sumisse. – Como é que você...? Por que...? Você é um fantasma?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Luke, se acalme! Está
parecendo a mamãe quando descobriu que eu fumava. – Tommy se levantou e enfiou
as mãos nos bolsos, sorrindo para mim. – Sim, sou um fantasma. Estava do outro
lado assistindo você aqui e não agüentei você fazendo essa idiotice de estragar
o torneio. Por isso vim até aqui.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Senti meus olhos se
encherem de lágrimas e vi a expressão de meu irmão passar de um sorriso
fraterno para a surpresa, dando um passo para trás e apontando o indicador em
minha direção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Se você chorar outra vez
porque morri, juro que vou te dar uma surra. É, eu posso fazer isso, acredite.
– Logo voltou ao sorriso. – Irmãozinho, relaxe. Foque no torneio. Estarei aqui
com você o tempo todo. Vença por mim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">E ele ficou. A cada treino,
a cada jogo, Tommy estava ali, visível para mim e invisível para o resto do
mundo, sempre me aconselhando e apontando meus erros como fez durante toda a
vida. Ele parecia verdadeiramente feliz e isso me deixou feliz. Aos poucos fui
melhorando e avançando no torneio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Dois meses depois do
acidente lá estava eu, nas finais do grande torneio com meu irmão morto me
incentivando a vencer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Parece abatido. Achei que
ficaria feliz de chegar até aqui. – Tommy conversava comigo no vestiário vazio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Estava só pensando que
nunca vamos saber qual de nós é o melhor. Quero dizer... – Minha voz começou a
ficar fraca e emotiva. – Nunca mais vou jogar contra você.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Inventaram a palavra
Problema... – Ele começou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Para justificar a palavra
Superação. – Terminei, pegando minha mochila e seguido para a quadra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Estava triste porém
concentrado. Ganhei o primeiro <i>set </i>com um pouco de esforço, afinal esta
era a decisão do torneio, não era um tenista qualquer que jogava contra mim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Mudança de quadra. –
Anunciou o juiz e ambos trocamos de lado na quadra. Tínhamos dois minutos de
intervalo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Quando sentei no banco para
respirar vi Tommy do outro lado da quadra, onde tinha ficado o tempo todo.
Abaixei para ajustar a cadarço do tênis e quando olhei novamente ele não estava
mais ali. Procurei em volta, mas não havia sinal da presença de meu irmão. O
juiz nos chamou de volta ao jogo e entrei sentindo que meu irmão me abandonara.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Saque, Morgan. – Ao sinal
do juiz a partida recomeçou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Algo estava estranho. Todos
notaram. Os cochichos se espalharam pelas arquibancadas e as vozes dos
comentaristas vieram claras. Robert Morgan era canhoto, mas agora a raquete
estava em sua mão direita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Morgan quicou a bolinha no
chão, jogou pra cima e acertou com a raquete em cheio. Podia jurar que a
bolinha viria para a minha direita, mas o saque em curva a jogou no meio da
linha de fundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Ace! – Gritou o juiz
anunciando o ponto perfeito. Quando um tenista faz o saque e o adversário não
consegue reagir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Os comentaristas logo
entraram em cena.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Isso foi um saque em
curva, Evan? – Um dizia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Foi sim, Charlie. Uma
jogada realmente difícil que poucos conseguem fazer. O que mais chamou minha
atenção é a mudança de mão do Morgan.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Eu estava imóvel. Não
conseguia me mover. O saque em curva era um desafio grande para um tenista.
Poucos conseguiram. A maioria eram tenistas aposentados. Outros tantos jogavam em
duplas. Apenas um tenista dos individuais conseguia fazer isso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Tommy!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Enfim consegui compreender.
Meu irmão havia incorporado em Robert Morgan, ou algo assim, e agora eu estava
jogando contra Thomas Laynes. Não consegui evitar um sorriso ao vê-lo mostrar o
mesmo sorrisinho de canto que significava “Vou acabar com você”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">A partida começava a valer
a pena. O público aplaudia jogadas complexas, ficava em pé para gritar com
alegria a cada ponto sofrido. Os comentaristas já comparavam as novas jogadas
de Morgan com o estilo de Laynes e acreditavam que esta era apenas uma
homenagem ao falecido tenista. Ah, se eles soubessem...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Tommy ganhou o segundo e
terceiro <i>sets. </i>Ganhei o quarto <i>set. </i>O quinto estava disputado.
Até então já tínhamos cinco horas de jogo. Estava exausto para dizer o mínimo e
logo me peguei pensando se meu irmão morto podia sentir cansaço. Se não, este
jogo estava sendo roubado. Ri do pensamento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Deuce. – Anunciou o juiz.
Estávamos empatados no último ponto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Tommy fez um ponto, o que
lhe deu a vantagem. Mais um ponto dele e era o fim do jogo. O ponto foi meu,
lhe tirando a vantagem e voltando a situação de Deuce. Assim se seguiu por
quase cinqüenta minutos. Um tinha a vantagem, o outro pontuava e voltava o
Deuce.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Triplo Deuce! – Gritou o
juiz acompanhado dos aplausos do público.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Chegávamos a seis horas de
jogo e não agüentaria muitos minutos mais. Consegui a vantagem. Tommy quase
conseguiu o ponto, mas salvei a bola e devolvi de forma inesperada. Meu irmão
não alcançou a bola que bateu extremamente próxima da linha de fundo, ainda
dentro da quadra. Fim de jogo. A vitória era minha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">O publico gritou de
empolgação. O juiz anunciava minha vitória. Durante minha comemoração senti uma
dor aguda na perna esquerda. Minutos depois eu estava no chão, ainda gritando,
mas desta vez de dor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Meu técnico correu até onde
eu estava, o grupo médico veio logo atrás. Todos falavam, mas só conseguia
ouvir meus próprios gritos. Algo frio tocou minha mão e consegui parar de
gritar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Luke! Luke, calma. Vai
dar tudo certo, irmão. Estou aqui. – Tommy estava ajoelhado ao meu lado,
invisível para todos. A dor era imensa e meus sentidos iam ficando cada vez
piores. Olhando para meu irmão, desmaiei.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">O constante apito ritmado
atrapalhou meu sono. Abri os olhos para encarar um teto impecavelmente branco.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Bom dia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Virei o rosto para meu
irmão parado próximo a janela. Tentei sentar mas inúmeros fios e agulhas
estavam ligados a mim. Tommy logo se aproximou pedindo que eu ficasse quieto.
Olhei em volta no quarto de hospital. Minha mãe dormia no sofá do canto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Onde estamos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Paris. Você desmaiou
depois do jogo ontem à tarde. Mamãe e papai correram para cá imediatamente. –
Tommy olhou para nossa mãe. – Ela não sai daqui para nada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Eu ganhei de você. – Ri
baixo, ainda afetado pelos remédios.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- É, e vai ficar quatro
meses parado até recuperar esse joelho. – Meu irmão também ria. – Mas você
jogou muito bem, Luke. Para ser sincero, sempre achei que eu seria melhor.
Desculpe, não devia duvidar de você. É um grande tenista, Luke Laynes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Tive um bom professor. –
Sorri, lembrando de toda nossa infância, quando Tommy me ensinava o básico e
jogávamos juntos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Meu sorriso logo sumiu. Meu
irmão observava nossa mãe e sorria, mas algo estava errado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Tommy, você está
transparente. – Falei surpreso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Ela reza minuto a minuto
para que Deus não te leve também. – Ele me ignorava.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Tommy. – Chamei.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Prometi que levaria ela e
papai para conhecer o mundo. Faça isso por mim, Luke.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Tommy! – Gritei e enfim
ele me olhou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- É minha hora, irmão. –
Ele sorria com tristeza. – Vim ajudá-lo com o torneio. Não quero que abandone
as quadras. E cumpri minha promessa de jogar contra você na final.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Não vá... Tommy, fique
aqui, sempre. – Ele ria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Você cresceu. Não tenho
mais nada para lhe ensinar. – Tommy foi até nossa mãe e lhe deu um beijo na
testa, voltando para perto de mim e segurando minha mão. – Luke, prometa para
mim que não vai abandonar as quadras. Prometa que fará tudo o que puder para
ter uma vida ótima e que eu terei motivos para me orgulhar ainda mais de você.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Eu prometo... – Minha voz
saiu difícil. Dessa vez Tommy não me criticou por chorar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Meu irmão soltou minha mão
e caminhou até a janela abrindo as cortinas. O brilho do sol da manhã iluminou
todo o quarto e tive que cobrir os olhos por um instante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Nunca deixe de acreditar
que inventaram a palavra Problema para justificar a palavra Superação. – Tommy
estava ainda mais transparente diante da luz do sol. – Eu viverei para sempre,
Luke, na sua memória. Não podia ter tido um irmãozinho melhor. Adeus, Luke.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Quando meus olhos se
acostumaram com a claridade da manhã, Tommy já havia partido. Restava apenas a
cortina balançando de leve com a brisa da manhã.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Continuei minha carreira no
tênis por longos anos, até estar totalmente incapacitado para jogar e se
forçado a me aposentar. Meu pai já havia falecido pela idade, e minha mãe
estava bem idosa, mas pude cumprir a promessa de meu irmão de dar-lhes uma
viagem pelo mundo. Voltei a morar na casa de nossa família. Quando estava
revirando coisas velhas no sótão, encontrei um antigo caderno de anotações de
Tommy. Entre muitas coisas, estavam os planos de uma instituição que daria
espaço para jovens aprenderem de graça o esporte e todo o suporte para terem
uma ótima carreira. Nos cinco anos seguintes trabalhei no projeto de meu irmão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Declaro aberta a Academia
de Tênis Thomas Laynes, com sede em Londres. – Falava com elegância na abertura
do prédio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">Cortei a faixa de
inauguração e todos os presentes aplaudiram. Durante a bagunça e a empolgação
dos que estavam ali, um sussurro foi trazido pelo nada até meus ouvidos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-family: Arial;">- Muito bem, irmãozinho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: Arial;">~ FIM ~<o:p></o:p></span></div>
Sisáhttp://www.blogger.com/profile/09159579741334248551noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2324836472112788775.post-86898962739272655012012-02-23T03:05:00.001-02:002012-02-24T22:42:37.364-02:00Neve! - Daisuki yuki to daisuki Yuki mo.<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-KxzupbCslvk/T0guZWZWqgI/AAAAAAAAAcY/uA8YljolKKo/s1600/Blog-10.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-KxzupbCslvk/T0guZWZWqgI/AAAAAAAAAcY/uA8YljolKKo/s400/Blog-10.jpg" width="300" /></a></div><span style="font-family: Arial;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: Arial; text-align: left; text-indent: 42pt;">Tokyo – Japão</span><br />
<div style="text-align: left;"><span style="font-family: Arial; text-indent: 42pt;">20 de Setembro de 2011</span></div></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Fazia poucos minutos que eu havia chegado ao colégio. A manhã estava um pouco fria, mas a temperatura não muda o fato de que o uniforme feminino é composto por uma saia. Não me incomodava. Nasci e cresci aqui.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Estava sentada em meu lugar, quieta, apenas lendo para matar o tempo antes da aula começar. Não fazia questão de manter amizades importantes, então além do “bom dia” eu pouco falava com os outros.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Me rotulavam esnobe. Eu achava que era apenas calada demais para a idade. Aos 17 anos, estava no último ano do colégio. Os cabelos castanhos compridos até a cintura e uma franja que beirava meus olhos escuros.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Sakurako. – Alguém me chamou pelo sobrenome. Logo reconheci a voz e decidi ignorar. Não demorou em que quatro garotas com maquiagem excessiva e a saia curta demais cercarem minha mesa.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ei, falei com você.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O que é? – Virei a página do livro, sem olhar para nenhuma delas.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Hina e suas fiéis seguidoras eram o típico grupinho de meninas mimadas que se acham as rainhas do colégio. Nada disso, na verdade.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ontem fomos à uma doceira depois das aulas e vimos uma garota muito parecida com você. – Eu notava o cinismo em sua voz.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não era eu. – Minha voz baixa, minha expressão vazia. Há anos eu havia deixado de me importar com o que era dito por qualquer uma delas.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Sabemos que não era. Porque aquela garota estava acompanhada do namorado. E ninguém nunca viu o seu. – Ela ria.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Embora não deixasse transparecer nada para elas, eu parei de ler. Os olhos fixos embaralhando as letras a minha frente. Apertei a capa do livro para evitar uma leve tremedeira nas mãos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Como explica isso, Sakurako? Eu olhei o seu perfil na rede social e não há fotos, ou mensagens, nem nada. – Aquela que servia como braço direito de Hina falava. – Admita este seu tal namorado maravilhoso simplesmente não existe.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Pretendia continuar ignorando. Para minha sorte soou o sinal do inicio das aulas, e as quatro bonecas <i>Barbie </i>voltaram para seus próprios lugares. Respirei fundo e fechei o livro, me preparando para mais um dia de aula.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O Diretor entrou na sala e logo fui lembrada de que nosso antigo professor de inglês havia se aposentado e hoje teríamos um novo professor. Foi-nos dito que embora o novato fosse formado há pouco tempo, era excelente no trabalho. A porta deslizou novamente e o novo professor entrou.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Um homem alto, com um corpo atlético. Cabelos loiros incomuns para um japonês. Olhos verdes e um pouco frios, sérios demais. Ele não teria mais que vinte e cinco anos. Assim que ele entrou, as garotas começaram os cochichos e suspiros pelo belo professor, enquanto os rapazes se irritavam com toda atenção dada à aparência do homem. De minha parte, a reação foi de absoluto choque. Fiquei em pé em um susto, a cadeira deslizou para trás com um irritante barulhinho.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- <i>Yuki... –</i> Pensei no nome, enquanto meus olhos arregalados não desviavam do novo professor.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Senhorita, algum problema? – O Diretor parecia assustado com minha reação, e todos observavam, alguns rindo.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não senhor. Desculpe. – Envergonhada tornei a sentar.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Bom dia. Meu nome é Yuki Takashi. Serei o novo professor de vocês na matéria de inglês. Se tiverem perguntas, façam agora. – A voz de Yuki era tão fria quanto seus olhos, e isso o tornava ainda mais charmoso.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Hina logo levantou a mão. Ao ter a palavra, sua voz saiu melosa e forçada.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Desculpe a intromissão, mas quantos anos o senhor tem?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Vinte e três. – Ele foi direto. Novamente os cochichos começaram. – E adiantando próximas perguntas... Me formei na universidade há 1 ano e meio, desde então me tornei professor.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Um dos garotos levantou a mão, e Yuki lhe permitiu falar.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Professor Takashi, a cor do seu cabelo é natural?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Algumas meninas repreenderam o garoto pela pergunta intrometida. Yuki simplesmente sorriu. Se qualquer um ali soubesse o quão raro isso é, teria se assustado com o gesto simples.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Sim, é. Meu pai é japonês, mas minha mãe não. Herdei sua cor de cabelo, todo o resto é de meu pai. – Ele esperou. As conversas baixas continuavam, mas nenhuma outra pergunta foi feita. – Se isto é tudo, comecemos a aula.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O primeiro período de aulas acabou. Yuki deixou a sala para o professor da próxima matéria seguir com o ensino. A manhã se arrastou, e minha agonia aumentava. O sinal do almoço soou assim que relógio atingiu o meio-dia e meia. Apressada fui até a sala dos professores.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Professor Takashi. – Chamei com educação, enquanto Yuki conversava com outros professores.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Diga. – Seco.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Posso falar com o senhor? – Desviei os olhos para os outros professores que agora me observavam. – Sobre algo na matéria desta manhã.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Deixe suas dúvidas para minhas aulas, senhorita. Não para o horário de almoço.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Presa aos bons modos e a boa educação me limitei a concordar e sair da sala. Pelo resto do dia estive em todas as aulas, ao menos fisicamente, afinal, meus pensamentos estavam muito longe.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Quando as aulas terminaram, juntei minhas coisas com um desanimo profundo. Hina e as amigas tornavam a me provocar, mas desta vez eu nem ao menos prestei atenção no que diziam. Vesti meu casaco e saí sozinha.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Cruzei o pátio com a cabeça baixa, olhando para meus próprios passos. Segui pelas ruas de costume enquanto o por do sol tingia o céu de laranja. Não queria voltar para casa. Minha mãe havia morrido anos antes e graças ao trabalho meu pai morava em outra cidade. Eu vivia sozinha, com o dinheiro que meu pai enviava todos os meses.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Parei no parque no caminho de casa e fiquei por ali. Algumas crianças ainda estavam por ali brincando, sendo vigiadas por seus familiares. Sentei em um balanço desocupado e simplesmente fiquei ali.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Meus sapatos faziam círculos na areia sob o balanço, e o vento enrolava modestamente meus cabelos nas corretes do brinquedo. Ficava olhando o nada. Em minha mente corriam memórias recentes, palavras ditas, decisões tomadas. Me sentia vazia e prestes a quebrar.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Quando o sol foi embora não demorou para a chuva cair. Insistente e fria, mas eu não queria me mover. Continuei ali. Algum tempo depois meu corpo tremia de frio e decidi ir para casa. Levantei do balanço e voltei para a calçada. Poucos passos até parar subitamente.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Alguns metros a frente, um homem estava parado na calçada. Vestia um terno preto simples, era alto, jovem e bonito. No canto de seus lábios um cigarro pendia aceso. O guarda-chuva o mantinha o mais seco possível. Nos encaramos por alguns segundos. Comecei a andar na direção dele, com hesitação, temendo que ele se afastasse, mas ele continuou ali, e não se importou quando eu o abracei com força, derrubando seu guarda-chuva e fazendo com que ele também terminasse totalmente molhado.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Meia hora depois daquele encontro no parque, estava eu sentada na entrada do apartamento daquele homem que me encontrou na chuva. Ele havia sumido no fim do corredor alguns minutos antes.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Vai acabar doente com essas roupas molhadas. – Ele trazia uma toalha e uma camisa social pertencente a ele. Não respondi, nem parei de olhar para o chão. – Reiko. Você morreu?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Continuei quieta. Sentia que a mera tentativa de falar traria lágrimas aos meus olhos. Preferi o silêncio. Admito que assustei quando a toalha foi lançada contra mim e caiu em minha cabeça, fazendo uma cortina para meu rosto. Ele deixou a camisa dobrada no chão, perto de meus pés.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não sou sua babá. Se quer ficar aí, fique. – Logo ele deu as costas e sumiu por uma porta à esquerda.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Alguns podiam imaginar que ele fosse apenas grosso e cruel, sem motivos ou nada além disto, mas na verdade, por trás de suas palavras ríspidas sempre havia preocupação e afeto. Sorri ao pensar nisso. Usei a toalha para me secar, e tirei o uniforme molhado, o trocando pela camisa, que para mim mais parecia um vestido de mangas longas.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Yuki... – Parei na porta da sala, olhando o homem sentado no sofá com o jornal diante dos olhos e o cigarro entre dois dedos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ele olhou por cima das páginas para mim. Seu olhar constantemente frio não deixava forma para descobrir o que ele pensava. Diante do silêncio dele, continuei.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Por que está dando aulas na minha escola?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Yuki continuou me olhando com frieza. Dobrou o jornal e se levantou, andando para perto de mim com uma das mãos no bolso e a outra segurando o cigarro. Assim que estava perto o bastante, tirou a mão do bolso e segurou meu queixo, forçando meu olhar para cima.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Me ofende. Até parece que não sabe minha forma de pensar.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Essa é a sua vingança. – Sussurrei, novamente repassando cenas antigas em minha mente. De uma forma quase sinistra, Yuki começou a falar exatamente o que estava em minha mente.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Reiko, há dois anos, quando você não quis se mudar com seu pai, eu pedi que fosse comigo para Nagoya apenas por seis meses. – Sua mão em meu queixo apertava, e eu tremia. – Eu me formaria e voltaria para Tokyo. Você tomou suas decisões sozinha.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- E então você decidiu terminar comigo. – Conclui nosso passado confuso.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Assim aconteceu. Meu pai queria que eu fosse com ele. Eu queria ficar em minha cidade. Yuki se ofereceu para morar comigo aqui, mas eu teria que passar seis meses fora, aguardando sua formatura. De forma egoísta recusei suas intenções. Eu não o culpava por suas escolhas.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Você é idiota? – Seu olhar estreitou ainda mais e pela primeira vez ao lado de Yuki eu senti medo. Sua mão apertou mais e por reflexo olhei seus dedos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Lágrimas vieram aos meus olhos imediatamente. Yuki me segurava com a mão direita, e em seu dedo reluzia o anel prateado idêntico ao que eu carregava em meu bolso. Anéis gêmeos comprados três anos antes após nossos quatro primeiros meses de namoro.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Minhas palavras exatas naquele dia foram: Não aceito sua escolha, mas se quer assim, assim será. – Sua mão afrouxou e se tornou uma caricia leve. – Jamais eu disse que não a queria mais.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Sem forças nas pernas, me ajoelhei bem ali. Escondi o rosto com as mãos enquanto um choro guardado há muito tempo vinha para fora.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Você nunca ligou, ou deu qualquer notícia. – Minha voz saia às vezes alta, às vezes baixa, confusa e rouca. – Você apenas sumiu.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Yuki se abaixou à minha frente. Senti seus dedos deslizarem pelo meu cabelo e sua testa encostar-se à minha.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Você me queria longe.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Naquela noite não consegui falar mais nada. Todos aqueles meses de solidão e angustia vieram para fora em um choro sofrido. Não sei por quanto tempo estive entre os braços de Yuki, mas adormeci.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Acordei assustada com o som do despertador. Levei alguns segundos para entender onde estava. A cama grande em um quarto espaçoso, cercada por um armário de portas espelhadas e um sofá de tecido negro. Todos móveis conhecidos por mim. O alarme ainda soava e com surpresa notei meu atraso.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Escola. Ai meu deus... – Puxei o uniforme dobrado na ponta da cama e comecei a vesti-lo. Só então percebi que o uniforme estava seco e arrumado.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Um bilhete ao lado com a letra de Yuki dizia que era melhor eu correr e não perder a aula dele no primeiro período se não quisesse ficar de castigo. Sorri para o papel e voltei a me arrumar às pressas.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Por sorte Yuki morava mais perto da escola do que eu, assim evitei atrasos naquela manhã. Estava de bom humor e feliz como não conseguia ser em muito tempo, mas algo tinha que dar errado.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Olha só quem parece animadinha hoje. – Hina bloqueava minha passagem pelo corredor. – O que aconteceu, Sakurako?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Teve um encontro falso com seu namorado de mentira? – A amiga de Hina provocava, seguida pelos risos das outras.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ignorei e tentei passar, mas Hina me empurrou contra a parede.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Pare de ser achar, sua sonsa! Inventa isso de um namorado perfeito e lindo por que não tem capacidade de arrumar namorado nenhum. Garotas como nós, lindas e ricas é que merecemos namorados como esse que você inventou.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O que está acontecendo? – A voz grave fez as quatro garotas se afastarem. Yuki vinha pelo outro lado do corredor.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">As três seguidoras de Hina baixaram a cabeça envergonhadas e ela própria falava baixo.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não foi nada, professor. Apenas dizia para Reiko-chan que ela não devia faltar à aula como pensava em fazer. – Hina era uma mentirosa perfeita e não fazia questão em disfarçar o quanto se sentia atraída pelo novo professor.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Senti os olhos de Yuki congelarem sobre mim e virei o rosto com pesar. Nem sempre é fácil se fazer de forte, e com ele ali eu provavelmente começaria a chorar.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Para a sala. Agora. – Sua voz veio quase ameaçadora. As quatro correram para dentro e eu continuei ainda imóvel. Quando Yuki falou comigo sua voz era mais calma. – Eu ouvi tudo. Respire fundo e vá para sala.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Concordei com a cabeça e em passos lentos entrei na sala de aula até meu lugar. Por todo este tempo, não falei em Yuki pois ele havia sumido. Agora eu poderia jogar na cara de Hina que o homem que ela tanto queria já era meu, mas... No fundo eu sabia que Hina jamais acreditaria em mim ou se acreditasse Yuki seria prejudicado por ser um professor com relação com uma aluna. Eu não podia fazer nada.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Durante o almoço não senti vontade de sair da sala, e tão pouco dei atenção à qualquer das aulas. Queria apenas desaparecer dali. No fim da tarde, quando todos já iam embora, vi Yuki cercado por Hina e suas seguidoras. Todos riam como se fossem os melhores amigos. Yuki entregou à Hina um envelope e as garotas logo saíram saltitando e dando gritinhos. Não sei porque, mas aquilo doeu em mim.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Na manhã seguinte parecia fazer mais frio que de costume, mas isso não impediu Yuki de aparecer com uma idéia boba vinda do nada. Com bastante esforço ele conseguiu me tirar da cama e me arrastar até a piscina municipal. Em Tokyo não temos praias de verdade, mas a piscina é fechada, cercada por areia e a água possui ondas. Resumido, uma mini-praia climatizada. Mesmo sendo inverno, lá dentro estaria um calor infernal.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Deixei Yuki na água e segui até o bar para comprar algo gelado. Voltava com dois copos de suco quando alguém me empurrou e atirou um dos copos ao chão.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ora, Reiko Sakurako... – Hina vestia um biquini mínimo, assim como as três ao seu redor. – Desculpe derrubar seu suco. Aposto que um deles era para o seu namorado imaginário.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Boa tarde. – Não precisei me virar para saber que Yuki estava parado atrás de mim.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">As quatros garotas logo começaram a se insinuar e falar de forma melosa diante da visão do tão amado professor sem camisa e completamente molhado.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Professor! Boa tarde. – Hina quase abraçava a si mesma tentando fazer seus seios parecerem maiores. – Se quando nos deu os ingressos para a piscina tivesse nos dito que também viria, nós teríamos lhe acompanhado para que não viesse sozinho.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não vim sozinho, senhorita Ayaka, mas agradeço sua preocupação. – Yuki logo chegou mais perto de mim. – O que houve com o suco?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Nada eu só... – Olhei com o canto dos olhos para Hina. – Tropecei.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Hum. Tudo bem, dividimos o outro. – Quando o braço de Yuki me envolveu pela cintura e ele se abaixou até alcançar o canudinho colorido no copo, Hina e suas amigas perderam o fôlego. – Algum problema?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Professor, não sei se deveria tratar com tanta gentileza uma de suas alunas. As pessoas poderiam interpretar de forma errada.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Yuki a encarou em silêncio por um breve instante. Seus olhos passaram pelas quatro meninas ainda surpresas com o fato do amado professor estar me abraçando por trás.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Você tem razão, mas não estamos na escola. Estou em meu dia de folga. Não vejo razão para não me divertir com minha namorada, não é? – Talvez só eu tenha notado a provocação em seu tom de voz e em suas palavras.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O que disse? Namorada?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Eu queria simplesmente começar a rir. Hina de repente ficou pálida e achei que ela iria desmaiar. Yuki tranqüilamente apoiou o queixo no topo de minha cabeça, dada nossa diferença de alturas, e com a maior calma do mundo respondeu à garota.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Sim. Minha namorada. Há três anos. – Ele se inclinou para falar comigo. – Nunca disse nada sobre mim na escola?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Até disse... – Não conseguia parar de olhar para as quatro garotas prontas para ter um infarto.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ah é! – Ele cortou minhas palavras. – Lembrei que eu não passo de um namorado imaginário. Não é isso, senhorita Ayaka?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Hina gaguejou sem saber o que dizer. Por anos ela me provocou e humilhou insinuando que meu namorado era uma mentira, e lá estávamos nós, todos juntos, e eu tendo o prazer de saber que ela estava se remoendo em uma inveja profunda. Sem mais o que dizer, Yuki me puxou para longe, ignorando a presença das outras quatro. Poucos momento depois percebemos que éramos observados e apenas por provocação Yuki me ofereceu um longo beijo. Imagino que o coração de Hina deve ter parado no mesmo instante.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Então era isso. Deu ingressos para elas virem até aqui hoje, e me trouxe para que elas vissem você comigo e descobrissem a verdade.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não sei do que está falando. – Yuki era assim. Sempre grosso e frio, mas igualmente preocupado e afetuoso. Um complexo enigma que apenas eu sabia decifrar.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">No mesmo dia passamos em minha casa. Juntei algumas poucas coisas e comecei a morar no apartamento de Yuki. Aos poucos traria todas as coisas e venderia meu antigo lar, mas isso pouco importava agora.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Eu estava deitada, pensativa, quando ele saiu do banheiro enrolado em uma toalha, logo procurando pelos cigarros.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O que foi?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Como vai ser agora, Yuki? Com certeza a Hina vai contar sobre nós para o diretor da escola. Você será demitido. – Minha preocupação é sincera.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ele deixou o cigarro de lado e caminhou até a cama, sentando-se ao meu lado. Seus dedos deslizaram pelo meu cabelo e seu raro sorriso estava ali.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Reiko, você se forma em um mês. Logo não será mais uma aluna minha. Não se preocupe com isso. – Ele desviou os olhos para a janela e seu sorriso aumentou. – Está nevando.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Yuki deslizou para baixo das cobertas e me puxou para seus braços. Por longos minutos trocamos beijos e carícias na noite fria.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Gosto da neve tanto quanto gosto do Yuki.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ele riu do trocadilho que há anos eu fazia para animá-lo e me senti bem.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Assim continuamos. Pelo mês seguinte não fui mais perturbada na escola, e pelo que sei o diretor nunca soube de meu envolvimento com o professor de inglês. Me formei e entrei para faculdade de História. Yuki continuou sendo professor na mesma escola, e nós dois continuamos morando juntos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">A neve pode ser fria, mas ela é sempre tão linda.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;"><br />
</span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 42pt;"><span style="font-family: Arial;">~ FIM ~</span></div>Sisáhttp://www.blogger.com/profile/09159579741334248551noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2324836472112788775.post-32016919428090869882012-02-08T00:07:00.004-02:002012-02-22T19:35:42.524-02:00O outro lado da história: Esperança!<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-D8NXfMiH5gA/T0VfpTUbrFI/AAAAAAAAAcQ/MIOFtjxvNpc/s1600/Blog-09.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-D8NXfMiH5gA/T0VfpTUbrFI/AAAAAAAAAcQ/MIOFtjxvNpc/s400/Blog-09.jpg" width="300" /></a></div><span style="font-family: Arial; text-align: justify; text-indent: 42pt;"><br />
</span><br />
<div style="text-align: left;"><span style="font-family: Arial; text-align: justify; text-indent: 42pt;">Naquela manhã todo o reino de Millus pode ouvir o trotar acelerado do cavalo negro. Muitos saíram de suas casas imaginando problemas nos portões, mas quando o cavaleiro sumiu na passagem das muralhas todos retornaram à suas vidas normais.</span></div></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Millus era um reino de porte médio, a vista de todos nas planices oeste do Novo Continente. Uma terra de pacifistas, mas que sabiam como defender seus ideais. Sua rainha há muito havia falecido, o que tornou o Rei um homem de pulso firme e pouca tolerância, um contraste marcante com a Princesa tão meiga e amável.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Quando um ancião trajando um manto marrom subiu a pequena colina à leste dos portões, pode ver o cavalo negro amarrado ao grande carvalho.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Bons ventos o trazem, cavaleiro. – Disse com ânimo sincero.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Conselheiro Heder! – O cavaleiro logo se sentou em respeito ao homem mais velho. <o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Heder era o melhor amigo do Rei, e por conseqüência assumiu o cargo de Conselheiro Real. Querido pelo povo de Millus, o sábio velho já havia visto e ouvido de tudo.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Fico alegre em vê-lo vivo, jovem Merluz. – Heder aproximou-se do cavalo negro e o acariciou lhe dando iguais boas vindas. – Peço sinceras desculpas por não participar da comemoração de seu retorno, mas estive ocupado. Quando voltou?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Andrew Merluz, um jovem que não vira mais que vinte e três invernos e ostentava aparência bela além de um coração nobre e ideais sonhadores. Seu pai fora o comandante do exército real, e hoje Andrew ocupava tal posto com bons motivos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Faz quatro dias. Dispenso seu pedido de desculpas, Conselheiro. Sei que seus afazeres não são poucos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O jovem calou, não sentindo muita vontade em conversar. Logo pela manhã sua conversa não havia sido amigável com a Princesa. Bom... não haviam tido conversas amigáveis desde seu retorno. Queria apenas pensar um pouco. Respeitava o sábio, mas agora procurava apenas a solidão.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Sua saída do castelo esta manhã foi ruidosa. Parece-me chateado, jovem Merluz. Gostaria de saber o porque. – Heder ostentava de forma integral o jeito de avô afável, o que fazia com que todos lhe desabafassem.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não agüento o comportamento de Salima. – O cavaleiro era alguém fechado demais, e mesmo quando se abria ao conselheiro, mantinha os olhos no horizonte. – Isso não é forma de me tratar.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Salima Millihataway, a Princesa de Millus. Uma jovem de boa aparência e longos cabelos escuros. Desde muito nova obrigada a assumir posturas e afazeres que deveriam ser de alguém muito mais velho. A moça encontrava uma fuga na companhia de Andrew, seu melhor amigo, seu cavaleiro, seu amor.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Explique melhor. – Pediu o Conselheiro.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Há semanas estou longe, lutando pelo reino. Uma sorte continuar vivo. Regresso sonhando com a ternura e sorrisos da mulher que amo, e encontro apenas um bloco de gelo que vê falhas em tudo o que faço ou digo. – Os dedos do cavaleiro bagunçaram o próprio cabelo e ele apertou os olhos. – Ela não devia me tratar desta forma. Vi coisas horríveis em batalha, companheiros mortos... Salima deveria me receber com uma amabilidade sem igual. Essa já não é a mulher por quem me apaixonei.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O silêncio reinou por alguns segundos que pareceram horas. O vento soprou na colina e a voz do Conselheiro veio ligeiramente menos gentil.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Nunca me pareceu um rapaz egoísta, jovem Merluz.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Que disse? – Andrew logo assumiu uma postura agressiva perante o ancião.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Compreendo todos seus motivos para desejar os braços da mulher amada a cuidar de seus ferimentos, mas você vê apenas as coisas pelo seu lado. Esteve longe de Millus por muito tempo, cavaleiro. Aqui aconteceram muitas coisas. Salima foi forçada a tomar decisões e demonstrar uma sabedoria muito além de sua idade. Isso mexe com as pessoas. Se busca alívio para os seus ferimentos, deveria também enxergar os dela.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Andrew refletiu sobre as palavras de Heder. Algo em seus olhos parecia mudar. O cavaleiro não estava mais irritado com as atitudes de sua Princesa, mas a mágoa pelos últimos dias iria durar ainda muito tempo.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O cavaleiro levantou-se em silêncio e começou a desfazer o nó que prendia a cela de seu cavalo à árvore.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Salima mudou. Já não há forma de trazer minha alegre e amável Princesa de volta. Apenas resta a Dama de Gelo e eu só lamento.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ora, não sabia que minha Princesa havia falecido. – O tom brincalhão voltava à voz de Heder, embora o assunto continuasse sério.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Do que está falando?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Você fala como se Salima estivesse morta e outra mulher houvesse tomado seu lugar. Você desiste da mulher que ama sem pensar no que ela passou em sua ausência nem em quantas noites ela esteve em claro olhando o horizonte à espera de seu retorno para ampará-la nas horas mais difíceis. – Heder cruzou os braços sob o manto e encarou o horizonte. – Situações inevitáveis da vida forçaram a Princesa a construir um muro impenetrável em torno de si mesma. Um muro que ninguém jamais conseguiria ultrapassar. Salima sofreu demais por toda a vida e esta foi à única forma que ela encontrou para evitar ser completamente destruída. Esta tática de auto-sobrevivencia não te lembra alguém, jovem Merluz?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O cavaleiro se calou diante da indireta. O Conselheiro sorriu com sua razão e continuou a falar.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Sua Princesa está dentro desta muralha, Cavaleiro. E a “Dama de Gelo” é apenas a sentinela dos portões. Salima, como a conhecíamos, não deixou de existir. Ela apenas está perdida dentro de si mesma. Se a considerar morta e aceitarmos esta Dama de Gelo, então ela estará mesmo morta. “Não há forma de trazer minha Princesa de volta”. Há, jovem Merluz, mas você terá de se esforçar, escalar a muralha, ou talvez quebrá-la por inteiro, arrumar uma forma de resgatar a Salima que está perdida ali.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não sei se posso... – Andrew sussurrava com os olhos confusos.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Se justo você, o Cavaleiro Negro de Millus, desiste de procurar a Princesa dentro dela mesma... Então é o Reino quem lamenta.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Heder esboçou um triste sorriso e deu as costas ao cavaleiro, começando a caminhar rumo aos portões de Millus. A voz de Andrew o fez parar.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O que devo fazer?<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Salima não morreu, jovem Merluz. Não desista dela. – O Conselheiro sorria com gentileza. – Se ela mudou em sua ausência, sua presença a mudará novamente. Tenha esperança, cavaleiro.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Quando o Conselheiro voltou a caminhar, Andrew não o deteve. Começava a entender as palavras do ancião. A princesa era a mesma, apenas de uma forma diferente, e não uma outra pessoa. Se Salima se fechou do mundo com medo de cair, ele venceria as defesas daquela muralha de gelo e diria para sua alegre Princesa que ela nada teria a temer com ele ali.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Andrew jurou, anos antes, durante sua ordenação, que como Cavaleiro Real, faria tudo o que fosse possível pela segurança da família real, e jurou em segredo para sua Princesa, que faria ainda mais para manter o precioso sorriso da mulher amada.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O cavaleiro montou no cavalo negro e correu para o castelo. Havia muito trabalho a ser feito. Ele sabia que nos primeiros dias desta sua nova missão pessoal, a Princesa seria fria e rude, mas pouco a pouco... Bloco após bloco... Ele cruzaria a muralha e chegaria à mulher de sua vida.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Se aquela não era Salima, ele a traria de volta. Aprendeu isso na guerra, mas aplicaria no amor: Mesmo ferido, não abandone seus ideais, lute. Sempre siga em frente, pois mesmo que o mundo caia em trevas, a esperança estará brilhando.<o:p></o:p></span></div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 42.0pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;"><span style="font-family: Arial;">~ FIM ~<o:p></o:p></span></div>Sisáhttp://www.blogger.com/profile/09159579741334248551noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2324836472112788775.post-5305539628638635422011-11-07T18:16:00.003-02:002012-02-22T19:07:56.535-02:00Regresso ao Inferno<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-1vN-lH1Sy8U/T0VZI2ReacI/AAAAAAAAAcI/kf26xjnC1tU/s1600/Blog-08.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-1vN-lH1Sy8U/T0VZI2ReacI/AAAAAAAAAcI/kf26xjnC1tU/s400/Blog-08.jpg" width="300" /></a></div><br />
O toque insistente do celular me acordou. Sentei na cama, assustada, suando e ofegando. Pesadelos estranhos me atormentavam vez ou outra. Desta vez podia ver uma fila infinita de pessoas esperando para serem incineradas. Levei alguns segundos para ter certeza de que fora apenas um sonho. O celular continuava a tocar e sem olhar para o aparelho, atendi.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Hale. – Minha voz saiu fraca pelo sono.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Não me diga que ainda estava dormindo! – Veio clara e alta a voz de meu parceiro pelo aparelho. – Olha o relógio, Madison.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Atendendo as palavras de Sam virei a cabeça para o despertador que mostrava claramente meu atraso.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Droga! Droga! Droga! – Saí quase rolando pelo chão do quarto, me enroscando com as cobertas e procurando uma toalha para o banho.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Com minha perfeita hora inteira de atraso, estava certa de ouvir outra bronca e talvez uma suspensão. Quando parei o carro no Departamento de Homicídios de Seattle, Sam já estava bem ao lado, abrindo minha porta.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Estou curioso, o que faria se eu não tivesse ligado para o seu celular? – Era difícil ver Sam alterado mesmo nas piores situações. Gostava disso nele. – Vamos. Feider está nos esperando.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Harison Feider, nosso superior e um velho cuja esposa o trocou por um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">playboy</i>. Toda vez que o via, em minha mente aparecia a figura do Senhor Burnes no desenho dos Simpsons.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Walker. Hale. Estão atrasados. – Feider nem ao menos tirava os olhos da tela de seu computador quando cruzamos a porta de sua sala. – Talvez devesse mandá-los em uma pesquisa sobre a história dos despertadores para ver se aprendem como eles funcionam.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Desculpe o atraso, senhor. Tive problemas com o carro essa manhã e pedi para a Hale me buscar. – Sam enfiou as mãos no bolso do jeans sem dar muita importância para a reprovação de Feider. – Culpa minha.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Continuei quieta. Era sempre assim. Eu sempre fazendo minhas burradas e Sam sempre me defendendo. Queria me esconder nessas horas.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Não lhe perguntei coisa alguma, Walker. – O velho jogou uma pasta sobre a mesa, continuando a olhar sua tela. – Vão trabalhar. Quero os dois no local em vinte minutos.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Peguei a pasta e a abri, lendo a linha que indicava o local daquele crime. Suspirei. Feider definitivamente estava tentando dificultar as coisas para nós. Porcaria de hierarquia policial.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Isto é do outro lado de Seattle. Levaremos mais de vinte minutos. – Tentei argumentar, mesmo sabendo que nada conseguiria.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Alguns segundos se passaram até que Feider recostasse na cadeira de sua sala proporcionando o característico rangido de uma velha cadeira reclinável.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Ainda estão aqui?</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Senti vontade de dar-lhe uma bela resposta, mas Sam já estava segurando meu braço e deixando a sala para trás. No caminho até o carro analisávamos o que estivesse naqueles papéis.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- O que temos? – Perguntei, dando a pasta para Sam. Ele folheou alguns poucos papéis. Sua expressão variando por inúmeras emoções ao mesmo tempo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Jeniffer Geller. 25 anos. Encontrada morta no jardim da própria casa por volta das 5:20 desta manhã. – Sam fechou a pasta. – Por enquanto é tudo o que temos.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Entramos em meu carro para manter a história de que Sam havia tido problemas com o dele. Como previ, levamos quase quarenta minutos para chegar até o endereço de Jeniffer Geller. Assim que parei o carro, Sam abriu a porta e saiu, ficando apoiado no carro por alguns segundos, respirando fundo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Chegamos rápido. – Falei, observando os policiais e peritos irem e virem do interior da casa.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Da próxima vez eu dirijo. Melhor chegar tarde do que correr risco de morte.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Ignorei o exagero por parte de meu parceiro e segui o mesmo caminho que o resto dos policiais. Um lençol branco cobria um corpo no jardim e dois legistas analisavam o que estava por baixo. Foi diretamente para eles que me dirigi, já mostrando o distintivo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- O que houve? – Perguntei sem demora.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Não sabemos bem como relatar isso... – Um deles dizia, erguendo a parte do lençol que cobria o rosto da mulher.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Sorte não ter tomado café da manhã. Seu rosto parecia congelado naquela expressão de dor e havia dois buracos fundos e negros onde deveriam estar seus olhos.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Os olhos dela foram arrancados? – Sam chegava ao meu lado, também avaliando a cena.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Queríamos que fosse fácil assim. – O segundo legista parecia incomodado com a situação. – A melhor forma de dizer isso é que os olhos dela foram carbonizados.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- E qual é a dificuldade? – Meus olhos estavam focados nos buracos enegrecidos, como se algo ali estivesse me atraindo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Isso aconteceu de dentro para fora. – Foi tudo que o legista disse antes de se calar.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- O cérebro dela derreteu. – Diante de nossas expressões de incredulidade ele logo se defendeu. – Eu sei. Isso é impossível. Mas é o que aconteceu.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Pelo resto daquele dia ficamos na casa, recolhendo possíveis pistas, falando com vizinhos, analisando o corpo. Já era o fim da tarde quando enfim pudemos ir embora daquele lugar. Jeniffer, pelo que vimos em sua casa, não tinha problemas médicos nem financeiros, se dava bem com os vizinhos e com a família, não tinha namorado. Nada justificava sua morte, muito menos de forma tão anormal.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Sam já estava no carro quando assumi o volante. Seu olhar estava atento a algo um pouco distante e parecia curioso demais com seja lá o que fosse.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- O que foi? – Questionei.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Quem é aquele homem? – Meu parceiro apontou na direção da faixa amarela que fechava a cena do crime. – Ele esteve exatamente naquele lugar o tempo inteiro. Horas e horas.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Só então reparei no homem alto e magro parado ali. Ele mantinha as mãos nos bolsos de uma calça preta, vestia uma camisa social azul escura e o cabelo era completamente negro. Nada assustador em sua aparência, mas de fato ele não se mexia, e isso era perturbador. Sem darmos mais atenção ao estranho, fomos embora.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Já achávamos o caso de Jeniffer algo impossível de se resolver, mas as coisas só ficaram mais confusas a cada dia. Dois dias depois daquilo fomos chamados ao museu de bonecas de Seattle, onde uma das Guias do local parecia ter sido atacada por um animal feroz. Uma mordida enorme quase transpassava toda sua garganta.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Vistoriamos o museu. Nada fora do lugar, nenhum sinal de luta ou de que ela tivesse tentado fugir. Era como se Rachel Jones houvesse se sentado e oferecido seu pescoço para um tigre.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Pelas quatro semanas que se seguiram, vimos do mais estranho ao impossível. As notícias sobre as mortes se espalhavam na mídia e as pessoas começavam a temer o assassino. Mais três só naquele mês.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Danielle Smith, cozida na piscina da própria casa após a água simplesmente ferver. Sarah Parker, teve o coração arrancado pelas costas. Anne Miller, aberta do umbigo até a garganta, sem coração, fígado e pulmões.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">O terror já era absoluto por Seattle. Sam e eu passamos quase o tempo inteiro no Departamento. Analisando o quadro branco onde estavam dispostas, as fotos das vítimas e pequenas anotações.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Foi ele. Tem que ter sido ele. – Sam havia circulado o homem alto de cabelos negros nas fotos de todos os crimes.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Pode até ter sido. – Eu não estava assim tão certa. – Ou não. Por que ele voltaria aos locais dos crimes? Seria arriscado demais.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Olha o que ele fez com essas garotas, Mad. – Meu parceiro apontava para cada uma das garotas nas fotos. – Ele não pode ter a cabeça no lugar. Ele não pensa nos riscos.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Certo, Sammy. Certo. Mas como ele conseguiu fazer metade disso? A maioria desses crimes aconteceu de uma forma inumana. – Levantei de minha cadeira e fui até a porta. – Vou buscar um café e algo para comer. Trarei para você também.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Sam não respondeu e não esperei resposta. Apenas saí. Estava cansada daquele caso. Queria resolvê-lo logo, prender o maníaco que fazia isso e dar paz para as mulheres de Seattle e também para mim. Perdoem o egoísmo, mas eu queria dormir!</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Levei algum tempo para voltar. O café estava lotado apesar da hora, e dirigi devagar. Tentava apenas esfriar um pouco a cabeça antes de voltar para aquela sala fechada cheia de fotos de cadáveres mutilados.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Assim que voltei deixei um saco de papel com bolinhos e café ao lado da porta, voltando a analisar o quadro de evidencias.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Algum avanço? – Perguntei.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Nada. Nem ao menos consigo ligar um crime à outro. – Sam respirou fundo e esfregou os olhos. – Preferimos acreditar que seja um assassino em série do que uma gangue de assassinos.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">O som do saco de papel sendo aberto chamou nossa atenção. Imediatamente me virei para a porta e Sam ficou em pé. O homem alto que aparecia nas fotos estava calmamente sentado comendo um dos bolinhos.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Sabe, essa comida é realmente boa. – Disse ele, como se fosse perfeitamente normal invadir o departamento de homicídios para comer bolinhos.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Como entrou aqui? – Estava assustada. – Tranquei a porta principal quando entrei. Quem é você?</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Estava com a mão na cintura, pronta para puxar minha arma se necessário. Sam fazia o mesmo. O invasor parecia nos ignorar e continuava a comer.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Como entrou aqui? – Sam agora estava impaciente, algo raro de acontecer. – Você matou aquelas mulheres. Como?</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Aquele homem continuou sentado onde estava, calmo com o nervosismo de nossa parte. Sam queria respostas e as teria, mesmo que a força.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Responda ou atiro em você!</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Atire se quiser. – Disse ele, abrindo os braços e se expondo à mira da arma. – Não acontecerá nada.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Você é louco. – Sussurrei diante da idéia de que um tiro direto não faria nada em alguém.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Ele continuava sentado quando puxou uma faca e nos fez ainda mais alerta aos seus movimentos. A lâmina deslizou pelo próprio braço gerando um corte fundo e longo que, para o nosso choque, começou a cicatrizar em uma velocidade enorme.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- O que é você? – Sussurrei.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Um demônio. – Ele foi direto. Levantou-se e começou a analisar o quadro branco onde estavam as fotos e anotações. – Olha, vamos pular a parte em que vocês defendem a teoria de que só existem humanos neste mundo. Demônios existem. Bruxas. Vampiros. Metamorfos. Tudo isso.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- São histórias inventadas. – Falei. – Nada disso é real.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Certo. Como se os humanos tivessem a capacidade de criar criaturas como nós. – Quando ele olhou em minha direção seus olhos mudaram de negro para vermelho vivo, me fazendo recuar. – Vamos ao que interessa. Estas mortes.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Você fez isso. – Sam acusou sem medo. – Qual é o seu nome?</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">O demônio pareceu sumir no ar até ressurgir ao lado de Sam passando o braço por seus ombros.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Você quer saber sobre mim ou sobre as mortes? – Antes que Sam pudesse responder o demônio continuou. – Pois bem. Contarei minha história.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Novamente ele sumiu antes de reaparecer na mesma cadeira de antes. O invasor se recostou na cadeira e cruzou os braços começando a falar sobre si mesmo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Meu nome é Beliel. Sou o filho do Rei do Inferno.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Beliel? – Sam segurou o riso.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Você é filho de Lúcifer? – Estava chocada.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Fala sério... – Beliel parecia olhar para mim com certa surpresa. – Por onde começar? Lúcifer não é o Rei do Inferno, ele apenas coordena as coisas por lá. Lúcifer é como um gerente e meu pai o dono. Compreendem?</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Não muito... – Fui sincera.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Entendo. Os humanos distorceram muitas (ou todas) as coisas que deveriam saber sobre o lado sobrenatural de suas existências. Continuando... – Beliel pensou um pouco, respirou fundo e voltou a falar. – Sou o filho mais velho e tenho uma irmã mais nova. Há alguns anos houve uma rebelião no Inferno e para protegê-la nosso pai a arrastou para o mundo dos humanos.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Protegê-la? – Sam intervinha no relato do demônio. – Não sabia que demônios se importavam uns com os outros.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Não entenda errado. Tenho metade do poder de meu pai, e minha irmã a outra metade. Se ela acabasse morta, eu seria um alvo fácil. – Beliel voltou para perto dos bolinhos, pegando o terceiro e começando a comê-lo. – Se isso acontecesse, Lúcifer poderia tomar o poder do Inferno. Meu pai não queria isso. Assim mantemos as coisas em família. Os humanos chamam isso de Monarquia, acho.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Isso parece ter muitas regras. Sempre achei que o Inferno fosse só uma bagunça quente. – Meu parceiro sentou-se mas não tirou a mão da arma. – O que mais tem por lá? Parlamento?</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Podemos discutir milênios da política do Inferno quando quiser, Sammy. – Beliel estava completamente relaxado. Era como se todos fossemos velhos amigos. Ele mastigou mais um pedaço do bolinho e apontou para o quadro branco. – Porém, vim por causa disso. É um ótimo trabalho.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Seu trabalho. – Acusei.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Oh. Não, não. – Mordeu mais um pedaço do doce e falava com a boca cheia. – Isso é trabalho de um profissional, mas não meu. Vim parabenizar você.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- O que? – Minha voz saiu mais alta do que gostaria. – Pare de dizer bobagens! Lógico que não matei ninguém.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Beliel riu, realmente se divertindo com minha reação. Ele largou o papel do bolinho sobre a mesa e levantou-se.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Você não se lembra? – Ele se aproximou de mim e Sam o colocou na mira da arma. – Foi tudo você. Cada uma destas mortes.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Beliel estava agora muito mais perto, apoiando ambas as mãos em meus ombros. Não conseguia me mover. Tudo o que ele dizia era mentira, mas uma voz dentro de mim parecia pedir que eu acreditasse. A voz de Sam estava longe, pedindo que o demônio se afastasse de mim. O som extremamente alto de um tiro disparado em uma sala fechada me trouxe de volta. Baixei os olhos para a mancha de sangue que se formava na lateral da camisa do demônio.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- O que eu deveria dizer agora? Ai? – Beliel havia me soltado se mantendo perto. Respirava fundo e puxava o projétil para fora no furo entre as próprias costelas. Jogou o pedaço de ferro distorcido sobre a mesa na frente de Sam. – Isso é seu. Agora vai largar essa droga de arma?</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Eu estava em choque. Sam vacilou e a arma caiu no chão o deixando de guarda baixa. O demônio foi até a mesa e pegou um marcador, voltando ao quadro.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Vamos brincar. – Beliel desenhou seis traços horizontais e um grande vertical. Um infantil jogo de forca. Preencheu o primeiro traço com a letra A e o último com a letra S por fim estendendo o marcador em minha direção. – Complete isso para mim.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Hesitante peguei o marcador e fiquei observando os espaços vazios. Por que eu fazia o que Beliel pedia? Não tinha como saber o que ele esperava que estivesse escrito ali.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Madison... – Ouvi a voz de Sam atrás de mim, preocupada e baixa.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Havia outra voz. Dentro de minha mente era como se alguém falasse comigo. Soletrasse. Estiquei a mão e preenchi os espaços com as letras que me vinham ao pensamento. G. A. R. E. Soltei o marcador no chão e dei dois passos para trás.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Perfeito. – Beliel sorria.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- O que? O que é perfeito? O que é isto? – Começava a me sentir assustada por ter preenchido aquilo com as letras que o demônio esperava.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Agares. – Sam leu e por algum motivo me virei para ele. Da mesma forma que alguém se vira ao ouvir o próprio nome ser chamado.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Por um breve instante vi os olhos de Sam se arregalarem e não tive tempo de me virar e desviar da faca que Beliel cravava em meu estomago. Senti dor. Sangue manchava minhas mãos e escorria por minha boca. Começava a ter frio. Meu corpo caiu para trás. Estava morrendo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Com a visão turva podia ver Sam correndo para perto e Beliel apenas parado observando. Já não conseguia distinguir sons. Fechei os olhos e me deixei levar. O demônio havia me matado e Sam seria o próximo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Não sei por quanto tempo estive daquela forma até que a faca fosse retirada de meu estomago. Pouco a pouco os sons voltavam ao volume normal. Como isso podia acontecer? Algo estava errado em mim. Não me sentia eu mesma.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Levante-se. – A voz de Beliel veio imperativa.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Abri os olhos e a luminária incomodou minha visão. Claro demais. Respirei fundo e fiquei sentada. Meus dedos tateavam a ferida ainda aberta que começava a fechar. Olhei para Sam e tudo o que encontrei foi surpresa, choque e medo em seus olhos. Meu parceiro tremia. Esbocei um leve sorriso ficando em pé.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- A próxima vez que me esfaquear eu degolo você. – Minha voz soou baixa e estranha aos meus ouvidos. As palavras também eram diferentes.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Sammy... – Beliel falava alto com certa empolgação. – Conheça minha irmã mais nova, a Princesa do Inferno, Agares!</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Ma... Madison... – Ele gaguejou se colando à parede mais afastada o possível. – O que aconteceu com seus olhos? Estão vermelhos. Como você se levantou?</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Por alguns segundos apenas observei o humano assustado. Uma minúscula parte de mim se doía por ele, mas a parte dominante não se importava muito. Sorri, aproveitando o medo e a confusão que emanavam de Sam.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Nunca gostei desse nome, sabia? Madison. – Ri ao som do nome. – Oh, Sammy. Relaxe. Se tivesse a vontade de matar você, teria feito isso anos antes. Agora... Beliel é uma outra história.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Meu irmão cruzou os braços oferecendo um olhar superior. Ignorei sua expressão de ameaça e aproveitei o conforto da cadeira mais próxima a mim. Enrolava uma mecha de cabelo nos dedos enquanto analisava as fotos no quadro.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Tive que mutilar humanos para que você viesse atrás de mim? Está perdendo o jeito, irmão. – Um riso sádico escapou por minha garganta.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Apagamos sua memória e bloqueamos seus poderes. Jamais achei que houvesse preocupações.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Beliel estava perdendo a paciência muito rápido e eu estava adorando isso. É da natureza dos demônios sermos dissimulados e irônicos. Alguns de nós tentam viver entre os humanos como se fossem um deles, mas a maioria via a vida humana como almoço. Eu via com indiferença.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- O que vocês conseguiram foi me arrumar uma dupla-personalidade, seu imbecil. – Levantei de onde estava e me aproximei de meu irmão. Beliel era uma ameaça para qualquer outro Ser no Inferno ou na Terra, mas para mim era um reflexo masculino. – Tem idéia do que é passar duas décadas enterrada no fundo de uma mente que acredita ser humana? Queria vomitar a cada refeição humana. Queria comer a cada cena de crime. Queria retalhar a cada repreensão do <i>chefe de polícia. </i></div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Como se manifestou? – Beliel não estava nem um pouco interessado no porque, apenas queria saber como.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Levei anos cavando a parede mental que bloqueava a minha existência. Ainda sim estava fraca para voltar ao Inferno. – Dei as costas para meu irmão e fui até o quadro branco, arrancando fotos e atirando pelos ares. – Tive de caçar como uma Besta para conseguir a atenção do Príncipe.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Foi mesmo você... – A voz de Sam veio fraca e distorcida. Já havia até esquecido-me do humano.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Ora, Samuel. Nunca existiu a doce e ingênua Madison. Era apenas um papel que eu estava sendo forçada a interpretar todo maldito dia. – Minha raiva aumentava e isso era perigoso. – Não importa o quanto de compaixão que eles dêem... Humanos ainda não valem nada.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Como... Como as matou? – Ele tremia.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Não vejo necessidade desta pergunta. Os legistas já lhe deram tudo. – Cruzei os braços, arqueando uma das sobrancelhas. – Fritei o cérebro de Jennifer e seus olhos. Rachel foi um lanche apenas. Estava com fome. Danielle... Apenas esquentei um pouco a piscina. Arranquei o coração de Sarah. Anne foi meu jantar naquele dia. Seu coração e fígado estavam ótimos, mas tive que desistir dos pulmões. Ela era fumante, sabe? </div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Impossível conter o riso que veio logo após a piada macabra. Sam, por outro lado, ficava mais pálido a cada morte que eu lembrava. Não foi surpresa quando ele desmaiou atrás da mesa.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Humanos... – Suspirei. – Bem, por que não veio atrás de mim antes? Sabia o que eu estava fazendo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Meu irmão calmamente se sentou e revirou o saco de bolinhos, reclamando por não encontrar mais nenhum. Recostou na cadeira e cruzou os braços.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Você sabe muito bem que mortes violentas sempre jogam as almas no Inferno. – Beliel jogou as mãos para cima. – Por que eu pararia sua caçada se o Inferno estava lucrando com isso?</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Mas parou agora.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Beliel estalou os dedos e sorriu em uma demonstração sem palavras de que eu estava certa em algo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Apenas me fiz presente, irmãzinha. Se quiser continuar com sua caçada... Fique a vontade. O Inferno agradece. Quanto mais almas tivermos por lá, mais divertido será torturá-las. – Meu irmão destampou um dos copos de café e bebeu um gole. – Por que os humanos bebem isso? É horrível.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Não mude de assunto, Beliel. Se estava satisfeito com minha matança não teria porque vir até mim. Podia apenas ter fingido não saber. – Conhecia meu irmão o suficiente para saber que tinha algo por trás disto. Não prezamos a ideologia de laços familiares e <i>sangue do meu sangue. </i>Beliel já teria me matado se não precisasse de mim, e eu com certeza faria o mesmo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Para um demônio só importa a própria vida. Humanos não passam de distração e comida, e outros demônios são apenas cartas dispensáveis em um baralho velho. Para um demônio a única coisa que tem valor, é a própria vida.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Você precisa voltar para o Inferno. – Ri diante da confirmação de meus pensamentos. Beliel continuou. – Lúcifer está tentando dominar o Inferno. Sem você lá, tenho apenas metade do meu poder. Não estou muito a fim de deixar meu império de morte e agonia nas mãos de um anjo caído.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Olhei em volta por alguns segundos. Estava entediada. O mundo dos humanos era uma droga onde as pessoas agiam com falsidade e sorrisos forçados para agradar outras pessoas que faziam exatamente o mesmo.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Saia e traga uma mulher com minha altura e meu tipo físico. – Foi tudo o que disse.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Beliel tinha milênios de experiência em saber que não adiantava discutir comigo ou perguntar os porquês de meus planos. Em um segundo meu irmão estava ali, no outro já havia desaparecido.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Com poucos minutos meu irmão estava de volta com uma mulher magra de longos cabelos castanhos. Beliel quebrou o pescoço da jovem para que morresse, o que provava que ele já fazia alguma idéia de meus planos.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Pedi que carregasse Sam para fora, afinal, mesmo que o humano não tivesse grande valor, era fato que durante anos ele protegeu minha vida como humana. Contra vontade Beliel o arrastou pelos corredores.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Mais uma vez corri os olhos pelos inúmeros documentos, fotos e provas do caso que eu mesma havia iniciado e investigava sem lembrar de nada. Abaixei ao lado da garota morta e meus dedos tocaram seu cabelo que logo se incendiou. O fogo correu de forma anormal tomando todo o corpo da jovem. Assisti ela ser lentamente carbonizada.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Caminhei pela sala tocando papéis e pastas. Por onde meus dedos passavam o fogo começava. O fogo fazia parte de mim. Assim como o Inferno queima, os Príncipes dominam as chamas. Não sentia o calor, mas em poucos minutos toda aquela sala estava em chamas. Fui para os corredores, outras salas, recepção, sala de espera... Cada cômodo do Departamento de Homicídios de Seattle recebeu meu toque. Quando cheguei até a porta da frente, todo o prédio ardia e estalava com o fogo. Vidros estouravam com a pressão e vigas de madeira do teto cediam partes do concreto.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Do lado de fora, Beliel havia largado Sam no chão e assistia ao incêndio de braços cruzados. Peguei o celular e disquei o número de emergência passando o aparelho para meu irmão. Beliel fingiu uma tosse perfeita e um desespero teatral ao informar que era funcionário do Departamento e que o prédio estava em chamas.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Nos afastamos um pouco do local, apenas o suficiente para não sermos vistos mas vigiarmos a movimentação. Quando os bombeiros e a polícia chegaram, Sam começava a acordar e ficava desnorteado com a bagunça. Médicos e enfermeiros corriam até ele prendendo ao seu rosto a máscara de oxigênio. Faziam perguntas que eles mesmos respondiam. “O senhor ligou para a emergência? Claro que foi. Fique calmo.”</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Sam foi colocado em uma ambulância afastada do incêndio. Os bombeiros combatiam as chamas com todas as forças, mas algo sobrenatural parecia mantê-las constante. Difícil disfarçar meu sorriso de orgulho. Assim que os médicos se afastaram de Sam, nós nos aproximamos.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Samuel. – Ele abriu os olhos e se encolheu. Continuei sem dar importância. – Estamos quites. Por vários anos você cuidou de meu lado humano, e agora poupei sua vida no incêndio. Porém, entenda bem o que vou dizer. Encontrarão um corpo dentro do prédio. Dada a carbonização quase total, será impossível fazer testes que identifiquem o corpo. Você dirá que sou eu, e que não sabe como o incêndio começou.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">O humano mantinha os olhos arregalados e balançava a cabeça em confirmação a cada frase minha. Acredito que Sam concordasse com tudo que me tirasse de perto dele, nessa altura da situação.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Nunca, por nenhum motivo, conte sobre quem nós somos e de onde viemos. – Meus olhos reluziram o vermelho vivo assim como os de Beliel, ameaçadores. – Do contrário, sua vida acabará e sua alma será levada ao Inferno. Eu mesma virei arrancar seus órgãos caso descumpra esta ordem.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Aproveite bem essa chance, Sammy. – A voz de Beliel era um sussurro arrepiante.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">- Adeus, Samuel Walker.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Dei as costas ao humano. Aquela minúscula parte em minha mente chorava, mas foi extremamente fácil bloqueá-la. Isso destruiu qualquer fragmento de humanidade que ainda estivesse em minha mente. Nos afastamos poucos passos, e mais alguns passos depois já não havia mais sinal de nossa presença.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Com o passar dos dias Seattle voltou ao ritmo normal. Mais nenhuma morte como aquelas aconteceu, e a população deixou de pensar nisto. Na polícia, lamentavam a trágica morte de uma Investigadora tão competente. Os restos carbonizados da garota sem nome foram colocados sob a lápide de Madison Hale no cemitério local.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">O incêndio no Departamento de Homicídios destruiu os documentos e provas de uma centena de casos ainda não resolvidos. Para mim isso pouco importava. Assassinos e ladrões continuariam soltos, matando e jogando almas ao Inferno.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">O mundo dos humanos ficou para trás e agora o Inferno voltava a ser meu lar. O começo foi difícil, muitos duvidavam do regresso da Princesa, mas com o tempo minha presença se tornou evidente. Com a permanência de ambos os Príncipes, Lúcifer parecia desistir do plano suicida de dominar nosso império, e continuava sendo apenas o gerente. Beliel era o responsável por punir os demônios que descumpriam as ordens de Lúcifer, e eu a responsável por vigiar as torturas eternas dos humanos condenados ao Inferno. Poucos dias deste trabalho foram o suficiente para apagar definitivamente Madison Hale de minha alma. Agora era apenas Agares, a Princesa do Inferno.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Jamais voltei ao mundo dos humanos e nem senti vontade de fazer isto. Um mundo deplorável de pessoas falsas que acreditam acima de tudo que são as criaturas mais importantes e mais capazes do universo. Nojento. O que aconteceu com Sam? Ora, por que eu deveria saber? Se não dou qualquer valor para a raça humana, que dirá um único humano descartável. Se com o passar dos anos ele veio a morrer, não caiu nos campos do Inferno, infelizmente.</div><div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;">Os humanos acreditam cegamente que uma boa ação poderá apagar uma vida de pecados, e ignoram a perfeita chance de pagar eternamente por um erro. Você acredita no que vê, ou vê apenas o que acredita? Nada garante que a verdade seja só aquilo que você consegue ver. Não viva crendo que apesar de tudo o que fizer, um Deus misericordioso com certeza perdoará sua alma. Lembre-se que nós também estamos esperando. Se o Bem vale uma vida, o Mal também vale uma vida. Isso faz parte vida... Ou da morte... Ou de nossa própria existência. Para que ter pressa se o destino inevitável é uma caminhada para a morte? Faça valer a pena. Siga com calma e aproveite seus dias, afinal, qualquer coisa... Qualquer um... Qualquer lugar... Um dia termina.</div><div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;">- FIM -</div>Sisáhttp://www.blogger.com/profile/09159579741334248551noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2324836472112788775.post-78794723642987106952011-11-07T18:11:00.001-02:002012-02-22T18:54:38.216-02:00Infiltrado<div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-Ak0b7raN1Ag/T0VWA_F8VOI/AAAAAAAAAb4/T-g72SgyytU/s1600/Blog-07.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-Ak0b7raN1Ag/T0VWA_F8VOI/AAAAAAAAAb4/T-g72SgyytU/s400/Blog-07.jpg" width="300" /></a></div><span style="font-size: 12pt;"><br />
</span><br />
<span style="font-size: 12pt;">Lá estava eu, em minha cama, deitado no escuro, olhando o ventilador girar preguiçoso no teto. Uma carta simples estava jogada no chão, ao lado da cama. Nela poucas palavras, mas que agora começavam a me irritar. “Eu te perdôo”.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Meus pais morreram quando eu tinha 5 anos, depois morei com meu irmão mais velho na casa de uma tia em Campinas. Quatorze anos depois meu irmão estava casado e morando em outra cidade. Nossa tia havia falecido pela idade e eu me virava sozinho em um apartamento no centro de São Paulo.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Aos meus 23 anos tinha uma vida normal. Havia me formado em Direito em uma universidade de renome há cerca de onze meses, mas desde os 16 anos atuava na Força Tarefa de Infiltrados da Policia. Não tinha um grande salário, mas podia me manter em um apartamento médio sem grandes gastos. O que jamais entendi foi o fato de ser um péssimo exemplo incorrigível e ainda assim as pessoas se atraírem para perto de mim. Considero isso uma grande idiotice.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- Idiota... – Minha voz sussurrada pareceu alta no silêncio do quarto escuro. Aquela carta estava penetrando como uma bala as muralhas que eu passei a vida construindo em torno de mim mesmo. Eu não gostava de ninguém <i>do lado de dentro. </i></span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Fechei os olhos e suspirei, levando minha mente para dois meses antes. Para as lembranças às quais aquela carta se referia, de uma forma irritante e subliminar.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">O carro preto parou a um quarteirão de distância. De lá podíamos ver as pessoas que entravam e saíam do Castelinho. Hoje o lugar era dominado por grupos góticos de viciados em drogas que se sentiam atraídos pela atmosfera bizarra. A porta do motorista se abriu e um par de belas pernas se projetou para fora. Do lado do passageiro, minhas pernas envoltas no jeans escuro.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- Tem certeza disso? – Questionou a voz feminina e suave de minha superiora. </span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">A fumaça vinda de meus lábios rodopiou. Eu não tinha nada para dizer. Meus dedos atiraram o cigarro ao chão e meu tênis cuidou de apagar a brasa. Enfiei as mãos nos bolsos e comecei a andar na direção de minha nova missão.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- Kauê! – Ela chamou. Eu parei de andar, apenas esperando que ela continuasse suas palavras. - Não faça amigos aqui. Se confiar demais pode por em risco a operação. – Sua preocupação com a minha vida era notável, se me permite o sarcasmo.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Virei apenas o rosto, olhando-a por sobre o ombro. Diziam que meus olhos eram frios e ameaçadores e eu até gostava da classificação. </span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- Eu não confio em nada que seja capaz de pensar. – Ignorei qualquer outra palavra de minha superiora. Odiava ser subestimado daquela forma. Voltei a andar até desaparecer entre as pessoas no Castelinho.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Enquanto eu caminhava para a entrada, repassava os fatos de meu novo caso. Alguém estava chefiando uma rede de tráfico de drogas naquele lugar. Era o que tínhamos, mas eu suspeitava de contrabando de armas ou qualquer coisa a mais. Tinha experiência o suficiente para saber que um crime nunca vem sozinho.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Adentrei o Castelinho já sabendo o que esperar e nada ali me chocou. Nem a escuridão dos cantos. Nem o centro iluminado por luzes vermelhas. Nem os corpos largados pelo chão ou dançando sem qualquer ritmo na música alta. Um garoto que não teria mais de 15 anos me ofereceu um cigarro de maconha. Disse que aceitava e assim que ele se afastou eu troquei a droga por um de meus próprios cigarros. Não que a nicotina fosse benéfica, isso eu bem sabia (e meu pulmão também), mas ao menos mantinha a minha consciência onde deveria estar.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Andei pelo lugar, tentando não chamar a atenção. Escolhi um canto mais vazio e deixei meu corpo cair, fazendo crer que eu estava fora de meu equilíbrio normal. Deixei os joelhos dobrados, apoiando os braços neles. Pendi a cabeça para trás até encontrar a parede e fiquei observando. Não demorou mais que dez minutos para uma garota surgir do nada e começar a se esfregar em mim como um cão no cio. Era magra, bem mais baixa que eu, seu cabelos eram ruivos e compridos, provavelmente tingidos até aquele tom de sangue. Eu não via seus olhos, mas suas curvas chamavam atenção. </span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- Que merda está fazendo? – Falei com rispidez ao afastar a garota.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- Você parece sozinho. – Respondeu a ruiva com uma voz rouca, novamente vindo pra cima de mim, dessa vez bagunçando meu cabelo com os dedos. – Eu amo loiros. Você é bonito.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Por um momento pensei em novamente afastá-la e sair dali, procurar outro canto para observar, mas decidi agir de outra forma. Entreguei-me aos toques da ruiva. Deixei que ela se grudasse ao meu corpo e não resisti quando ela me beijou, embora tenha feito um notável esforço em ignorar o gosto de maconha que impregnava seu hálito. Ela logo se sentiu confortável com a liberdade que eu estava dando e partiu para o próximo nível. Como Agente não sei o que pensar, mas como homem afirmo que a melhor invenção da humanidade foram as minissaias. A ação foi rápida e meu êxtase involuntário, mas ela enfim estava ofegante, abraçada a mim.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- Seu nome? – Tentei parecer interessado.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- Andressa. – Ela falou cada sílaba de forma pausada, sussurrando bem perto de meu ouvido.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Simulei uma conversa casual e obtive informações relevantes. Andressa tinha 18 anos e freqüentava o Castelinho há três. Ali acontecia de tudo. A conversa continuou até de manhã. Inventei qualquer desculpa e saí do lugar. No caminho para casa fiz um relatório por telefone à minha superiora. Em casa, dormi no sofá com a mesma roupa que estava.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Na noite seguinte voltei ao lugar. Dessa vez Andressa me encheu de perguntas. Em algumas fui sincero. Ela sabia meu nome, minha idade, que era órfão e que tinha um irmão. Achava que eu morava em um abrigo, que era viciado em maconha e que estava apaixonado por ela. Verdades e mentiras.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Estávamos no meio da noite quando três caras me puxaram e senti minhas costas baterem com violência na parede. Um deles dizia que “O Chefe” queria conversar comigo. Fomos levados por uma porta ao fundo da improvisada pista de dança e logo empurrados para o chão. Em um confortável sofá um homem estava sentado, rodeado por duas mulheres praticamente nuas. A conversa foi longa, mas em resumo minha vida foi ameaçada. Ali também funcionava uma rede de prostituição e Andressa era a preferida do chefe.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- Se quer brincar com ela, pague por isso! – Dizia o homem que se apresentou como Vinicius.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Revistaram meus bolsos e fizeram perguntas. Mantive minha história já contada à ruiva.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- Se é assim tão desgraçado, como usa cigarros importados? – Um segurança me questionava, cheirando o maço tirado de meu bolso.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- E o que te faz pensar que eu paguei por isso? – Respondi com frieza.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Tendo certeza que não estava armado, nem possuía uma escuta, nem qualquer identificação de que eu seria uma ameaça para a organização, eles me soltaram. Estava orgulhoso de minha capacidade de infiltração e aceitei de bom grado a garrafa de vodka ainda lacrada. Como disse, não sou nenhum tipo de exemplo. Rompi o lacre da garrafa e virei um gole profundo da bebida. Levou menos de cinco minutos para que o mundo girasse. Meu coração disparou quase imediatamente. Minha cabeça latejava e eu sentia uma vontade de por meu jantar para fora. Cai de joelhos. Senti meu corpo dar sinais de tremedeira. Mãos fortes me seguraram e fui jogado para fora do Castelinho. Com extrema dificuldade puxei meu celular do bolso e apertei o botão da ligação de emergência. Logo eu estava inconsciente.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Acordei no hospital. Uma máscara de oxigênio estava em meu rosto. Ao meu lado minha superiora estava em pé. Relatou que eu estava inconsciente há três dias e que durante esse período uma menina ruiva vinha saber de meu estado. Sentei na cama sob protestos e arranquei todos aqueles fios e cabos de mim. Meus olhos pesavam e eu apoiei a cabeça nas mãos.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- Êxtase. – Minha voz mal saiu. – Eles devem agir com contrabando de bebidas também. A garrafa estava lacrada. – Eu me justificava.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- O que eu preferia saber é por que você estava bebendo em serviço. – A voz de Ângela, minha superiora, era dura.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Não continuei a discussão. Eu tinha tudo o que precisava para concluir o caso, e só isso me importava. Meus olhos viram a moça ruiva encolhida na porta do quarto. Andressa trazia uma cesta com frutas e se dispôs a cortá-las para mim. Eu me mantive quieto, distante. A garota disse que depois do meu sumiço ficou assustada e estava procurando uma forma de se afastar das drogas, mas sozinha não tinha forças. De cada dez palavras que dizia, eu ouvia menos de cinco. Minha mente estava ocupada em formular a operação. Ao final do dia já tinha saído do hospital e despistado Andressa. Passei meus planos para o resto da equipe em reunião no 8º andar do Palácio da Polícia, no centro da cidade. Tudo foi armado.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Passava de onze da noite quando os carros cercaram os quarteirões em torno do Castelinho. Dúzias de policiais fardados de negro se moviam abaixados pela rua. A investida foi rápida. Eu mesmo estava na linha de frente, com arma em punho e o cigarro no canto da boca. A maioria logo se jogou no chão se rendendo. Apenas os de cargo mais alto começaram um revide de tiros. A correria foi enorme e os que saiam do prédio eram segurados pela guarda montada do lado de fora. Meus olhos encontraram o homem que havia me levado para aquela armadilha de êxtase. Mauro, o irmão e braço direito de Vinicius, foi minha única vítima naquela noite. Minha paciência já tinha se esgotado e o tiro vindo de minha arma me trouxe alivio.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">A operação levou uma hora. Rápida para o que estamos acostumados. Do lado de fora fazíamos a triagem em três grupos. As vítimas fatais eram levadas para o IML. Os chefes do bando eram levados para os camburões. Vinicius me olhava com ódio profundo enquanto um policial o arrastava à força para o carro. Eu havia matado seu irmão e destruído sua quadrilha. Compreensível. O terceiro grupo, esse em maior quantidade, eram os viciados que nada de mal haviam feito além de se destruir. Eles estavam sendo colocados em diversos carros e levados para centros de reabilitação.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- Eu confiei em você! – Ela gritou e eu me virei para ver Andressa ser carregada para um dos carros. Ela esperneava e chorava, olhando em minha direção. Sim, ela confiou em mim, e eu a usei desde o primeiro instante. Agora ela estava sendo levada a um centro de viciados. Ela confiou em mim.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- E esse foi o seu erro. – Sussurrei, vendo o carro se afastar, levando a ruiva para longe. Não importava. Eu só queria ir pra casa, tomar banho e dormir.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Dois meses se passaram e eu não perdi um minuto de meus dias para relembrar a operação do Castelinho. Foi quando aquela maldita carta chegou para devastar meu mundo. Pessoas internadas em centros de reabilitação muitas vezes progridem e podem sair, se supervisionadas por alguém que não use drogas. É como pagar fiança. Você vai, reconhece sua Pessoa-Problema e volta pra casa com ela.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Meus dedos deslizaram pela cama até encontrar o celular. Apertei a discagem automática e fiquei ouvindo.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- Damasceno. – Atendeu a voz de Ângela.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- Faça-me um favor. Peça a liberação de uma paciente do Centro de Reabilitação. Andressa é o nome. Diga que estou indo buscá-la. – Desliguei sem esperar qualquer resposta.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">Eu me questionava que droga de sentimento era aquele. Respirei fundo e me levantei indo buscar a única pessoa que venceu minhas barreiras internas de uma forma que nem eu mesmo pude perceber.</span></div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoBodyTextIndent" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-size: 12pt;">- FIM -</span></div>Sisáhttp://www.blogger.com/profile/09159579741334248551noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2324836472112788775.post-39827124929348111442011-11-07T18:07:00.003-02:002012-02-22T18:55:33.622-02:00Imortalidade<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-L9xjDHnb4_0/T0VWPKwH-RI/AAAAAAAAAcA/t4BxWkkiiuI/s1600/Blog-06.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://1.bp.blogspot.com/-L9xjDHnb4_0/T0VWPKwH-RI/AAAAAAAAAcA/t4BxWkkiiuI/s400/Blog-06.jpg" width="300" /></a></div><span style="font-family: Arial;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: Arial;">Lembro-me dos dias passados ao lado dele. O homem que fazia o perfeito estilo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">menino mal</i> que havia se mudado para a casa ao lado há algumas meses. Jay Knight tinha 23 anos, um corpo atlético, cabelo loiro propositalmente desalinhado e um belo par de olhos verdes. Seus 1,95 de altura o faziam bem mais algo que eu, mas isso era o de menos. Resumindo, o loiro era perfeito para se tornar um <i style="mso-bidi-font-style: normal;">rockstar</i>.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ao me sentir atraída por Jay, comecei a mudar meus hábitos. Troquei o jeans e a camiseta pelas roupas góticas e acessórios de metal, em uma tentativa de ser mais atraente para ele. Não sei se foi a mudança física ou não, mas poucas semanas após sua chegada, Jay e eu iniciamos um relacionamento.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ambos morávamos sozinhos. Eu porque ficara órfã doze anos antes e meu irmão problemático havia ido embora. Ele por motivos que eu viria a descobrir meses depois.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Estávamos dormindo em sua casa quando, no meio da noite, uma discussão me acordou. Curiosa, desci as escadas até a sala onde Jay e outros dois homens discutiam. Os estranhos me olharam por um segundo e suas expressões variaram de sarcasmo à incredulidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Sugiro que a tire daqui. – Disse o estranho que usava um sobretudo preto e tinha os cabelos longos e negros. Seus olhos possuíam um estranho tom de azul gélido que me causaram arrepios.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Arissa. – Jay falava baixo, sem tirar os olhos dos estranhos. – Por favor, volte para sua casa e fique lá. Amanhã lhe explicarei melhor.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não vou deixar você sozinho com esses estranhos. – Retruquei. E não pretendia fazer diferente mesmo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O outro estranho riu. Este tinha cabelos curtos e castanhos, e vestia roupas escuras. Seus olhos tinham a mesma cor sombria que o outro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Somos irmãos dele. – Disse o homem de cabelos curtos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- E quem lhe perguntou alguma coisa? – Encarei aquele homem sem medo algum.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ora, sua... – Ele deu um passo à frente, mas parou quando Jay se colocou entre nós.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- É verdade que são meus irmãos. Arissa, por favor, vá.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Após muita insistência de Jay, fui embora. Cruzei o jardim até minha casa, e fiquei observando pela janela da sala. Ficaria de olho na movimentação na casa de Jay, e se ouvisse algo fora do normal, chamaria a polícia. Não me importava se eram irmãos dele, o que notei foi pura tensão no loiro e sabia que algo estava errado.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Horas se passaram e nada havia mudado. Não ouvi gritos ou barulhos altos vindos da casa, tão pouco vi qualquer um deles deixar o lugar. Já era manhã e nada acontecia. Comecei a ficar impaciente, andando de um lado para outro, sem sair do perímetro da janela. Eles poderiam ter matado Jay e saído pelos fundos da casa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Mais duas horas se passaram até que não suportasse mais a espera e retornasse até a casa de meu atual namorado.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Bati na porta e ninguém respondeu. Mais alguns minutos, e eu entrei por conta própria. Tudo estava escuro. As cortinas fechadas. Não havia nenhum barulho na casa. Pensei em chamar por Jay, mas achei melhor me manter em silencio e procurar por qualquer dos três.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Não havia ninguém na sala. A cozinha também estava vazia. Tudo estava arrumado, indicando que não havia acontecido nenhuma luta física. Passei pela porta da biblioteca e estiquei a mão para a maçaneta, sem coragem de virá-la. Havia dois locais na casa que Jay me proibia terminantemente de entrar. Um deles era a biblioteca. Preocupada com ele, ignorei suas ameaças e entrei.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">A biblioteca era simples e incrível ao mesmo tempo. Não havia janelas e as quatro paredes eram forradas do chão ao teto com estantes cheias de livros, a não ser pelo espaço da porta. No centro um sofá circular e uma pequena mesa. Caminhei olhando as prateleiras. Todos os livros me pareciam muito antigos, com capas frágeis gastas pelo tempo. Provavelmente eram relíquias. Sobre a mesa havia pergaminhos e papiros com escritas de outros idiomas e ilustrações estranhas. Um grosso livro estava aberto ao lado. Suas folhas delicadas eram preenchidas com o que identifiquei sendo latim em uma caligrafia feito a mão.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Gastei alguns minutos observando aquele museu de livros, cada vez mais chocada com a antiguidade daqueles volumes e suas línguas variadas. Talvez Jay fosse algum colecionador ou algo do tipo, mas teria de ser rico também, para adquirir todas aquelas obras raras. Perguntaria sobre isso depois, se o encontrasse.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Sai da biblioteca com o máximo de silêncio que consegui, e me preparava para subir a escada para o segundo andar quando algo me chamou a atenção.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">No corredor, em frente à porta que dava acesso ao porão, o tapete estava desalinhado. Alguém havia passado por aquela porta, mas não voltado por ela, já que se voltasse arrumaria o tapete. Parei com a mão no corrimão, pensativa. O porão era o outro lugar que estava proibida de ir.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Já invadi a biblioteca mesmo... – Sussurrei para o nada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Cruzei o corredor e parei diante da porta. Uma série símbolos estranhos estavam entalhados em cada centímetro da madeira, criando um intrincado desenho um tanto sinistro. Engoli meu medo e abri a porta, começando a descer.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Alguns minutos depois parei na escada escura. Estava estranho demais. Já havia descido muitos degraus a mais do que se espera ter para um porão, e o fim da escada não parecia próximo. Agora a curiosidade se sobrepunha ao medo, e segui </span><personname productid="em frente. Dezenas"><span style="font-family: Arial;">em frente. Dezenas</span></personname><span style="font-family: Arial;"> de degraus. Dúzias de degraus. Centenas de degraus.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Imaginava ter descido uns nove ou dez andares quando a escada enfim acabou. Um corredor longo estava a minha frente, cheio de tochas acesas iluminando o caminho, e no fim dele, uma porta de aço. Com cautela comecei a cruzar o corredor. Estava na metade quando um grito me paralisou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Jay... – Corri o resto do caminho e abri a pesada porta de aço sem medo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Perdi as forças por um momento. Do outro lado da porta, uma enorme sala construída inteiramente de pedras não guardava nada além de um corpo ferido. No lado oposto ao meu, várias portas fechadas. Corri para o corpo preso na parede à direita.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Jay estava ajoelhado sobre o chão. Seus braços estavam esticados e enrolados por correntes apertadas que o machucavam. As correntes presas à parede impediam que seu corpo caísse, o forçando naquela posição. Seu rosto estava abaixado e havia sangue. Só quando cheguei mais perto foi que pude notar as roupas dele. Não mais o jeans escuro e camisa aberta. Agora trajava um tipo de túnica como os antigos gregos, totalmente negra.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Meu Deus... – Ajoelhei diante dele e tomei seu rosto em minhas mãos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Arissa? – Sua voz estava fraca e dolorida. Ele abria os olhos com dificuldade. – Não devia... Estar aqui.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Seus olhos... – Me surpreendi quando ele me olhou. Seus olhos antes verdes agora tinham o mesmo tom de azul gélido que causavam arrepios.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não olhe! – Sua voz se elevou de forma surpreendente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Mas era tarde. Eu já havia olhado e me prendido naqueles olhos sinistros. Comecei a sentir frio, como se estivesse nua em uma geleira e em minha mente podia ouvir gritos e lamentos. Eu sentia desespero. Estava enlouquecendo. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Jay fechou os olhos e virou o rosto. Cai de lado, encolhida como um feto, chorando </span><personname productid="em sil↑ncio. Nos"><span style="font-family: Arial;">em silêncio. Nos</span></personname><span style="font-family: Arial;"> olhos dele podia ver um tipo de inferno onde almas condenadas imploravam por paz. Aqueles gritos e lamentos ainda ecoavam em minha mente. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Eu quero morrer... Não suporto isso... – Sussurrava em desespero.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ao longe o rangido de uma porta pode ser ouvido, mas não conseguia me mover, perturbada pelo que vi nos olhos de Jay.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Se olhasse mais alguns minutos, teria sido morta e sua alma vagaria entre aquelas que observou. – A voz grave me causou tremores, mas também me trouxe coragem.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Sequei os olhos e consegui me mover. Os dois homens da noite anterior estavam parados no meio daquela sala, trajando as mesmas túnicas negras que Jay usava. Ali estavam os dois supostos irmãos que o haviam seqüestrado e machucado. Eu sentia raiva deles. Uma raiva muito profundo que acabava com meu medo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Quem são vocês? Por que fizeram isso? – Mil perguntas enchiam minha cabeça e nada ali fazia sentido.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Tenha respeito conosco, sua incetinha. – Disse o de cabelos curtos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Por que eu deveria ter respeito por alguém que tem essa sua cara de múmia? – Provoquei.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Juro que vou comer seus olhos como fazem as gaivotas! – Ele ficava nervoso. Eu não me importava.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O que? Corvos fazem isso, seu idiota. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ela está certa. – Surpreendentemente o homem de cabelos negros me apoiou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O outro parecia envergonhado e deu as costas à conversa. Parte de mim queria rir, mas evitei isso.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Amon... Deixe-a ir... – Jay fazia um grande esforço para falar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não irei antes de obter respostas. Tudo isso é estranho de mais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Responderei o que perguntar. – Disse o homem com frieza.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Pensei um pouco, tentando organizar as perguntas em minha mente. Corri o olhar em volta e pelos três. Lembrei da noite anterior. Tudo muito confuso.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Certo. Pra começo de conversa, que tipo de casa tem uma escada tão longa para o porão? – Primeira coisa que apareceu em minha mente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não tem. A escada para o porão daquela casa tem apenas seis degraus. Mas no quarto degrau há um portal que a trás para a escadaria principal e se pode descer até aqui. – Ele estava com os braços cruzados e falava com calma e naturalidade. Como se fosse muito normal o que ele dizia.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ah, ótimo. Então isso aqui é o que? Nárnia? Ainda não vi um leão falante. – Apontei para o homem de cabelos curtos. – Se bem que ele tem cara de Rainha Branca.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Como é? – Ele me encarou. Mostrei a língua.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Esta é uma dimensão diferente da sua. É nosso lar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Vocês chamam essa catacumba de lar? – Olhei em volta e voltei a falar. – E quem são vocês afinal? Ah! Já sei. Você é o Mágico de Oz. Claro. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Tudo aquilo me divertia. Era óbvio que eles eram atores ou viciados naqueles jogos interpretativos. Outras dimensões. Que piada. Se queriam brincar, eu ia entrar no jogo também.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Você leva tudo isto como uma brincadeira, jovem mortal. Seria mais prudente segurar sua língua. – O de cabelos negros agora estava irritado. – Se quer ouvir a verdade, sente-se, cale a boca, e escute.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Enquanto falava ele apontou o dedo em minha direção, e uma cadeira que eu não sabia de onde viera estava sob mim. Admito que isso me assustou e comecei a repensar as coisas. Talvez não fosse uma brincadeira, mas eu estava ficando louca.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Nossos verdadeiros nomes foram a muito perdidos, e a cada Era, a cada povo de seu mundo, nossos nomes mudam. Decidimos escolher os que mais nos agradam para nos apresentarmos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Uma pausa para estudar minha reação. Eu estava simplesmente confusa. Ele continuou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Pode me chamar de Amon Dei, o Escondido pela Noite. Sou o primeiro dentre os setenta e dois Deuses da Morte.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O que? – Agora estava em choque.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Existem setenta e dois seres imortais, criados no princípio dos tempos, que vagam pelo plano mortal vigiando os humanos. Quando a hora chega, somos nós que levamos suas almas para a Morada. Não há céu ou inferno. Todos que morrem vão para a Morada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Morada? – Repeti, sem entender o que poderia ser este lugar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O lugar que você viu nos olhos dele. – Amon apontou para Jay. As imagens voltaram para a minha mente e sabia que estava pálida. – Quando alguém olha diretamente para nossos olhos, a vida deixa o corpo e a alma é levada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Você também faz isso, Rainha Branca? – Olhei para o homem que ainda não havia se apresentado.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Pare de me chamar desta forma... – Ele respirou fundo. – Sim. Todos os setenta e dois Deuses tem o mesmo dom. Meu nome é Asar, apropósito. O Juiz dos Mortos. Sou o segundo Deus da Morte.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Por que prenderam o Jay? – Falei baixo. Não queria acreditar em nada daquilo, mas algo em mim dizia para acreditar. Era demais absorver todas aquelas informações.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Jay? – Amon parecia confuso com o nome.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Quem é Jay? – Asar perguntou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Virei o rosto para olhar para o homem acorrentado e ferido. Assim que o fiz, os dois Deuses riram com vontade e eu não sabia o porque. Asar caminhou até ele e se abaixou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Além de abandonar seus deveres ainda se passou por humano? Sério? – Novamente ele ria. – Ah, como eu queria poder matar você, Anpu. Desculpe... É <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Jay </i>agora, não?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Este cãozinho... – Amon começou e atraiu minha atenção. – Como lhe dissemos é nosso irmão. Anpu, o Preparador dos Mortos, terceiro Deus da Morte.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Anpu? – Repeti. – Parece nome de sapo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Atrás de mim ele riu com dificuldade e me arrependi do comentário.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Em algumas partes do Egito me chamavam de Anúbis, se preferir. – Ele disse sorrindo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Levantei com tanta surpresa e rapidez que a cadeira tombou para trás. Por que eu estava acreditando naquela conversa? Fiquei observando Jay... Anpu... Seja quem for.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Nós o prendemos porque ele deixou de cumprir suas obrigações. Pelo jeito tentava se tornar humano. – Amon o puxou pelos cabelos até que levantasse a cabeça. – Querido irmão... Tudo o que você ama irá queimar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O que pretendia Anpu? – Asar falava com frieza. – Daqui alguns meses quando não mudasse nada em sua aparência iria desaparecer da vida dela e passar o resto da eternidade lamentando?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não toquem nela. – Ele sussurrou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ou o que? Você não pode fazer mais nada. – Amon o soltou e se afastou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Deixe-a e eu retorno. – Os Deuses se calaram. – Continuarei com minhas funções, mas deixe-a ir.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não! – Me intrometi. Jay era a melhor coisa que tinha acontecido em minha vida desde a morte de meus pais e os problemas com meu irmão. Era a única coisa boa da minha vida. Eu jamais conseguiria ficar sem ele. Corri até ele e o abracei ainda acorrentado. – Quero ficar com você.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- É impossível. – Ele disse com tristeza. – Algum dia você morrerá e eu seguirei. Foi uma grande idiotice achar que poderia ter você pra mim. Sinto muito por isto, Arissa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- A menos que... – Asar começou. Um sorriso sádico em seus lábios.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não. – Jay cortou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- A menos que o que? – Perguntei. – Há um jeito de eu ficar com ele? Diga-me Rainha Branca.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Me chame assim mais uma vez e eu corto sua garganta! </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Há um jeito de você continuar com ele. – Amon refletia.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Oz... – Notei a expressão de desgosto em Amon, mas ignorei.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Deuses da Morte podem ter uma alma ligada a eles pela eternidade. – Amon ignorou meu comentário e continuou seu monólogo. – Se Anpu a tiver desta forma, poderão ficar juntos eternamente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Então eu o farei. – Fui direta. Não quis saber o que seria. Apenas sentia uma forte vontade de continuar ao lado dele. Eu não tinha mais família, nunca cultivei amizades importantes. Não tinha nada a perder.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não! – Jay gritou, cortando meus pensamentos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Irmão, reprovo suas atitudes, mas não desejo seu mal. Só tento ajudar. – O Deus de cabelos negros parecia sincero.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Acho que ele não quer tanto assim ficar ao seu lado, menina. – Asar provocava.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Fique quieto, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Rainha Branca</i>. – Jay devolveu em mesmo nível. Quis rir, mas outra coisa ficou em minha mente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Por que recusa a idéia? – Olhei com pesar para o homem acorrentado. Talvez Asar tivesse razão.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Arissa, não pense como Asar que não desejo sua companhia eterna, mas ao que se referem é torná-la minha escrava. Você não seria mais você. Seria submissa a mim. Tudo o que eu dissesse pareceria certo para você. Não posso aceitar isso.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não me importo com isso. – Me abaixei ao lado dele. – Jay, eu só quero estar ao seu lado. Sei que cuidaria bem de mim.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ah, esqueci um detalhe. Você estaria morta também. – Amon foi direto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Congelei sem olhá-lo. Morte. Algo nessa idéia me causava arrepios. As imagens do lugar que vi através dos olhos de Jay invadiram minha mente e eu senti medo. Muito medo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ainda... Ainda quero isso. – Falei.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Você deseja coisas que não compreende por completo... – Jay suspirou e fechou os olhos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Anpu. – Asar chamou e ele abriu os olhos para o irmão. – Sabe o que acontecerá. Se permitir a vida dela, quando a hora dela chegar você não terá a coragem de levá-la. Vai ocasionar o desequilíbrio da vida mortal.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Asar... – Jay ria. – Você me lembra uma história que li no mundo mortal.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Hércules? – O segundo Deus fez pose.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O Médico e o Monstro. – O terceiro riu de novo. – Sua preocupação é digna de um Bobo da Corte. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- As crianças poderiam calar suas bocas? – O primeiro Deus interveio. – A escolha é da mortal. Vamos menina, não temos todo o tempo do mundo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Na verdade nós temos, mas isso aqui já encheu o saco. – Asar era sincero.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Desejo tornar-me uma alma serva do terceiro Deus da Morte. – Falei pro fim.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ótimo. Vamos matá-la. – Não sei de onde Asar tirou um tipo de pistola antiga, mas fosse como fosse, a arma não combinava com Deuses.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Mas... – Cortei e Asar suspirou. – Quero mais um mês, antes disso.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Para que? – Todos pensaram isto, mas foi Amon quem disse em voz alta.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Sempre quis ser escritora. Irei escrever a história de minha vida nestes últimos meses e enviarei para alguém que publicará. Este último sonho eu quero realizar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Que coisa antiquada. – Asar brincava com a arma.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Falou o homem vestido como um grego mumificado. – Retruquei. – Que nome dá à esses panos que te amarram?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Amarrada está você, sua doida! </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Amon Dei suspirou como um pai cansado das discussões tolas dos filhos. Caminhou até Jay e as correntes foram soltas. Vi as feridas em seu corpo começarem a se curar diante de meus olhos. Asar pegou sua arma e apontou para o irmão, apertando o gatilho. Esperei um grande barulho e sangue, mas o som foi curto e que voou foi uma nuvem de confetes coloridos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Minhas condições foram aceitas, apesar de Jay continuar sendo contra. Durante um mês escrevi todos estes acontecimentos e enviei para um velho amigo de meu pai, editor famoso. Não esperei para ver o resultado de meu esforço. Pelas mãos de Jay eu morri, e me tornei sua serva.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O Terceiro Deus da Morte se tornou minha vida por completo. Ao longo de décadas, minha memória ficou para trás e eu já não sabia mais nada do mundo de onde vim ou das pessoas que conheci por lá. Agora só conhecia a frieza de Amon Dei, as brincadeiras infantis de Asar, e um amor arrependido de Anpu.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Antes de minha morte, deixei uma pequena mensagem para o terceiro Deus, e ele ainda a guardava com carinho.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: Arial;">“Eu tive tudo, oportunidades para a eternidade e eu poderia pertencer à noite. Eu posso ver em seus olhos. Tudo em seus olhos. Você me faz querer morrer. Eu poderia morrer por você, meu amor”.</span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial;">- FIM -</span></b></div>Sisáhttp://www.blogger.com/profile/09159579741334248551noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2324836472112788775.post-86204742187038193262011-07-21T01:13:00.001-03:002012-02-22T04:57:37.447-02:00Anjo da Escuridão!<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-sCDXF4KgSTs/T0SR1uLVjPI/AAAAAAAAAbw/tyiwztVKsKk/s1600/Blog-05.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://1.bp.blogspot.com/-sCDXF4KgSTs/T0SR1uLVjPI/AAAAAAAAAbw/tyiwztVKsKk/s400/Blog-05.jpg" width="300" /></a></div><span style="font-family: Arial;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: Arial;">Desde tempos muito antigos. Desde os primeiros povos tomarem seus pedaços de terra pelo mundo, uma ameaça assombra lendas, sonhos e vidas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Uma figura espectral de mantos pesados e negros, com longos cabelos lisos esvoaçantes e escuros como a noite. Seus olhos possuem um inumano tom cinza e ao mesmo tempo estranhamente brilhante, como relâmpagos a cortar um céu de tempestade. Um homem tão belo quanto mortal. Uma criatura eterna movida por um ódio que ninguém jamais soube, ou saberá, explicar. Um entre milhares de sua raça. Único em seu terror.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- BOO! – Eu não esbocei qualquer reação quando Lucy pulou detrás da porta da sala de aula naquela manhã. – Ah, fala sério! Nada?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Você precisa ser mais furtiva se pretende assustar alguém, e não ficar com o topo de sua cabeça visível pelo vidro da porta. – Continuei andando pela sala até encontrar meu lugar. Em mãos um grosso livro que mesmo caminhando eu não parava de ler.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Tanto faz. Mas e aí, que fantasia irá usar na festa? – Minha melhor amiga tinha toda a energia que um grupo de crianças de 5 anos poderia ter.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Festa? – Não tirava os olhos do livro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Terra para Katie! Em que mundo você está, garota? – Lucy sentou-se na cadeira a minha frente. – A festa de halloween no ginásio esportivo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ah.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Apesar de vivermos no século XXI, morávamos em uma daquelas cidadezinhas de interior com um número mínimo de habitantes, afastada de qualquer grande cidade, onde mesmo o menor dos eventos sociais reunia a cidade toda no salão da prefeitura ou no ginásio de esportes do colégio, os dois maiores prédios do local.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Quando não falei mais nada sobre o assunto que tanto empolgava minha amiga, Lucy se irritou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O que diabos você está lendo? – Esbravejou a garota de 17 anos ao tomar o livro de minhas mãos, lendo a capa. – <i>Mitologia ou Realidade</i>? Você acredita mesmo que essas histórias de criança dormir foram verdade algum dia?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Claro que não! – Rebati, tomando o livro de volta. – Mas tenho que admitir que são bem interessantes.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Tipo o que? Um lobo que anda e fala para perseguir uma criança com um mantinho vermelho?! – Lucy riu.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Estamos falando de mitologia, Lucy. Não de conto de fadas. – Virei o livro em uma página aberta para que ela pudesse vê-lo melhor. – Por exemplo, já ouviu falar em Caim?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não foi o cara que matou o próprio irmão ao qualquer coisa assim? – Ela nem ao menos olhava para o livro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ou qualquer coisa assim... – Suspirei buscando paciência. Havia momentos em que eu não sabia se a ignorância de Lucy era real ou auto-induzida. – De toda forma...Biblicamente se conhece este Caim que matou Abel, e blábláblá. Mas há relatos mitológicos mais antigos que citam uma espécie de Anjo Negro chamado Caim.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Anjo Negro?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Sim. Segundo este livro, ele foi criado pelos Deuses, assim como todo o mundo, mas por motivos que ninguém jamais soube, Caim deixou nascer em si um ódio descomunal pela humanidade, e há eras ele aparece no plano mortal para levar almas para sua coleção particular.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ai credo, Katie! Como você acha isso interessante? É horrível. – Era minha vez de ignorá-la.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Aqui tem uma descrição do que acontece momentos antes de sua chegada. Oh... – Parei. Reli mais duas vezes o último parágrafo. Logo eu ri. – Isso é realmente interessante.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O que? – Lucy agora parecia interessada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Aqui diz que durante a noite de todos os santos, quando as barreiras entre o mundo imortal e o mortal ficam mais fracas, Caim regressa para buscar almas. Sabe como as pessoas chamam a Noite de Todos os Santos? – Um sorriso sinistro tomou minha face.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Como? – Minha amiga se encolhia.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Halloween! – Subitamente bati as mãos na mesa e forcei um riso sinistro que fez com que Lucy derrubasse a cadeira quando o susto a pegou de jeito.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Eu ria com vontade do susto que provoquei em Lucy, e ela brandia xingamentos contra mim. Alguns minutos mais tarde o professor entrou, seguido de mais alunos, e mais um dia comum na escola se iniciou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Já passava da hora do almoço quando todos foram liberados de suas aulas. Minha irmã mais velha estaria trabalhando como sempre. Nossos pais haviam falecido em um acidente muitos anos antes, mas eu não me fazia digna de dó por isto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Saí pelos portões da única escola da cidade e rumei para meu local favorito.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- KATIE! – Lucy vinha correndo. – Espero você na minha casa as oito da noite para irmos juntas para a festa, certo?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Como quiser, Lucy. – Eu não queria estar nesta festa, mas sempre fui muito difícil para eu ignorar todo o carinho de minha amiga por mim, assim eu fazia as vontades dela. – Mas por enquanto vou até a colina continuar lendo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Separei-me de minha amiga ainda nos muros externos do colégio, e continuei meu caminho. A colina marcava os limites da pequena cidade e depois dela haviam apenas longas planices. Era um hábito meu sentar-me no topo da colina para ler ou pensar. Desta forma o dia passava sem que eu tivesse qualquer noção. Desta vez não foi diferente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O sol tingia o céu de laranja quando me dei conta de que estava forçando demais os olhos para enxergar as linhas do livro. Puxei o celular do bolso e me choquei com a hora tão avançada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Droga. Melhor correr. Vou acabar me atrasando para encontrar com a Lucy! – Coloquei o livro sob o braço, a mochila em um dos ombros e me levantei apressada. Ainda não tinha nenhuma fantasia, mas faria como muitas mulheres na história. Colocaria um vestido preto, maquiagem pesada, e diria que estava fantasiada de bruxa. Nunca falha.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Desci a colina correndo e ao chegar no fim perdi o equilíbrio. Para não cair de cara na terra, me escorei em uma árvore no caminho. O impacto fez a árvore vibrar e uma revoada de pássaros se espalhou pelo céu.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Parei observando.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O que eu achava serem alguns pássaros comuns da região, na verdade era um número muito grande de corvos. Alguns voltaram aos galhos da árvore, outros persistiam de voar em círculos como abutres famintos, sempre grasnando e me causando arrepios.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Jamais havia visto uma ave daquela em todos os anos em que moro nesta cidadezinha, agora dúzias estavam ali.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O sol continuava a sumir no horizonte, e o céu passava de laranja para vermelho vivo, contrastando de forma sinistra com a presença daqueles corvos. Quando um vento realmente forte pareceu surgir do nada, as aves se revoltaram e começaram a voar sem sentido, algumas se chocando com as outras.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Dois deles mergulharam em minha direção e eu caí de joelhos para evitar o impacto. Com o movimento súbito, o livro sob meu braço caiu ao chão aberto em uma página qualquer, mas o vento sinistro se encarregou de exibir uma página em especial.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ainda abaixada, meus olhos correram novamente pelas linhas que já havia lido horas antes. Meu coração disparava cada vez mais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 55.95pt 0pt 60pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><i><span style="font-family: Arial;"><span style="color: red;">“Quando o Sol deixar de brilhar e o céu se tingir de sangue, os mensageiros do inferno cantarão em voz ensurdecedora”.</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Os corvos grasnaram com afinco e parecia que meus tímpanos iriam estourar. Cobri as orelhas com as mãos e olhei para as aves negras cruzarem sem rumo o céu avermelhado. Baixei os olhos novamente para o livro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 55.95pt 0pt 60pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;"><span style="color: red;">“<i>Os ventos sombrios se encarregarão de exterminar as últimas luzes que o Sol não levou”.</i></span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Mal eu acabava de ler, um barulho estrondoso me fez virar na direção da cidade. Os fios dos postes de eletricidade não suportaram a força do evento e alguns se romperam, lançando fagulhas e estourando os distribuidores. Em segundos toda a cidade estava imersa na escuridão.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 55.95pt 0pt 60pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><i><span style="font-family: Arial;"><span style="color: red;">“E então, quando o desespero subjugar a lógica dos mortais, o caos dominará os caminhos dos inocentes”.</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Com o apagão, todas as pessoas saíram às ruas, mulheres estavam assustadas, crianças choravam a plenos pulmões e os homens gritavam confusos, tentando fazer suas vozes superarem os ventos fortes.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Abandonei o livro<i> </i>onde estava, e corri de volta para a cidade. Era difícil, o vento me jogava para os lados, e os corvos sobrevoavam meu caminho. Vidros e janelas das casas e lojas eram estilhaçadas pelo vento.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">A última parte do texto do livro fez eco em minha mente quando alcancei a cidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 55.95pt 0pt 60pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><i><span style="font-family: Arial;"><span style="color: red;">“Somente quando a noite reinar, os mensageiros se calarão e os ventos sombrios irão cessar sua violência sob o comando de seu mestre. É a hora do pior dos pesadelos”.</span></span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O vento parou como se nunca tivesse estado ali. Os corvos pousaram sobre as casas e postes no mais completo silêncio. Os moradores da cidade sussurravam assustados, temerosos que suas vozes trouxessem de volta aquele estranho fenômeno natural. Natural?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Em algum local da cidade, pouco longe de onde eu mesma estava, alguém gritou. Segundos depois mais gritos vieram. Os berros de dor e desespero pareciam se aproximar, vindos do lado sul ao norte da cidade, varrendo tudo no caminho. O nome de Deus era clamado. Piedade era implorada. Os gritos continuaram.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Minha mente cética entrou em colapso e o desespero dominou a minha alma quando entre os vultos que corriam e gritavam, eu vi um vulto alto que simplesmente caminhava em linha reta pela rua principal. O vento o seguia. Os corvos se encolhiam com sua aproximação. Os mortais eram retalhados ao seu toque.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Por instinto, ou talvez somente por medo, eu corri para o lado de onde tinha vindo, em sentido contrário ao algoz que exterminava a vida de uma cidade inteira.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Acabei por tropeçar no livro que havia abandonado ali. A página virou e eu olhava para uma ilustração antiga, feita ainda a carvão, idêntica ao sinistro vulto que varria minha cidade diante de meus olhos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Eu chorava e tremia violentamente sabendo o que me aguardava. Não conseguia levantar. Minhas pernas não respondiam. Aquele homem cruzou toda a cidade e parou olhando para o caminho de onde viera, como se admirasse sua obra. A cidade agora estava no mais absoluto silêncio.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Um corvo voou baixo e eu gritei por reflexo. Assim que tomei ciência do que este grito tinha feito, eu chorei ainda mais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O homem se virou lentamente em minha direção e voltou a caminhar. Se eu tivesse permanecido caída e em silencio, ele teria desaparecido sem dar-se conta de minha presença. Mas aquele animal estúpido me fez gritar e agora eu teria o mesmo destino que o resto da cidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Quanto mais perto ele chegava, uma série de cortes surgia em meu corpo, como se uma chuva de navalhas invisíveis cruzasse o ar em minha direção. Eu gritei vendo meu próprio sangue escorrer para fora de meu corpo em grande quantidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Mãos invisíveis seguraram meu corpo e o torceram em posições fisicamente impossíveis e os ossos sendo quebrados podiam ser ouvidos com facilidade. A dor me consumiu e eu gritei até minha voz não agüentar mais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ele estava agora a poucos passos de mim. Com seu manto negro, os cabelos longos, os olhos gélidos. Era ele. O Anjo da Escuridão. Caim era real.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Caim tirou do bolso uma esfera do tamanho de uma bola de bilhar, translúcida que emanava um brilho rubro singelo. Olhei fixamente para aquela aparente bola de cristal vermelho e pude ver almas atormentadas, presas em uma dimensão terrível dentro da pequena esfera. Seus rostos exibiam uma dor sem igual e suas lágrimas eram sangue. Pouco a pouco eu me sentia sugada para aquela esfera e nada me fazia tirar os olhos daquele sofrimento.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Quando meu corpo caiu inerte no solo tingido por meu sangue, Caim levou a bola de cristal rubro novamente para o interior de seu manto negro e o <i>“Globo das Almas”</i> foi guardado.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Caim focou os olhos no livro ao meu lado, agora com grandes manchas vermelhas ainda úmidas. O Anjo Negro abaixou e pegou o livro em mãos. Seus olhos gélidos correram algumas linhas e um sorriso demoníaco brotou em seus lábios.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Quando o Sol deixar de brilhar e o céu se tingir de sangue, os mensageiros do inferno cantarão em voz ensurdecedora. Os ventos sombrios se encarregarão de exterminar as últimas luzes que o Sol não levou e então, quando o desespero subjugar a lógica dos mortais, o caos dominará os caminhos dos inocentes.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Somente quando a noite reinar, os mensageiros se calarão e os ventos sombrios irão cessar sua violência sob o comando de seu mestre. É a hora do pior dos pesadelos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Se sua alma é mortal, acredite nestas palavras...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 42pt;"><span style="font-family: Arial;">Quando o Anjo da Escuridão pisar neste mundo... É o fim da esperança.</span></div>Sisáhttp://www.blogger.com/profile/09159579741334248551noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2324836472112788775.post-81902462719675631052011-07-07T04:44:00.001-03:002012-02-22T00:55:40.230-02:00Arrependimentos<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-CG5wQUaHUsE/T0RZIi6I1DI/AAAAAAAAAbo/xh21Jm6kTkg/s1600/Blog-04.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-CG5wQUaHUsE/T0RZIi6I1DI/AAAAAAAAAbo/xh21Jm6kTkg/s400/Blog-04.jpg" width="300" /></a></div><span style="font-family: Arial;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: Arial;">Argus, capital do Reino à oeste das Terras Médias. Uma cidade de grande porte que embora não movimentasse a economia da região, impunha respeito por sua força militar de alto nível. Quanto a mim? Já não passo de uma velha sacerdotisa do antigo templo da capital que não fez muito mais que observar e aconselhar os que passavam por meu caminho.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Poucos me chamavam de bisbilhoteira, por me envolver em assuntos dos quais não fazia parte, mas era de minha natureza ajudar os que choravam e sofriam. Apenas uma vez decidi ficar de fora do problema, e até o fim de meus dias – que não está muito longe – eu irei me arrepender de não ter feito nada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Feron Kashthir tinha pouco mais de 20 primaveras na época, mas já ocupava o posto mais alto entre os cavaleiros a serviço do Rei. Tinha o nome de um grande rei do Egito e seu sobrenome vinha de sangue élfico, significando “<i>Destinado à Proteção”. </i>Feron tinha família em outra região, mas vivia sozinho em Argus desde seus 13 anos. Não chegou ao posto por indicações ou mimos, como muitos pareciam subir, mas sim por seus esforços. Sem dúvida suas habilidades eram as melhores e sua espada a mais mortal.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O cavaleiro não possuía nada de extraordinário em sua beleza. Tinha o cabelo escuro, um pouco curto. Seus olhos tinham a cor das avelãs. Estatura média para os homens da época e porte físico igualmente dentro dos padrões. Ainda sim, um número considerável de damas desviava seus olhos para Feron. Damas das mais bonitas e ricas do reino. Imagino que se atraiam mais por sua armadura reluzente e sua patente que por seu espírito de justiça, por seu coração afetuoso, por seus ideais sonhadores.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O jovem talvez pensasse como eu, afinal, mesmo com tão belas jovens ao seu lado, podendo escolher inclusive a Princesa de Argus, o cavaleiro limitava suas carícias para Sirena. A moça perdeu a família vários anos antes e hoje vivia de favor com uma família de comerciantes locais que a hospedavam em troca do trabalho.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Sirena era o mais comum que podia se imaginar. Possuía cabelos escuros pouco longos. Nada comparado aos longos e sedosos cabelos claros das donzelas. Tinha olhos também escuros, nada daquelas cores brilhantes como um lago. Também não possuía riquezas, ou conhecia modos elegantes de se portar. Na verdade, sentia-se realmente uma estranha na vida de Feron. As moças que o cortejavam falavam sobre coisas do interesse do jovem, assuntos que Sirena não sabia tocar em frente, além claro da clara diferença física entre ela e mulheres como a Princesa. Muitas vezes, incontáveis, olhava Feron sendo cortejado e se perguntava <i>Por que eu?. </i></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Orgulhava-se apenas de ser um tipo de “porto seguro” para os medos mais secretos do coração do cavaleiro. Quantas vezes ela já o havia visto rir com as damas e brincar com os colegas para logo se aproximar e mostrar toda a dor e tristeza de sua verdadeira face. Mas nem tudo podia seguir tão bem.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Feron treinava com a guarda do castelo cada vez mais. Regressava tarde, quando Sirena já havia adormecido, e saia cedo, antes da moça acordar. Em suas folgas, cada vez mais raras, freqüentava a taberna com outros cavaleiros. Ele não fazia nada de errado. Não bebia demais, não se envolvia em brigas, não trocava carícias com outras mulheres. Por isto Sirena jamais o vigiava ou seguia, como algumas amigas a diziam para fazer. Não, Sirena confiava em Feron, e assim seria para sempre. Mas o abandono a magoava e a solidão a estava destruindo dia após dia.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">No começo ela cruzava com os conhecidos e mostrava um belo sorriso, se divertia, trabalhava com energia e somente quando estava só se entregava à sua dor particular. Mas quanto mais o tempo passava, mais Sirena não tinha forças para sustentar sua máscara. Seus amigos a cumprimentavam e a moça se limitava a um breve aceno de cabeça, e a tristeza agora fazia parte de suas feições. Então tudo ruiu.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Estou em casa. – Feron abriu a porta enquanto o sol ainda se punha.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Feron! – Sirena estava feliz pelo regresso antecipado de seu amor e logo o abraçou com força. – Me alegra sua chegada tantas horas antes.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O cavaleiro sorriu levemente e a beijou por alguns breves segundos, antes de soltar-se do abraço da moça e começar a desmontar sua armadura.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Voltei antes porque preciso me preparar, descansar. – Metade das peças já estava no chão.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Preparar-se? – A moça parou de cortar alguns legumes e o olhou com receio na voz.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Sim. O Rei quer mandar um grupo de cavaleiros para Dauper fazer algumas análises. Nenhuma batalha ou algo do tipo, é apenas reconhecimento.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Dauper?! – Sirena soltou a faca sobre a mesa e sua expressão se contorceu em infelicidade. – Fica a quatro meses de caminhada de Argus. Só para ir e vir levarão quase um ano. Não acredito que o Rei colocou seu melhor cavaleiro em uma missão sem propósito e tão longa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ele não me colocou. – Feron já estava sem a armadura, escondendo as mãos nos bolsos da calça de tecido leve. – Fui eu que me ofereci.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O que? – Um sussurro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Um grupo de novatos é que irá, Sirena. E se algo acontecer a eles no caminho? Sou o comandante das tropas. Seria horrível para mim se isso acontecesse.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- E se algo acontecer a mim em sua ausência? Feron, como pode decidir isto sozinho? Ficará um ano a muitas léguas daqui e nem ao menos se preocupou em perguntar o que eu achava disto. – Ela agora gritava. A dor tomando conta. – Como pode ser tão cruel assim, Feron?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não me peça para escolher entre meu dever e minha vida pessoal. – O cavaleiro mantinha a voz baixa, mas era claro a raiva em suas palavras. – Nada acontecerá com você aqui. Está segura. Se me pedir para ficar só estará limitando minha vida.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não me dê as costas! – A moça gritou quando Feron deu meia volta e se preparava para ir ao quarto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ele parou, ainda de costas para ela, se limitando apenas a olhá-la por sobre o ombro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não me sufoque, Sirena. – Feron seguiu pelo corredor e o único som ouvido foi a porta sendo violentamente batida.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">A moça permaneceu em pé por mais um minuto, antes de desabar sobre a cadeira escondendo o rosto entre as mãos e tentando abafar os soluços de seu choro. Por toda a noite Sirena não dormiu e quando o amanhecer chegou, cruzou os olhos com o cavaleiro que saia do quarto com suas coisas em mãos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Te peço mais uma vez que não vá. – Mantinha a voz baixa e rouca pelo choro. Feron ignorou. Pegou mais algumas coisas, vestiu a armadura e rumou para porta. - Não vai nem ao menos se despedir?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Volto em breve. – Foi tudo o que o cavaleiro disse antes de seguir andando para o castelo, de onde todos partiriam em poucas horas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Sirena ficou para trás. Por vários dias não se via nada além de lágrimas nos olhos da moça. Mal saia de casa. Levou muitos dias para que ela voltasse à sua rotina de trabalho e tarefas normais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Feron fez uma viagem tranqüila com os novos cavaleiros. A permanência em Dauper foi de poucas semanas e logo se colocaram a caminho de volta. Exatos onze meses após sua partida, o cavaleiro cruza os limites de Argus com o resto de seus homens.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Sua primeira parada foi no castelo, relatando sua missão. Horas depois chegou a vila e entrou em casa. Tudo estava quieto e escuro. Pelo horário, Sirena estaria trabalhando na loja da família que cuidava dela, mas Feron não se deu conta da grossa camada de poeira que cobria a casa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Deixou suas coisas em um canto, e saiu, sem acender nenhuma vela. Cruzou com muitos que lhe davam as boas vindas de uma forma menos animada do que ele esperava, mas não se importou muito com isso. Levou cerca de vinte minutos para entrar na pequena loja de ervas medicinais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Olá. – Disse de uma forma geral.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Feron! – Respondia o dono, surpreso com sua chegada. – Enfim voltou, rapaz. Ótimo vê-lo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Obrigado. Desculpe minha pressa, mas queria ver Sirena. – Olhou em volta, procurando pela moça. Só então notou que a esposa do dono havia parado de varrer a loja para ficar olhando o chão vazio. Que os filhos deles cruzaram olhares cheios de mistério. – O que houve?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ninguém lhe avisou, então. – A voz sussurrada do dono da loja trouxe uma errônea certeza à mente de Feron.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ela foi embora, não foi? Depois que eu a deixei sozinha aqui ela foi procurar felicidade em outro lugar, com algum homem melhor que eu. Não é isso? – Só parou de falar quando a voz da esposa do dono chegou cheia de dor.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Feron... – Ela hesitava. – Sirena faleceu há três meses.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Que disse? – Por um momento o choque dominou sua face, mas logo um estranho sorriso surgiu. – Não faça este tipo de brincadeiras, Senhora. Eu poderia ter acreditado.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Há três meses... – O dono puxou novamente a atenção do cavaleiro. – Um grupo de ladrões do deserto invadiu a cidade durante a noite. Roubaram muitas casas e lojas. Eles disseram que as mulheres que se entregassem à eles como escravas seriam poupadas. Sirena resistiu...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- E os cavaleiros? Onde estava a guarda real quando isso aconteceu?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Eles demoraram a perceber que algo de errado estava acontecendo. Quando souberam correram para cá. Os ladrões foram mortos por eles, mas muitas pessoas da cidade já estavam mortas. – Ele tirou o chapéu e o apertou contra o peito. – Sinto muito, Feron.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Onde ela está? – A voz do cavaleiro parecia controlada, e ele reagia com frieza à notícia.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Na colina do lado norte. – Respondeu o dono da pequena loja.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Feron deu meia volta e saiu da loja. Seguiu o caminho para os limites da cidade com a cabeça baixa, sem responder aos cumprimentos de ninguém. Passou pela última casa da cidade e iniciou uma breve sumida de grama. No alto da pequena colina, cercada por flores, estava uma lápide de pedra onde se lia: “Sirena Carmiel – Eterna Amiga”.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Foi neste momento, quando eu estava indo visitar o túmulo da moça, que cruzei com Feron, em pé diante do túmulo, sem qualquer reação.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Enfim regressou, cavaleiro. – Abaixei-me para colocar algumas flores sobre a pedra, e rezei pela alma de Sirena.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Por que ela está na colina? Por que não foi levada ao cemitério? – Feron estava realmente muito calmo e eu comecei a me perguntar se ele a havia esquecido. Minha resposta à pergunta dele trouxe uma solução para minhas dúvidas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Porque era neste exato local que Sirena vinha todas as tardes sentar-se por horas olhando para as trilhas esperando por sua volta. – Falei com a voz em tom normal. Minhas últimas palavras foram cheias de uma dor verdadeira. – Ela ainda está esperando.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Feron então abandonou sua máscara de cavaleiro perfeito quando seus joelhos arquearam até o chão e uma grande quantidade de lágrimas brotou de seus olhos. Ele começou a gritar o que eu achava ser para mim, porém logo vi que não.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- É verdade então? Você se foi? – Suas mãos agarravam punhados de terra e grama, enquanto ele olhava para o chão, quase como se pudesse vê-la sob a terra. – Eu nunca mais vou poder te ver?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Senti pena de Feron. Sua reação era totalmente diferente do que eu esperava. Era...Humana. Logo eu estava chorando ao lado do cavaleiro. Não sabia se o que eu faria depois traria alivio ou mais dor.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Alguns dias antes do ataque, ela estava desesperada por seu regresso. Menti para ela e disse que o Rei estava enviando um mensageiro até vocês, que então se ela me desse uma carta, eu poderia fazer com que chegasse até suas mãos. – Tirei o papel amassado de meu vestido e o estiquei para o homem destruído. – É sua por direito.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Feron pegou a carta e a desdobrou com rapidez, lendo cada palavra. Vi seus olhos ficarem mais e mais úmidos, até novamente um choro infantil dominar o cavaleiro. Era a primeira vez que eu via Feron chorar, e talvez até fosse a primeira vez que ele chorava desde seus tempos de bebê.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Não sei dizer por quanto tempo mais durou seu choro, pois decidi deixar o cavaleiro com seus próprios pensamentos, mas várias horas depois ele continuava sentado ali, olhando para o túmulo. Já ficava tarde quando subi a colina para encontrá-lo adormecido sobre o solo, com a mão esticada tocando a lápide. Ao lado de sua mão estava uma pequena navalha e raspas de pedra.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Cobri Feron e o deixei adormecido naquele lugar. No dia seguinte, e em todos os dias que se seguiram, o cavaleiro subia a colina bem cedo, e narrava para o túmulo como havia sido seu dia anterior. Cerca de duas horas depois ele saia de lá e gastava o resto de seu tempo com os treinos. Jamais qualquer outra pessoa tornou a ver um sorriso na face de Feron. Ele apenas lutava e lutava sem parar. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Lutava uma batalha que nunca venceria, pois estava lutando contra o remorso de ter deixado para trás a pessoa que mais amava, a pessoa que mais o amou, sem dizer um último adeus, sem um último beijo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Feron Kashthir precisou perder tudo que mais prezava nesta vida para compreender o que era sua maior prioridade. Precisou passar a ter o arrependimento como único companheiro para perceber que mesmo que se fique um ano ou um dia longe da pessoa, deve-se sempre tratar os últimos momentos juntos com extrema ternura, carinho e atenção, pois podem realmente serem os últimos momentos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O cavaleiro faleceu trinta e dois anos depois, de uma doença grave. Seu corpo foi enterrado ao lado de Sirena, e em sua lápide vinha escrito: “Feron Kashthir – Nobre Cavaleiro”.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Uma noite, sentei-me ao lado dos túmulos e com uma faca entalhei a lápide do cavaleiro, da mesma forma que ele havia feito com a lápide de Sirena tantos anos antes. Após minhas alterações, se lia “Feron Kashthir – Nobre Cavaleiro <i>e Protetor</i>”. Já na lápide de Sirena, entalhado pelas mãos de Feron, também havia um complemento...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">“Sirena Carmiel – Eterna Amiga <i>e Grande Amor</i>”.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><i><span style="font-family: Arial;">“Meu querido Feron, </span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><i><span style="font-family: Arial;">Não sei quando você terá a oportunidade de ler esta carta, mas eu queria ter a chance de me despedir. Quero lhe dizer como me sinto, e for por isso que quis escrever essa carta para você. Penso nos bons tempos que passamos juntos. Sempre que eu chorava, você me apoiava e era gentil comigo. Eu sempre estava triste porque sentia falta da minha família e você sempre me lembrava que eles estariam lá, em espírito, zelando por mim como anjos dedicados. Meu querido, seu amor, sua orientação e seu apoio me ajudaram a me transformar nesta jovem que eu sou hoje. Feron, não teria conseguido sem você. E agora quero que você me prometa que vai verter lágrimas pelas pessoas que estão feridas. Dê apoio emocional para os que estão tristes e ajude os mais fracos, porque ainda acredito que você fará nossos sonhos se tornarem realidade. Você é a luz da esperança, querido Feron. Quando as coisas ficarem difíceis, não esqueça que vou estar zelando por você, incentivando você, querendo que você vença. Lembre-se de tudo o que você já fez. Sinta orgulho em saber que você já ajudou as pessoas. Estou muito orgulhosa de você. Obrigada.</span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><i><span style="font-family: Arial;">Está na hora de me despedir meu querido. Não podia ter tido um amor melhor.</span></i></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><i><span style="font-family: Arial;">Eu te amo. Sirena”.</span></i></div>Sisáhttp://www.blogger.com/profile/09159579741334248551noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2324836472112788775.post-54379537335798848282011-07-02T04:55:00.002-03:002012-02-21T06:22:03.021-02:00Possuída<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-0lJCku_rsDo/T0NUIv7hORI/AAAAAAAAAbg/yBN6WvLiC4A/s1600/Blog-03.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://1.bp.blogspot.com/-0lJCku_rsDo/T0NUIv7hORI/AAAAAAAAAbg/yBN6WvLiC4A/s400/Blog-03.jpg" width="300" /></a></div><span style="font-family: Arial;"><br />
</span><br />
<span style="font-family: Arial;">Estava exausta, mas continuava empolgada. Eu me sentia assim todas as vezes que saia do palco. As luzes já haviam sido apagadas, mas os fãs continuavam a gritar para que houvesse mais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Sou a vocalista de uma banda que mistura punk e pop, além de ser a única garota no grupo de cinco. Começamos nossa carreira profissional há apenas 6 anos, mas já fazemos turnês mundiais e vendemos milhares de discos. O tipo de vida que muitos sonham em ter.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Outro show incrível. Uhul! – Lukas, o baterista da banda era o último a descer a escada que ligava os bastidores ao palco.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Uma série de funcionários corria de um lado para outro, falando em seus pequenos rádios, mas nós cinco continuávamos parados perto da escada, ouvindo os fã que ainda gritavam.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Se eu pegar outro público animado assim acabo perdendo a voz. – Bebi um bom gole de água da garrafa em minhas mãos, recuperando o fôlego.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Verdade? Deixa eu cuidar da sua voz então... – O guitarrista principal, e não por acaso meu namorado, me colocou contra a parede para me dar um belo beijo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ri durante o contato enquanto ouvi os outros simularem o som de alguém vomitando. Logo eles também riam.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Preciso de um banho. – Soltei-me do abraço e comecei a andar para os camarins.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Boa idéia, Avery. Posso te ajudar com o sabonete. – O risinho e a mão boba de Lukas chegaram perto de mim, mas não me importei. Há anos que este tipo de provocação era para outra pessoa e não para mim.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Nossa, Zack, vai deixar? – O baixista, Evan, instigava.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Quebra ele! – Era a vez do segundo guitarrista se manifestar. Para Joshua tudo se resolvia no soco.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Zack riu e começou a andar atrás de nós, sendo seguido pelo resto da banda. Mal havíamos nos afastado da escada quando uma toalha molhada de suor atingiu a nuca de Lukas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Se não tirar a mão da cintura dela, te faço engolir suas baquetas. – O guitarrista decidia entrar na brincadeira e fazia voz de bravo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Dessa forma animada seguimos até os camarins. Os quatro meninos dividiam o mesmo enquanto eu tinha o meu próprio, não por capricho, mas por razões moralmente óbvias. Não éramos mais crianças. Todos tínhamos idades entre 20 e 23 anos. Camarins separados eram o mínimo que nossos pais esperavam dos produtores.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Agora longe do palco, apenas nossas vozes eram ouvidas no corredor, seguidas dos sons das pequenas correntes. Como eu disse antes, formamos uma banda de punk e pop. Nosso visual faz jus ao estilo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Grande show, pessoal. – Simone, nossa empresária dava os parabéns ao cruzar conosco no corredor. – Ah, Avery. Faz alguns minutos que entregaram um lindo buquê de flores para você. Deixei no seu camarim.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Obrigada. – Sorri apoiando a mão no trinco da porta. Os meninos seguiram pelo corredor até a porta seguinte e Simone atendia ao celular ao mesmo tempo em que andava apressada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Entrei no camarim e respirei fundo, feliz por mais um show ter terminado tão bem. Olhei em volta para a penteadeira repleta com a maquiagem, o sofá, os figurinos, alguns presentes e mimos dos fãs, até que notei em cima da mesa o tal buquê de flores.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Aproximei-me um tanto confusa e o peguei nas mãos. Simone havia dito que era um lindo buquê, e que havia sido entregue há poucos minutos, mas o que havia em minhas mãos era uma dúzia de rosas mortas. Havia um cartão no meio das pétalas. Abri o pequeno retângulo e apenas uma palavra estava escrita.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">“MENTIROSA”.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Amassei o cartão e deixei as flores sobre a mesa. Só podia ser alguma brincadeira de mau gosto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Puxei uma tolha de cima do sofá e rumei para o banheiro. No caminho desamarrei e abandonei as botas de cano alto, tirei a meia-calça rendada, o cinto de correntes, pulseiras e anéis. Já no banheiro tirei a saia, a blusa e as peças íntimas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Liguei o chuveiro e comecei a prender meu cabelo. O que eu mais mudava era meu cabelo. Cores e cortes, mas sempre comprido. Agora ele estava na altura de minha cintura, liso, preto com luzes em um vermelho forte.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Enfiei-me de baixo da água quente e senti todo meu corpo relaxar. Fechei os olhos e deixei a água cair em meu rosto, enquanto cantarolava uma de minhas músicas. Parei de cantar quando ouvi a voz de alguém no banheiro. Olhei pelo box de vidro e não havia ninguém.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Imaginação... – Sussurrei. Provável que meus ouvidos estivessem afetados pelo som alto do palco. Ignorei isso e voltei para o banho.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Demorei cerca de vinte minutos até sair enrolada em uma toalha. Parei diante do espelho embaçado pelo vapor e levei um susto, me virando rápida. Não havia ninguém atrás de mim, mas eu podia jurar ter visto um vulto pelo espelho. Meu coração estava acelerado e me virei aos poucos para olhar novamente o espelho.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">No vapor do espelho estava escrito <i>“Mentirosa”.</i> Eu gritei. Como aquilo havia ido parar ali? Há cinco segundos eu havia olhado para o espelho, e não havia nada escrito. Por entre as letras, via o reflexo de meu próprio rosto. Algo ali me perturbou. Meus olhos estavam verdes e sempre foram de um tom de castanho escuro. Eu não usava lentes coloridas. Gritei de novo e caí sentada no banheiro, abraçando meus próprios joelhos. Quase imediatamente a porta foi aberta com força.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Avery! – Zack foi o primeiro a entrar, ignorando qualquer coisa e indo me abraçar no chão.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Lukas, Joshua e Evan estavam logo atrás, olhando em volta, no camarim e no banheiro, assustados, preocupados.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O que foi? Tinha alguém aqui? Por que você gritou? – Zack me enchia de perguntas e eu ainda não conseguia falar direito. Tudo aquilo só podia ser coisa da minha cabeça e se eu falasse tudo para eles só achariam que estava louca.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Forcei um sorriso e tirei forças não sei de onde para inventar a desculpa de que achava ter visto uma aranha enorme. Eles riram e me provocaram chamando de medrosa. Logo foram saindo, mas Zack decidiu ficar por perto. Secretamente agradeci por isso.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ele já havia tomado banho e se vestido. Não que suas roupas habituais fossem muito diferentes dos figurinos do palco, mas ele dizia que se sentia melhor com <i>suas roupas. </i>Usava um <i>All Star</i> rabiscado por ele mesmo, jeans rasgado, camiseta preta, além das correntes em pulsos e pescoço. Seu cabelo loiro estava molhado e desalinhado. Agora Zack se ocupava em recolocar os três brincos que usava na orelha esquerda.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Levou cerca de duas horas para que todos estivessem prontos para voltar para o hotel. Uma van com vidros filmados nos levou em segurança e subimos até nosso andar. Lukas e Evan dividiam um quarto. Zack e Joshua outro. Eu ocupava o terceiro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Posso entrar? – O guitarrista já estava dentro quando perguntou, mas ainda sim eu respondi que podia. – Tudo certo com você?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Hum? – Logo me lembrei da mentira sobre a aranha. – Ah! Claro. Só me assustei com a aranha.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Aquilo não foi um susto, Avy. Você gritou como se estivesse sendo esquartejada. – Ele se aproximou e me abraçou com força. – Quer que eu fique aqui essa noite?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Retribui o abraço e respirei fundo, sentindo o cheiro de seu perfume, um aroma que eu realmente amava. Ensaiei um sorriso que mostrei para ele.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Estou bem, Zack. Sério.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Certo. Tente dormir então. Amanhã cedo temos a sessão de fotos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ele desistiu de tentar discutir comigo e se despediu, reforçando diversas vezes que estava logo ali do outro lado da parede. Quando meu namorado saiu, me larguei na cama, olhando para o teto. Tudo isso estava sendo muito louco.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Deixe de besteiras, Avery. Você está cansada. Só isso. – Falava comigo mesma, me levantando e indo até uma de minhas malas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Remexi uma pequena quantidade de livros e revistas até encontrar algo para me distrair. Coloquei todo o resto em uma pilha sobre a mesa de centro e voltei para cama. Li alguns parágrafos de um artigo sobre moda e logo adormeci, com a mesma roupa que estava.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Um barulho em meu quarto me fez acordar em um pulo. Minha mão voou para o interruptor e a luz se acendeu. Não havia ninguém no quarto, nem mais nenhum barulho. Sentei na cama e esfreguei a mão no rosto. Quando voltei a olhar em volta notei que a pilha de livros havia caído de cima da mesa e se espalhado pelo chão. Então havia sido este o barulho.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Mas... Como isso caiu? – Levantei e fui para perto. Comecei a recolher os livros quando algo me chamou atenção. Um livro caiu aberto em um capítulo cujo título era <i>“Doces Mentiras”.</i> Aquilo me perturbou. Fechei o livro e o coloquei na mesa com os outros.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Um pequeno álbum de fotos também estava na pilha e acabou no chão. Quando o ergui, uma foto escorregou para o chão. Nela estávamos Zack, uma outra pessoa e eu, há quase dez anos. Meu rosto na foto estava totalmente rabiscado. A porta do quarto se mexeu como se alguém a tivesse forçando do lado de fora. Levantei com cautela e cheguei mais perto, ainda com a foto nas mãos. Seria um ladrão? No hotel?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Quem é? – Falei do lado de dentro. Não houve resposta. A porta continuou sendo forçada. – Responda!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">A porta parou, mas não ouvi passos se afastando, nem a voz de ninguém. Com uma coragem não natural de minha parte, abri a porta com vontade. Ninguém. Dei um passo para fora e olhei para os dois lados. Apenas o corredor do hotel. Voltei para dentro do quarto e fechei a porta, apoiando a testa na mesma.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Mentirosa. – Alguém sussurrou atrás de mim. Virei-me novamente para encontrar absolutamente nada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Lembrei da foto em minhas mãos, que misteriosamente estava rabisca bem em cima do meu rosto. Voltei a observá-la. A terceira pessoa na foto era uma amiga de infância minha e do Zack. Nossa banda começou como um trio. Trayci e eu nutríamos uma paixão secreta pelo guitarrista, e por nossa amizade decidimos não forçar nada com ele.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Costumávamos ser os melhores amigos do mundo. Tray escrevia as músicas, Zack colocava a melodia, e eu fazia as coreografias que todos faríamos enquanto cantávamos. Mas...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Há quase oito anos, Tray não apareceu na escola, nem no ensaio, e quando fomos à sua casa a noite, a mãe dela disse que ela saiu no horário de sempre. A policia a encontrou no dia seguinte, em nossa velha casa na árvore. Tray havia cortado os próprios pulsos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ao lado dela estavam três cartas. Uma para a mãe, pedindo desculpas por isto e dizendo o quanto a amava. A segunda era para Zack, confessando todo o seu amor. A última para mim, tendo apenas duas palavras no papel: Traidora. Mentirosa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Cerca de um ano depois conhecemos os meninos que agora compunham o resto da banda, e há três anos que Zack e eu assumimos um relacionamento.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Traidora. Mentirosa. – Um sussurro. Eu parei, sem olhar para nenhum lado. A voz veio mais alta. – Traidora. Mentirosa. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Com relutância fui erguendo os olhos. No centro do quarto estava uma garota em pé. Sua calça jeans estava suja e a camiseta branca tinha grandes manchas vermelhas. O cabelo ruivo estava liso e encobrindo parte do rosto. Os olhos eram fundos e raivosos, mas com uma fabulosa cor verde.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Traidora. Mentirosa. – Repetiu a garota morta em meu quarto de hotel.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Tr... Tray? – A foto deslizou de meus dedos para o chão. O cabelo ruivo, os profundos olhos verdes, sem dúvida era a mesma garota.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Traidora. Mentirosa. – Era tudo o que Tray dizia. Os olhos verdes estavam cravados em mim. Seus pulsos escorriam muito sangue que acabava sendo absorvido por suas roupas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Por... Por que está dizendo isto? – Meu corpo estava colado com a porta. – O que eu fiz?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ela não falou mais nada. Ficava agora olhando para o chão. Não podia mais ver seus olhos. Logo ela começou a falar baixo, mais para ela mesma do que para mim.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Roubou... Roubou tudo que era meu. Avery roubou tudo de mim. Tudo o que era meu, Avery pegou para ela. Traidora. Mentirosa. Avery foi a culpada. – Tray ergueu os pulsos para olhar os cortes.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Do que está falando? – Estiquei minha mão até a maçaneta da porta. Morta ou não, ela estava longe. Eu poderia correr.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Tray sumiu no ar. Continuei imóvel, olhando para onde ela deveria estar. Subitamente a ruiva apareceu extremamente próxima a mim. Seus olhos verdes cheios de ódio estavam olhando fixo para os meus, arregalados e intimidadores.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Você roubou tudo de mim! – Ela gritava, há centímetros de mim. – Minhas músicas, você canta como suas. Minhas roupas, você usa e diz que é seu estilo. Sua mentirosa! Você quebrou nossa promessa, deu em cima do Zack e o pegou também. Traidora! Você tirou tudo de mim! Você me matou!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não... Não... Eu não fiz nada... – Meu corpo parecia pesar demais, e fui me encolhendo até estar sentada no chão. – As músicas...Você fez pra nós... Seu estilo eu só admiro... E o Zack... Meu Deus... Você tinha se matado... </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- VOCÊ ME MATOU! – A ruiva morta berrou próxima ao meu ouvido. – Foi por sua causa que eu fiz aquilo. A culpa é sua, Avy. Sua vida era pra ser a minha. Minha fama. Meu sucesso.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Eu comecei a chorar, fechando os olhos. O medo me consumia com facilidade. Não conseguia encarar aqueles olhos verdes, os mesmos olhos que vi no espelho horas antes. Por que ninguém vinha me ajudar? Estava assustada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Tremi violentamente quando dedos frios deslizaram pelo meu cabelo em um tipo de carícia macabra.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Tudo bem, Avy. Vai ficar tudo bem. Seus fãs ainda vão te ver no palco, ainda ouvirão suas músicas. O Zack... – Ela fez uma pausa, repetindo a carícia várias vezes. Sua voz agora era terna. – Ele ainda vai namorar essa garota linda que você é. Tudo ficará bem, Avy.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">De alguma forma a voz foi ficando mais afastada e meu coração foi desacelerando. Meu choro parou e senti segurança para abrir os olhos. Eu estava sentada sozinha em um lugar totalmente escuro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Zack bateu na porta do quarto de hotel bem cedo. A sessão de fotos seria logo e para variar a vocalista, única mulher, era a última a ficar pronta.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Podemos ir andando, <i>Punk Princess</i>? – O apelido que a mídia havia dado era de certa forma muito fofo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Claro. Já estou pronta. Zack...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Diga. – Ele usava o espelho para dar um retoque em seu cabelo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Senti tanto a sua falta...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Do que está falando, Avy? Eu estava aqui ontem à noite. – Ele riu e se aproximou para um abraço. – Mas você fica linda falando isso. Hey! Está usando lentes coloridas? Ficou legal com os olhos verdes.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Obrigada, Zack.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 42pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Como prometido, o mundo continuou a ouvir as músicas de Avery. Continuou a vê-la no palco, na TV, nas revistas... E o Zack continuou a namorar aquela garota bonita. As lentes coloridas eram moda por isso ninguém estranhou a mudança drásticas nos olhos da cantora, e com o tempo todos os fãs se habituaram aos novos olhos verdes de Avery, e seus velhos olhos castanhos foram esquecidos para sempre.</span></div>Sisáhttp://www.blogger.com/profile/09159579741334248551noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2324836472112788775.post-7341949469422914662011-07-02T02:25:00.001-03:002011-07-02T02:26:35.301-03:00Retorno a Galagah<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Todos estavam felizes naquela noite. Comemoravam com música e dança.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Toda a trupe estava feliz e não negavam isso. Gawyn tocava sua flauta com afinco, Sephiros mantinha um sorriso no rosto, observando a festa, assim como Iallanara fazia. Galatea acompanhava algumas mulheres da trupe no bater de palmas, enquanto as crianças rodopiavam e dançavam.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">A festa duraria a noite toda, e começariam a viagem para Galagah naquela manhã. Este era o planejado. Galatea e os outros seguiriam ao lado do Daramascos e companhia.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Sobre uma pequena mesa, alguns alimentos estavam dispostos, entre eles, algumas maças. Todos se distraiam e por conseqüência assustaram-se quando Iallanara se levantou tensa, fitando os galhos altos das árvores.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Quem está aí? – Gritou rumo ao nada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Todos se calaram e olharam para a bruxa, confusos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Iallanara, o que foi? – Galatea deu alguns passos mais para perto da companheira que nem ao menos mudou o olhar de direção.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não seja covarde e se mostre! – Mantinha a voz elevada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Sephiros trocou um olhar rápido com o amigo elfo. Gawyn olhou em volta, buscando por algo ou alguém, mas não viu nada além da trupe de Dalmut.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Iallanara! – Galatea chamou a atenção. – Diga-nos o que está acontecendo!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">A bruxa vermelha apontou para uma árvore próxima,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Há alguém ali. Eu o vi. – Olhou para Galatea enquanto falava, antes de voltar-se para a árvore e novamente elevar a voz. – Mostre-se! Ou sofra as conseqüências. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Coitadinha. Está vendo coisas. – Gawyn sussurrou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Mas todos se assustaram ao ver os restos de uma maça mordida cair ao solo, vindo do alto da árvore, e um riso baixo ecoou. Galatea empunhou a espada. Gawyn e Sephiros também se colocaram em posições de defesa. Os olhos de todos se fixaram na árvore.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não parem o festejo. Eu estava me divertindo. – A voz feminina sussurrada veio do meio das folhas. Um vulto se moveu lentamente até saltar ao chão, a vista de todos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Uma mulher que não teria mais que um metro e setenta, e um porte físico atlético. Tinha os cabelos longos, lisos e de cor castanha. Os olhos tinham um tom castanho semelhante aos cabelos. Trajava um vestido negro que lhe caia até alguns centímetros abaixo dos joelhos, encontrando o cano de uma bota igualmente negra. Em seu tronco um espartilho de tons rubros a tornava ainda mais magra, e acentuava o decote de seu vestido. Um longo bastão de aço negro repousava preso em uma correia em suas costas, e trazia na mão esquerda um manto negro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Uma humana? – Sephiros estava confuso com a mulher.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Diante da mulher aparentemente inofensiva, a maioria relaxou. Todos temiam que fosse algum seguidor de Enelock. Mas o receio voltou ao ouvir o riso sinistro da mulher. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ou não. – Ela sussurrou com sua voz sinistra ao mesmo tempo em que fechava lentamente os olhos, e os mantinha fechados por um único segundo, então os abrindo uma outra vez. O tom castanho da íris de seus olhos agora fora substituído por um vermelho cor de sangue.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Iallanara ficara mais pálida que o habitual. Gawyn dera dois passos para trás. Sephiros tentou falar, mas os sons não saíram. Apenas Galatea continuava no mesmo lugar, olhando confusa para seus companheiros temerosos, sem entender o medo que se estampava no rosto de pessoas tão valentes.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Imagino que a Princesa não saiba o que sou. – Novamente o riso sussurrado e sinistro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não me importa o que seja. Se quiser nos atacar, eu revidarei. – Ajeitou a espada que ficou apontada para a mulher de olhos rubros.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Galatea, não faça nada. – Sephiros advertiu. – Esta mulher é...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">A Guardiã da Vida olhava para Sephiros, esperando que concluísse a frase, mas foi a voz de Iallanara que sentenciou a situação em que estavam metidos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- ...Um demônio.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Galatea sentiu um frio tomar seu corpo e baixou a espada em choque.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Eu... – Iallanara pigarreou, tentando manter o tom da voz. – Eu achava que sua raça houvesse se extinguido. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Muitos acham isso. – A voz vinha sussurrada. – De fato não resta muitos de nós, mas estamos por aí. – Correu o olhar por cada um ali, e por fim parou em Galatea, que mantinha a espada preparada. – Ora, não sejam ridículos. Se eu tivesse a intenção de atacar, vocês já estariam mortos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Com isso eu concordo. – Gawyn relaxou o corpo, cruzando os braços e analisando a estranha mulher.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Se não veio ao ataque, o que quer? – Iallanara ainda desconfiava.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Eu estava de passagem, e ouvi a musica. Como eu disse, estava me divertindo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Se a mulher demônio aprecia nossa comemoração, então ela pode participar dela. – Daramascos declarou em sua voz potente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Qual o seu nome? – Galatea guardava a espada sem tirar o olhar da mulher.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Meu nome é impronunciável para vocês. Porém, fique a vontade em chamar-me de Alice. – O riso sussurrado ecoou novamente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Gawyn aproximou-se do amigo elfo, lhe perguntando em voz baixa, ou ao menos pensou ser baixa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Por que ela fica falando aos sussurros?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Sephiros parecia pensar para responder. A raça dos demônios era algo raro de ser visto hoje em dia. Poucos ainda tinham qualquer conhecimento mais especifico sobre seus hábitos. Era de se esperar que apenas alguém que vivia no tempo dos demônios, poderia responder a tal pergunta.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Para evitar uma habilidade que nasce com os demônios. Se ela falar mais alto, sua voz chamará os mortos para este local, mesmo que ela não o deseje. – Ethan se mostrava presente entre o grupo de pessoas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Sim. Não acho que vocês gostariam deste tipo de convidados em seu festejo. – Alice se moveu em passos lentos, e não deixou de sorrir com sadismo ao notar que todos congelaram seus movimentos, atentos ao que ela fazia. Andou até a pequena mesa de alimentos, e pegou uma maça, a levando à boca e mordendo um pedaço. Estava de costas para a maioria daquelas pessoas, engoliu o pedaço da maça antes de falar. – Se ainda tem dúvidas de minhas intenções, use seus dons para verificar, Princesa de Galagah.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Galatea não escondeu a surpresa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Me conhece? – Indagou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Na verdade não. Conheço o símbolo de teu deus, e estive a ouvir lhe chamarem de princesa. Apenas associei as coisas. Vejo que acertei. – Se distraia mais com a maça do que com as pessoas. – Mas sinta-se à vontade para usar teu poder.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Disse que se chama Alice. Sabe usar a magia? – Ethan interferiu na conversa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Hum? – Alice se mostrava realmente confusa com a mudança de assunto. – Conheço todos os campos da magia, porém uso apenas as magias relacionadas ao fogo. É uma característica de minha família.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Então eu estou certo. Cresceu muito, jovem dama. – Ethan mostrou um sincero sorriso.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Nos conhecemos? – Alice questionou ainda se deliciando com a maça.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Sim. Quando tinha esta altura. – O Campeão Sagrado levou a mão até a altura da cintura, indicando uma referência de altura.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Impossível. Deve estar enganado. – Concluiu.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Por que diz isso? – Sephiros estava curioso com a conversa entre a mulher demônio e o Campeão Sagrado.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O tempo dos demônios corre em um ritmo diferente do que para os humanos. A idade que eu teria para ter tal altura foi à cerca de... – Pensou, fazendo cálculos mentais. – Quase duas vidas humanas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O som de um assovio se fez ouvir, e Gawyn falou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Então você é bem velha.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Poucos segundos depois, metade de uma maça o atingiu no rosto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Voltando ao assunto... É impossível que tenha me conhecido com tal idade. – Remexia a mesa de comidas, se apropriando de um cacho de uvas verdes.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Talvez eu esteja enganado de fato. A jovem que conheci era uma nobre dentro da raça dos demônios. Eu havia conhecido o pai dela, e conseqüentemente sua esposa, que tinha três filhos. Dois rapazes fortes, e uma jovem. Mas eu soube que meses depois aconteceu uma...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Cale-se! – Alice falou no tom mais alto que podia sem invocar nada fora do mundo natural.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Ethan parou de falar, sem se ofender com a interrupção da jovem. Aquela era a mesma Alice que conhecera tantos anos antes, e sabia o passado negro e brutal que sua família tinha. Sabia também que seria de fato uma imprudência provocá-la em tal assunto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Onde a Jovem e, sem dúvida, delicada Dama está indo? – Gawyn a encarava enquanto passava a mão sobre o circulo vermelho que ficou em seu rosto após ser atingido pela maça.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- E quanto à história de que sua habilidade de segurar coisas não funcionar com elfos...Qual sua desculpa desta vez? Também não funciona com demônios? – Iallanara passava a não pensar mais na presença da mulher demônio, e provocava Gawyn.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- As mulheres de hoje em dia estão cada vez mais insolentes. – Agora o olhar fixo do elfo espadachim recaia sobre a bruxa vermelha.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Agnara. É para onde vou. – Alice respondeu como se nada de importante tivesse em seus caminhos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Daramascos falava alto, para que seus homens continuassem com a comemoração. A música recomeçou, e as conversas altas fizeram necessário que os cinco em missão Sagrada se juntassem mais próximos de Alice para ouvir sua voz baixa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não tem qualquer obrigação de nos revelar sua missão, mas estou curioso em saber o que fará em Agnara. – Sephiros sentava-se sobre uma grande pedra, cruzando braços e pernas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Recebi informações que alguém que procuro pode estar por aquela região. Pretendo localizar esta pessoa. – Alice acabava o cacho de uvas, e agora parecia entediada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Quem está procurando? – Gawyn perguntou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não é de sua conta. – Alice fora simples. – E vocês? Elfos, magos, bruxas, Campeões Sagrados. – Correu os olhos por cada um enquanto falava. – É um grupo muito estranho de se encontrar, ainda mais em companhia de uma princesa que me parece muito bem armada. Estão brincando de guerra?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não seja idiota! – Iallanara levara a mão ao punhal, ameaçando sacá-lo, mas se deteve ao notar uma ponta de ferro a quase lhe tocar a garganta.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">A expressão de todos era de espanto, pois não haviam visto Alice se mover, mas ela estava agora à frente de Iallanara, com o bastão de ferro negro em mãos, apontando sua ponta para a bruxa vermelha.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não seja idiota você. – A mulher demônio logo afastou o bastão de Iallanara, o colocando novamente às costas. – Eu já disse que não vim atacá-los, então não se atrevam a atacar-me.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Peço desculpas em nome de minha companheira. – Galatea se pronunciava. – E no momento estávamos regressando para Galagah. Estou em missão sagrada, mas prefiro não revelar mais que isto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Você é muito sincera, Princesa. Embora sua educação esteja falha. – Encostava-se a uma árvore próxima.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Que disse? – A Campeã Sagrada estava confusa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Vocês perguntaram meu nome, perguntaram o motivo de eu estar aqui, o motivo de eu ir para onde vou, e falaram em meu passado. Mas eu ainda não ouvi o nome de vocês. É uma grande falta de educação vindo de uma princesa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Lamento, mas sua presença nos deixou assustados. Sou Galatea Goldshine, Campeã Sagrada de Radrak, filha de Airon Goldshine. E estes são Shepiros e Gawyn Silverheart, dois amigos elfos. Está é Iallanara Nindra. E Ethan Ghoslayer, que parece conhecer-lhe. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Alice, pela quarta vez corria os olhos pelos cinco que estavam dispostos ao seu redor. Fechou os olhos e emitiu um riso curto, que mais se assemelhava à um suspiro. Desencostou-se da árvore e apoiou uma das mãos na própria cintura.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Muito bem. Todos devidamente apresentados. – Abriu os olhos de íris vermelhas e fitou o céu noturno por entre as árvores. – A noite já vai longa. Agradeço tão agradável conversa, e certamente sou grata pelas frutas, mas devo seguir meu caminho.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Espere! – Galatea pediu, ao ver a mulher demônio se virar. Visto que Alice parara o andar, falava agora com o Campeão Sagrado. – Ethan, você a conhece. Ela nos fará mal?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não creio nisso. – Ethan prontamente respondia. – Se tivesse tal intenção, já o teria feito. A morte é de sua natureza.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Então peço que fique, Alice. Pode nos acompanhar a maior parte do caminho. Parece-me ser uma pessoa muito poderosa, mas acho perigoso para você vagar por aí durante a madrugada. – Galatea parecia ter uma sincera preocupação com a moça.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Acho que o maior perigo é ela. – Gawyn falou mais para si do que para os outros.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Acho que devia calar a boca. – Alice parecia querer cortá-lo ao meio com o olhar gélido. Voltou um olhar indiferente para a Princesa. – Minha viagem tem sido solitária. Aceitarei sua gentileza, até que nossos caminhos sejam separados.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Por mais algumas poucas horas a cantoria e festa continuaram, agora com uma pessoa a mais. Enfim, aos poucos, todos foram caindo no sono, a não ser por dois membros da companhia de Dalmut que serviam de vigilantes para os perigos da noite.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Galatea acordou com o pressentimento de que algo próximo se movia. Estava certa. Sentou-se e ficou olhando enquanto Alice, já em pé, vestia o manto negro que a torna quase invisível na noite.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Onde vai? – Falou baixo para não despertar mais ninguém.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Volte a dormir, Princesa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Achei que fosse seguir caminho conosco.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Seu amigo Ethan tem razão. A morte é de minha natureza. Tenho de chegar a Agnara e localizar um de meus irmãos. – Alice olhava para o nada, na direção onde ficava Agnara. Estava de costas para Galatea, que não via nada além do vulto negro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Pretende se reunir com sua família? – Galatea tinha um leve sorriso no rosto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O riso baixo, agora algo conhecido, ecoou por um tempo breve.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Apenas por ser “família” não significa que sejam pessoas a quem queremos bem. – Alice deixava claras suas intenções macabras nessa busca pelo irmão.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Galatea estava sem palavras, e permaneceu em silêncio.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Mas eu gostei de você, e de teus amigos. Se os deuses permitirem... – Calou-se por um momento, puxando o capuz do manto negro para cima da cabeça. Virou o rosto para Galatea, e continuou. – Espero ter o prazer de revê-los em algum momento.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Alice... – Galatea agora estava em choque. Os olhos de Alice haviam retomado a cor castanha, e um sorriso estava em seus lábios. Galatea, por um momento, pareceu poder ler a alma de Alice, e nela encontrou apenas ressentimento, decepção e dor, encobertos por uma impenetrável camada de frieza. Lembrou-se do que Ethan falava sobre o passado da jovem, ao qual Alice interrompeu. Estava decidida, perguntaria a Ethan o que havia ocorrido com Alice para tais sentimentos estarem tão amarrados à moça.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Galatea queria pedir que Alice ficasse, que fosse com eles para Galagah. Mas algo dentro de si dizia que era melhor deixar a mulher demônio seguir seus próprios caminhos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Boa sorte nesta tua tal missão sagrada, Princesa de Galagah. – Novamente dava as costas à Campeã Sagrada e iniciava um caminhar silencioso, floresta à dentro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Galatea. – A Princesa falou mais alto. – Me chame de Galatea.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Alice levantou o braço, deixando os dedos apontados para o céu escuro, sem parar de andar, nem se voltar para Galatea.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Que as estrelas a acompanhem, Galatea.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">A Campeã Sagrada permaneceu sentada, olhando para o caminho que Alice havia tomado, e já não via mais o vulto da mulher demônio. Olhou para o céu e sorriu, deitando-se e partindo para o sono, certa de que em algum momento de sua jornada, Radrak colocaria Alice novamente em seu caminho.</span></div><br />
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<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><strong><span style="color: #cc0000;">Nota da Autora:</span></strong> <em>Este conto é uma homenagem à um grande amigo. Todos os personagens que aparecem neste conto, são de autoria de <strong>Leandro </strong></em><strong>Radrak </strong><em><strong>Reis</strong> e fazem parte do <strong>Legado Goldshine</strong>. Apenas Alice pertence a mim e é a protagonista do romance Rubro. Obrigada por ler! ^-^</em></span>Sisáhttp://www.blogger.com/profile/09159579741334248551noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2324836472112788775.post-10638678245415150742011-07-02T02:01:00.001-03:002012-02-21T06:03:37.949-02:00Genoma!<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-tix4w_1f-zY/T0NPznTAE8I/AAAAAAAAAbY/zuMAaRJU6Pc/s1600/Blog-02.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-tix4w_1f-zY/T0NPznTAE8I/AAAAAAAAAbY/zuMAaRJU6Pc/s400/Blog-02.jpg" width="300" /></a></div><span style="font-family: Arial;"><br />
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<span style="font-family: Arial;">__Os anos passam e o mundo muda para pior. Seja pela ação humana, ou pela ação da natureza, não é segredo para mais ninguém que a existência neste planeta se torna cada vez mais difícil. Diante disto um grupo de cientistas de diversos países se reuniu em uma base subterrânea e deram inicio a sociedade Genoma.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Os planos da Genoma não visavam o resgate do planeta, mas sim tornar os humanos adaptados aos novos modos de sobrevivência. Mas as pesquisas da Genoma iam alem da teoria, e experimentos começaram a ser feitos em humanos. Curiosamente pessoas vinham desaparecendo em diversos locais.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Foi um desses desaparecimentos que levou Leila, uma garota de 14 anos a cruzar o país, até Los Angeles. Acaba de chegar à cidade e não conhecia nada nem ninguém.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Vou começar procurando um hotel. - Leila tinha o cabelo escuro e liso, era comprido mas agora estava preso em um rabo de cavalo. Uma pequena bolsa vinha atravessada de seu ombro esquerdo até a coxa direta, e era claro que trazia poucas coisas ali.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Uma confusão lhe despertou a curiosidade. Perto de onde estava, dois homens altos e fortes arrastavam e chutavam um outro homem para fora de uma propriedade. O homem arrastado fazia ameaças, e seus agressores nada diziam.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Suma! – Foi tudo o que foi dito por um dos agressores, enquanto o homem era atirado ao chão e rolava alguns metros.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Ninguém parecia se importar com a situação, visto que Leila fora a única a correr até o homem.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Minha nossa! Você está bem? – Se ajoelhou ao lado do homem que tentava ficar sentado, cuspindo uma vez no chão para livrar a boca do sangue.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Estou. – Disse, enfim levantando o rosto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Leila sentiu o rosto esquentar diante daquele homem, ou melhor, rapaz. Ele não devia ser muito mais velho que ela própria. Tinha olhos verdes e o cabelo loiro estava bagunçado.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Isso sempre acontece. – Sorriu e Leila perdeu o fôlego.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Sangue. – Só conseguiu dizer.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Como? – O rapaz estava confuso, mas logo sentiu a linha escorrer pelo canto da boca. – Ah. – Levantou a mão para limpar, mas um lenço branco já tinha sido encostado em sua face. – Obrigado.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Jesse! – Alguém vinha gritando pela rua.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Um grupo de outros três rapazes, mais ou menos da mesma idade que o rapaz chegavam perto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Jesse, está bem? – Um perguntou ofegante.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Estou. Estou. – Respondia o jovem loiro enquanto segurava a mão do amigo para levantar. – Me desculpem. Eu não consegui nada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Relaxe. Ao menos você foi jogado para fora, e não para dentro. – Dizia outro dos jovens. Cruzou os braços e olhou para a menina. – E esta, quem é?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Bom...Eu não sei. – Respondeu Jesse, agora olhando para ela, como todos os outros.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Leila. – Ela falou. – Meu nome é Leila. Eu passava por aqui quando vi o que aqueles homens fizeram.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Muito prazer, Leila. Sou o Jesse. – O loiro estendeu a mão. – Estes são amigos meus. Lucio, Arthur e Henri.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Oi. – Disse a menina, segurando com alegria a mão estendida de Jesse. – Ah. Já sei. – Começou a mexer em sua bolsa até encontrar um papel retangular. – Estou procurando essa pessoa. Deveria estar nesta cidade. Já a viram por aqui?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Jesse e os outros olharam fixamente para a fotografia de uma mulher, e não se lembravam de já tê-la visto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Não. Acho que não a vi. – Jesse desistiu de forçar a memória.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Por que a esta procurando? – Questionou Henri.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Ela sumiu. Veio para esta cidade a negócios, e deveria ter voltado há 4 dias. Não sei onde ela está.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Quem é ela? – Paul falava pela primeira vez.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Minha mãe. – Baixou o rosto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Você disse que ela desapareceu? – Lucio, evidentemente o mais sério do grupo, não demonstrou pena da menina.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Sim. O hotel onde ela estava me informou que ela saiu na data marcada, mas não tornaram a vê-la.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Os quatro jovens começaram a trocar olhares, como se conversassem claramente por meio dos olhares. Foi Jesse quem quebrou o silêncio.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Leila, quantos anos tem?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- 14. – Respondeu.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Você é muito nova para ficar andando sozinha pela cidade. Venha conosco.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Leila não pensou que poderia ser perigoso, não pensou em nada. Apenas queria seguir Jesse onde fosse.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Foi levada até uma casa que em algum momento havia sido muito bonita e luxuosa, mas agora seu interior estava cheio de poeira e móveis cobertos pro enormes panos brancos. Apenas algumas partes estavam livres da poeira, provavelmente os locais onde os quatro costumavam sentar-se e andar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Jesse a guiou escada a cima, e tirando uma chave do bolso destrancou uma porta branca repleta de flores cor-de-rosa pintadas na madeira. O interior do quarto estava impecavelmente limpo, e quase tudo era em tons de rosa e branco, com enfeites bonitos e brinquedos que manteriam uma criança ocupada por semanas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Você pode ficar aqui. – Jesse sorria com sinceridade, mas era claro que evitava olhar o interior do quarto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Espero que perdoe minha curiosidade e intromissão, mas quem morava aqui? – Perguntou, sentando-se a ponta da cama fofa e tirando a bolsa do ombro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Uma família rica morou aqui. A filha mais nova ocupava este quarto. Mas um dia invadiram a casa. O pai da menina fazia parte em algumas pesquisas, mas havia se tornado contra os métodos de seus colegas e retirou-se do projeto. – Jesse encostou-se ao batente da porta e cruzou os braços, olhando Leila, e continuou. – Mas acharam que ele deveria continuar e foi uma grande confusão. Quando a casa foi invadida, alguns homens imobilizaram o pai da menina, e diante dos olhos dele assassinaram sua esposa, e filho mais velho, e sua filha mais nova foi levada para tomar parte nas pesquisas. Ele perdeu a razão diante da brutalidade dos ex-colegas e se matou. Mas o filho mais velho ainda não tinha morrido. Ele acabou sobrevivendo ao ataque e resolveu ir atrás da irmã mais nova.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Leila estava triste pela história daquela família, e começou a correr os olhos pelas coisas do quarto. Parou o olhar sobre uma fotografia emoldurada onde se via uma menina pequena agarrada à cintura de um garoto um pouco mais velho. Leila fez a pergunta óbvia, mas a resposta foi inesperada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Quem é esse? – Segurava a foto nas mãos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Sou eu. – Jesse nada mais falou e retirou-se do quarto, encostando a porta.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Leila se entristeceu ainda mais. Pouco depois havia adormecido na cama da irmã mais nova de Jesse.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Horas depois, quando já havia escurecido, Leila acordou e saiu do quarto, procurando por alguém. Encontrou Jesse no que seria a biblioteca da mansão. Estava lendo um grosso livro de capa lisa. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Ora. Boa noite. – Ele fechou o livro, retirando o óculos de finas lentes, evidentemente usados apenas para a leitura.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Está tão silêncio.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Hahaha. Sim. Lucio e Henri saíram. Arthur esta dormindo. Se todos estivessem aqui seria a maior barulheira.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Leila sentou-se em uma poltrona e iniciou uma conversa com Jesse. Falaram de coisas banais e até um pouco sobre o passado triste de Jesse. Leila também contou que era filha única e seu pai havia falecido quando ela era um bebê. E descobriu que Jesse tinha 20 anos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Acabara de cochilar na poltrona e Jesse lhe cobria com um leve lençol quando alguém bateu a porta e entrou, falando baixo diante da visão da menina adormecida.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Jes. Melhor vir aqui. – Lucio estava mais sério que o normal.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Do lado de fora da biblioteca Jesse e Lucio se reuniam na sala, vendo Henri descer com Arthur.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Bom. – Henri começou. – Como Jesse pediu, eu e Lucio fomos até os muros da Genoma e vigiamos a saída e entrada dos internos em treinamento.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- O que descobriram? – Jesse cortou a fala do amigo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Lucio tirou um papel amassado do bolso da jaqueta e o abriu sobre a mesa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Isso.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Uma foto do campo de treino da Genoma focava no rosto de uma mulher que possuía marcas evidentes de tortura e operações médicas. Suspirou com pesar e declarou o que todos sabiam.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- É a mãe da Leila.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Por algum tempo conversaram e decidiam o que deveriam fazer. As votações foram unânimes e Leila foi trazida até a sala.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Leila, já ouviu falar da empresa Genoma? - Jesse estava sério.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Não. – Respondeu.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- A Genoma... - Arthur começou. – É um centro de pesquisas fundado por cientistas internacionais. A proposta deles é adaptar a vida humana as adversidades naturais que vivemos, como tipos de clima e tipos de solos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Isso não é bom? – Leila questionou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Costumava ser. – Lucio falou. – A idéia era boa, mas os pesquisadores iniciaram experimentos humanos. Expuseram humanos à temperaturas negativas, calores infernais, ambientes inundados, terrenos secos, e outras diversas torturas. Fizeram mudanças cirúrgicas na tentativa de alcançar seu desejo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Que horror... – Sussurrou. Em um momento arregalou os olhos e virou-se para Jesse. – Jesse, sua família...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- É. A família dele. – Lucio finalizou enquanto Jesse desviava o olhar.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Todas as nossas. – Henri disse. – Todos tivemos parentes levados para a Genoma, que jamais retornaram.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Nós, assim como outros, formamos grupos de resistência com a intenção de invadir e destruir a Genoma, antes que isso continue. E resgatar quem estiver ainda vivo. – Jesse declarou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Entendo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Leila, você é capaz de entender por que estamos contando tudo isto para você? – Lucio perguntou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Na verdade não.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Esta é uma fotografia tirada no inicio da noite de hoje, no campo de treinamento externo da Genoma. – Lucio esticava o papel amassado para Leila.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Não... – Logo iniciou o choro ao reconhecer o rosto de sua mãe, tomado pela dor e o vazio, acorrentada a outras várias pessoas com mesmas expressões.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Durante três dias Leila ficou abatida e perambulou silenciosa pela mansão. Os quatro jovens estavam preocupados, mas não interromperam suas rotinas de planos contra a Genoma.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Uma semana se passou e Jesse e os outros haviam concluído o plano de invasão ao prédio da Genoma. Leila havia ouvido boa parte dos planos e decidira ir junto com eles. Jesse fora irredutivelmente contra a idéia de levar Leila, mas a menina alegou que se não fosse com eles, iria sozinha.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__A invasão foi bem sucedida. Arthur percorria o primeiro andar junto de Henri, em busca dos computadores principais. Lucio varria o primeiro subsolo, e Jesse o segundo. Leila estava com Jesse. Ainda não haviam localizado qualquer dos prisioneiros, mas já haviam passado por câmaras e mais câmaras de experimentos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Jesse, veja. – Leila parou e apontou para a direita.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Não sabíamos disso...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Uma escadaria revelava um terceiro subsolo. Correram lá para baixo, e uma placa luminosa anunciava “Câmaras Criogenicas”.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Já estavam há quase 2 horas no interior da Genoma e ainda não haviam visto qualquer pessoa. Correram sem rumo pelo terceiro subsolo até se depararem com uma porta gigantesca de onde escapavam pequenas quantidades de gás frio.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Devem estar aqui, os prisioneiros. Temos de correr. Arthur e Henri logo vão formatar todo o sistema e não sabemos o que vai acontecer depois disso. – Jesse era rápido em digitar no pequeno teclado ao lado da porta, buscando decifrar o código de segurança.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Jesse, rápido... – Leila estava ansiosa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Calma! – Jesse estava nervoso.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Vinte minutos depois uma luz verde se acendeu sobre a porta e Jesse gritou que havia conseguido. As portas de ferro começaram a se mover lentamente, deixando escapar o ar frio. Estava escuro dentro, impossibilitando que se visse algo. Quando as portas foram completamente abertas, Jesse deu um passo a dentro, levando Leila pela mão. Adentraram vários metros no escuro e no frio.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Espere. Tem algo errado. – Jesse parou no escuro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Por que diz isso? – Leila só queria encontrar sua mãe e sair dali.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Pense, Leila. Não encontrarmos prisioneiros é natural, mas não vermos seguranças e pesquisadores? Este lugar está ativo, mas não há ninguém aqui!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Mal Jesse acaba de falar fortes luzes se acenderam sobre ele, e percorreram todo o teto, acendendo uma após a outra, até que todas as luzes estivessem acesas. Jesse arregalou os olhos e Leila gritou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__O lugar onde estavam era tão grande quanto um estádio de futebol, todo construído em metal e do teto pendiam centenas de tubos de vidro que se dispunham em fileiras. Dentro de cada tudo havia um corpo humano. Alguns pareciam apenas estátuas de cera, por sua palidez, mas alguns estavam horrivelmente desfigurados.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Bem-vindos à instalação sede do projeto Genoma. – Ecoou uma voz mecânica vinda de autofalantes dispostos pelo galpão. – A permanência no Arquivo não foi autorizada e as medidas de segurança estão sendo colocadas em prática.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Jesse e Leila percorriam os corredores com espanto, ignorando a voz programada do sistema. Jesse havia parado diante de um tubo vazio, e socava o vidro com ódio, fechando os olhos. Leila aproximou-se e viu a pequena foto colada ao vidro, seguido de um nome feminino e a idade de 16 anos. Era a irmã de Jesse, e se o tubo estava vazio...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Está morta... – Jesse sussurrou. – Eu não consegui chegar a tempo. DROGA!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Leila sabia que nada poderia ser dito para amenizar a dor que Jesse sentia. A menina viu o tubo onde sua mãe estava sedada e correu até lá, buscando uma forma de soltá-la. Ao olhar para a esquerda, gritou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- JESSE!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__O jovem correu até ela, e a encontrou assustada apontando para frente. Chorava e tremia. Seguiu a direção que ela apontava e se deparou com três tubos repletos de marcas de mãos e tomados por uma enorme quantidade de sangue. Em meio ao sangue, Lucio, Arthur e Henri estavam mortos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Apenas agora davam atenção à voz eletrônica que ecoava.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Entre com a senha de cancelamento! Trancas ativadas! Entre com a senha de cancelamento! Lacrando câmaras!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- A PORTA! – Leila gritou, olhando as enormes portas começarem a se fechar. Correram rumo a saída abandonando todos para trás. Mas nem isso foi o suficiente. As portas se fecharam antes que qualquer dos dois conseguisse alcançá-la.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Liberação de Anti-Vírus! Projeto Genoma em risco! – Ecoou a voz eletrônica.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Um gás de cor esverdeada começou a ser liberado por todo o galpão. Jesse começou a mexer no teclado ao lado da porta, sem sucesso. Leila chorava e não conseguia reagir de nenhuma forma.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Duas horas depois a porta foi aberta e um grupo de vários homens usando jalecos brancos e mascaras de gás adentraram o local.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Há mais intrusos? – Dizia um.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Não, senhor. – Respondia o outro.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Ótimo. – Chutou com violência o corpo inerte de Jesse. – Peguem esses dois e joguem no incinerador. Reiniciem o sistema. Retomem as pesquisas agora mesmo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Senhor, graças as medidas de segurança do sistema, perdemos muitas das cobaias. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Chame os outros e subam até o térreo. Tragam mais pessoas aqui para baixo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__- Sim!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Morte. Foi tudo o que a Genoma trouxe. As pesquisas continuaram como se nada acontecesse debaixo das ruas de Los Angeles. Os desaparecimentos continuaram com cada vez mais freqüência.</span></div><br />
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<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><strong><span style="color: #cc0000;">Nota da Autora:</span></strong> Este conto foi escrito em Setembro de 2010 durante uma noite de insônia. Não curto muito ele, mas faz parte da minha carreira. Obrigada por ler! ^-^</span>Sisáhttp://www.blogger.com/profile/09159579741334248551noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2324836472112788775.post-72955529431803329112011-07-02T01:30:00.001-03:002012-02-21T04:28:22.452-02:00Conexôes Obscuras<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-Ns9EjQsho3w/T0M5a7kKWnI/AAAAAAAAAbQ/UbSdfwKzA7U/s1600/Blog-01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-Ns9EjQsho3w/T0M5a7kKWnI/AAAAAAAAAbQ/UbSdfwKzA7U/s400/Blog-01.jpg" width="300" /></a></div><span style="font-family: Arial;"><br />
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<span style="font-family: Arial;">Little Acher é uma pequena vila no oeste de Massachusetts, Estados Unidos. Apesar de estarmos no ano corrente, repleto de aparelhos eletrônicos modernos, Little Acher parou no tempo. Como sua cidade vizinha, Salem, a pequena vila manteve seu ar puritano e suas lendas místicas que tanto medo trouxeram em 1692. Mas agora novos medos aterrorizavam os 40 mil habitantes de Little Acher. Assassinatos macabros estavam por acontecer em diversas partes da vila, e atingindo as mais diversas classes de pessoas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Abigail Williams completara 20 anos meses antes, e há 18 residia internamente no orfanato de Little Acher, após a estranha morte de seus pais. Recentemente vivia entristecida, sempre se lembrando que em apenas mais um ano teria de deixar o orfanato e se virar sozinha por um mundo que não conhecia e onde não tinha nada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Desde os seus 15 anos, Abigail descobrira um pequeno túnel que ligava a cozinha do orfanato com um poço do lado externo do terreno cercado por muros, e constantemente fugia para os bosques e campinas em torno da cidade. Em um destes passeios mais atuais, encontrara um homem adormecido sob um carvalho e sua aproximação o despertou.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Jack, como se apresentou, disse não ter família, não ter um lar, não ter nem ao menos um sobrenome. Era alto, com um porte físico atraente. Tinha os cabelos louros e um pouco desalinhados, mas isso o deixava com certo charme. Não teria mais que 25 anos, e trajava-se sempre com um sobretudo negro. Comovida pela história de Jack, Abigail passou a visitá-lo no bosque todos os dias, sempre levando consigo algum alimento roubado da cozinha do orfanato.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Naquela manhã fria em outubro, Abigail se esgueirou pelo túnel e correu até o bosque. Mas seu amigo não estava no lugar de costume.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Jack? – Chamou por ele algumas vezes.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Olá. – O homem de frios olhos azuis apareceu detrás de uma árvore, assustando a moça.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Cristo! Não me assuste desta forma.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Desculpe-me. Eu estava caminhando e ouvi teu chamado.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Como em todos os dias, Abigail e Jack sentaram-se sobre as folhas e a grama e conversaram por longas horas. Geralmente sobre assuntos irrelevantes, mas nesta em especial sobre algo importante.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ouviu as notícias? Encontraram outro corpo. Bom, parte de um. – Abigail sussurrava, como se as árvores pudessem ouvi-la e revelar seus segredos. – Estava cortado pela cintura, e com as pernas esticadas. Como se estivesse sentado, sabe? Disseram calçar elegantes saltos vermelhos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Estive ouvindo que a filha mais nova do doutor Anderson desapareceu. É provável que se trate dela. – Jack pegava folhas nas mãos e as picotava antes de jogá-las no ar em uma fracassada tentativa de confetes.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ora, mas será uma pena se for. Isso está me assustando. Com este corpo já são 16 encontrados. Começou-se com aquele garoto que vendia jornais na praça, acharam-no na cerca do jardim. Depois foram a esposa e a filha do dono da mercearia.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Estavam deitadas em suas camas, com seus ventres. Acusaram o marido e pai, não? – Jack procurava lembrar-se.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Sim. E seguiram-se tantos outros...A cidade está um caos completo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Claro que está. Os habitantes de Little Acher estão sendo exterminados um após o outro, de formas hediondas, e ninguém sabe por quem.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">À tarde já caia pesada sobre o bosque. O tom alaranjado do céu denunciava a chegada da noite. Jack olhou para o céu por algum tempo, antes de voltar o olhar para a jovem.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Deve regressar. Logo será noite. Não quero que ande por estes caminhos desertos estando só.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Preocupa-me você. Aqui sozinho.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ninguém sabe de minha existência aqui. Estou em segurança. Agora vá.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Abigail rumou novamente ao orfanato e assim que deixara a cozinha, esbarrou com uma mulher no corredor.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Senhorita Abigail. Que fazia na cozinha?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Madre. – Uma velha senhora cheia de seus rancores do passado que entregara sua vida as orações e a disciplina no orfanato.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Estava roubando?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não! Eu não!</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Já basta, senhorita Abigail. Será confinada em teu quarto e de lá não sairá até a manhã. Também não irá comer, de certo. – Pegou a menina pelo braço e a arrastou pelos corredores vazios do orfanato.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Abigail chorava e implorava para que não fosse levada ao confinamento, pois sabia que durante as horas da noite uma freira, provavelmente a própria madre, entrava no confinamento e dava surras de vara de bambu. Mas de nada adiantou. Abigail foi trancada, e durante várias horas ouviram-se os seus gritos de dor abafados pelas pesadas portas do orfanato.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Na manhã seguinte outras internas se ocupavam em fazer pequenos curativos nos ferimentos de Abigail, e o silêncio reinava na instalação. Esperou-se que todas se ocupassem com suas coisas para que Abigail fugisse para os bosques novamente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Jack chocou-se com os ferimentos da menina e um misto de irritação e pena se formou em sua face. Abigail apenas sorria e dizia que já não estava mais doendo e que logo estaria curada. Jack lembrava-se do dia em que Abigail dizia ter ouvido a Madre conversar com um velho gorducho e risonho, e diziam que aos 21 anos da menina o velho a levaria para casa dele, e ela lá serviria para o que servem as mulheres: satisfazer um homem.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">A menina optou por assuntos triviais naquele dia, tentando ignorar toda a dor que ainda sentia, e a lembrança de tal conversa. Jack estava calado e pensativo, apenas emitindo alguns “ah” ao que Abigail dizia. As horas passaram, e por mais um dia a jovem deixou o estranho conhecido no bosque e rumou para o orfanato. A noite passou tranqüila em Little Acher, com uma temperatura agradável e sem os uivos dos cães, porém assim que o sol se mostrou no céu, gritos de horror explodiram no orfanato de Little Acher, e momentos depois no banco da cidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">As freiras tentavam conter as internas que corriam para o pátio para entender o motivo dos gritos, enquanto a policia fazia o possível para cercar a visão macabra de uma mulher nua, amarrada com arame farpado na cruz que adornava o pátio. O arame perfurava sua carne em vários pontos e tanto seus olhos como sua boca estavam costurados. A agulha de costura ainda pendia balançante, presa pela linha em um dos cantos da boca da mulher. Não tão longe, no centro comercial de Little Acher, outros gritos e correria para encobrir o corpo do dono do banco da cidade, um velho gorducho e risonho, que agora estava cortado ao meio na vertical. O homem que escravizaria Abigail, e a Madre do orfanato, estavam agora mutilados e mortos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Os jornais locais anunciavam em todas as páginas. As pessoas não falavam em outra coisa. Já eram 18 os mortos em Little Acher, e de formas cada vez piores. A policia foi inteira mobilizada, e até forças policiais das cidades vizinhas foram chamadas. Os crimes não tinham nada em comum, as vítimas não tinham nada em comum, ou talvez tivessem, e ninguém havia percebido ainda.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Por uma semana decretou-se toque de recolher às 18 horas, e por uma semana não houve crime. Uns diziam que o assassino seria então alguém da cidade, por estar respeitando o toque de recolha. Outros diziam que era alguém de fora, que só não tinha matado novamente pois não havia ninguém nas ruas para se fazer de vítima. Hipóteses. Suposições. Acusações. Vizinhos foram colocados contra vizinhos. Amigos de infância alegavam coisas absurdas e motivos torpes para crimes nem ao menos cometidos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Nos dias seguintes as mortes continuaram. Pessoas e mais pessoas eram encontradas aos pedaços pela cidade de formas cada vez mais doentias. Naquela noite o cheiro da morte parecia flutuar pelas ruas desertas de Little Acher. Os cães ladravam compulsivamente, sem intervalo, e o som começava a incomodar quem tentava em vão adormecer. Alguns moradores se revezavam em turnos noturnos, escondidos em suas casas, olhando pelas frestas das cortinas, buscando algum movimento fora do comum. E naquela noite alguém viu algo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Passava do meio dia quando o jornaleiro local gritava na praça a nova edição da Gazetta de Acher, com uma história que era ao mesmo tempo útil, e ao menos tempo inútil.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt 30pt; tab-stops: 30.0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">*</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 55.95pt 0pt 30pt; tab-stops: 0cm; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__ “Na última madrugada, por volta da 1 hora e 45 minutos da manhã, um morador de Little Acher estava em sua sala, olhando pela janela, quando deu por conta do latido de um cão solitário pela alameda nove. Atento ao cão, o referido morador pode vislumbrar um vulto humano que andava silenciosamente. Temendo por sua segurança e de sua família, o morador apenas observou. O vulto parecia se mover sem destino, chegando até a andar em círculos. O cão mencionado a cima circundava o vulto e latia com ferocidade. Foi neste momento que o vulto ergueu a mão e a iluminação precária da alameda fez brilha uma faca em suas mãos. A lâmina desceu rápida rumo ao animal que foi logo abatido. Após o primeiro golpe, o vulto ainda passou alguns minutos a perfurar o cão com a lâmina. O morador afirma que algo deve ter chamado a atenção do suposto assassino, pois subitamente ele parou o que fazia e saiu correndo em direção aos bosques.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 55.95pt 0pt 30pt; tab-stops: 30.0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Pela manhã, civis encontraram os restos do animal morto, e a faca permanecia fincada na carne.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 55.95pt 0pt 30pt; tab-stops: 30.0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">__Estamos aterrorizados por não saber de quem se trata, uma vez que o morador testemunha não se sente confiante em afirmar se o vulto se tratava de homem ou mulher”.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt 30pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;"> *</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Logo que a notícia se espalhou as fofocas começaram, e não tardou para que tais fatos alcançassem as internas do orfanato de Little Acher.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Abigail estava confusa, mas não hesitou em correr para a cozinha e usar-se do túnel secreto para fora. Precisava ver Jack naquele instante. Talvez ela ainda não tivesse se dado conta de todas as possibilidades daquela história.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Jack! JACK? – Gritava enquanto corria.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Que há? – O homem a segurou pelos braços, a fazendo parar. – Acalme-se.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Oh meu Deus, Jack. Alguém viu o assassino pela cidade, e diz que o viu fugir para cá. Meu Deus! Meu Deus! Farão buscas. Não pode permanecer aqui, Jack. Se eles o acharem vão suspeitar de você. Espere... – Abigail parou, olhando para ele. – Jack, por que você vive aqui escondido? – Pela primeira vez a moça pensava nisso.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Eu não sei. – Simples.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Por que não vai para cidade, procurar uma casa para ficar?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Eu não sei. – Novamente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Jack, você...você não tem nada com essas mortes, não é? – Dava dois passos para trás.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Silêncio.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Meu Deus... – Se afastava. – SEU MONSTRO! – Abigail deu as costas e correu. Correu por um tempo sem olhar para trás. Temia estar sendo seguida. Jack era um assassino. Jack ia matá-la. O medo a impedia de pensar com coerência.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Alcançou o poço, correu pelo túnel e se isolou no orfanato. Chorou durante todo o dia, e se assustava com qualquer batida em sua porta. As outras internas estavam preocupadas com Abigail. Mas com o tempo a preocupação deu lugar ao receio. Achavam que Abigail estava ficando louca, e comentavam isso. Comentavam a ponto da própria Abigail ouvir. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Já era noite quando Abigail saiu de seu quarto. Todas já estavam adormecidas e não se ouvia nenhum som em todo o orfanato. Abigail perambulava pelos cômodos, e em um deles alguém estava em pé.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Quem é? – Silêncio. – Responda! – Tremia.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Abigail forçou a visão na penumbra até ter total noção das formas do corpo de Jack.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Deus... – Sussurrou. – Como entrou aqui?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Estou em todos os lugares que você estiver. – Falou baixo. Imóvel.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Vá embora. Você não é meu amigo. Você é um assassino.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Eu não sou nada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Exato. Nada. É isso o que você é. – Não sabia por que continuava falando com ele.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Eu nem ao menos existo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- O que? – Confusa.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ora. Não percebeu mesmo? Não seja idiota.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Do que está falando?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Eu não passo de algo em sua mente.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não seja ridículo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Ridículo? Por que me chamo Jack? Talvez seja por que você ouviu uma história sobre um homem com esse nome? Por que me visto desta forma? Será porque este homem se vestia assim? Por que não tenho passado? Será porque ninguém sabe o passado desse homem?</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Não. Você quer que eu pareça louca. Mas não sou. Você está aí em pé. Seja quem for, mas está aí.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Eu matei aquelas pessoas, Abigail. Eu as matei. E eu sou você. – Jack pela primeira vez sorria, mas era com puro sadismo.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Então Abigail estava certa. Jack era um assassino, e pior, estava louco. Tateou perto de si até sua mão encontrar um enfeite de mesa feito de madeira maciça e com toda sua força o lançou contra Jack.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- SUMA DAQUI! – Não esperou resposta e correu para a porta da frente do orfanato.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Queria fugir de lá, mas ao passar pelo pátio tropeçou e bateu a cabeça, caindo desacordada.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Não havia nem ao menos amanhecido ainda quando um tom laranja forte começou a se mostrar no horizonte. Levou bastante tempo para que alguém se desse conta da estranha iluminação e avisasse a policia de que o orfanato de Little Acher estava em chamas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">A correria foi grande até o fogo ser apagado. Após as chamas contidas, policiais e bombeiros remexiam os destroços e constatavam o que muitos já esperavam. Todas as internas e freiras do orfanato estavam carbonizadas. Por que haviam sido acorrentadas as camas, logo todos saberiam. O incêndio havia se iniciado na ala dos dormitórios, e não havia chegado completamente em todo o prédio. A policia logo iniciou vistorias nos destroços. Um oficial chamou seu parceiro para dar uma olhada na sala de descanso do orfanato. Nesta sala, um grande espelho ocupava quase toda a parede, mas estava estilhaçado no centro, e no chão, em meio aos cacos, um pesado enfeite de mesa estava caído.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">- Nossa. Alguém não gostava do próprio reflexo. – Comentou o oficial, mudando de sala.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">O corpo de Abigail foi achado no pátio, ainda com vida, e levado ao hospital da cidade. Durante dois dias as coisas se acalmaram em Little Acher, mas no terceiro dia o inferno recomeçou, mas desta vez com um desfecho.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Abigail havia retomado a consciência no final daquela tarde. Tudo o que falou foi seu nome, para os policiais que tentavam listar as mortes no orfanato. Não comeu nada, e não queria ver ninguém. A noite passou rápida e a manhã foi tumultuada no hospital de Little Acher, onde ocorreu a última morte.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">A Gazetta de Acher publicou uma edição especial do jornal na semana seguinte, revelando todos os fatos da última morte, e os mistérios por trás das anteriores.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 55.95pt 0pt 24pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">“Na noite da última sexta-feira, 31 de Outubro, Abigail Williams, única sobrevivente do incêndio do orfanato, pegou um bisturi e retaliou o corpo da enfermeira que cuidava dela. Não bastasse o assassinato, Abigail ainda usou o sangue da vítima para escrever o nome ‘JACK’, uma centena de vezes, por todas as paredes do quarto hospitalar. Após o crime, Abigail sentou-se em sua cama e assim permaneceu até a descoberta dos fatos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 55.95pt 0pt 24pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">A polícia investigou a relação de Abigail Williams com as demais vítimas, e para o choque de todos, foram resultados compatíveis. Todos os assassinados, em algum momento, de algum modo, ofenderam e maltrataram a jovem de 20 anos.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 55.95pt 0pt 24pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Durante o acompanhamento psiquiátrico, Abigail diz não se lembrar de absolutamente nada, e ao se questionar quem é o tal Jack, ela diz se tratar dela mesma, depois afirmando que Jack foi quem matou os moradores de Little Acher e não ela.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 55.95pt 0pt 24pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Este jornal fez suas pesquisas e descobrimos que Abigail perdeu os pais aos 2 anos de idade, e desde então residia no orfanato da cidade. Posteriormente, na época, descobriu-se que a avó paterna de Abigail fora a responsável pela morte do próprio filho e de sua esposa. Fato curioso e intrigante é que a jovem foi batizada com o mesmo nome de sua tataravó, Abigail Williams, que em 1692 foi a primeira mulher acusada e condenada pela prática de bruxaria, na cidade de Salem.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 55.95pt 0pt 24pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Entre os pertences da jovem Abigail, foram encontrados livros e revistas sobre a história do lendário assassino Jack, The Ripper.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 55.95pt 0pt 24pt; text-align: justify; text-indent: 30pt; text-justify: inter-ideograph;"><span style="font-family: Arial;">Somando-se todos os fatos podemos afirmar que Abigail Williams, 20 anos, é a responsável pelos 78 assassinatos ocorridos em Little Acher nos últimos meses. Provada a insanidade da jovem, ela foi recolhida ao presídio estadual para doentes mentais e lá ficará até o fim de seus dias.”</span></div><br />
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<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="color: #cc0000;"><strong>Nota da Autora:</strong></span> <em>Este conte foi escrito em 2005, quando eu tinha 14 anos, por isto ele possui uma série enoooorme de erros. Poderia tê-lo revisado antes de colocar aqui, mas achei mais sincero mostrar como comecei, e como melhorei aos poucos. Obrigada por ler! ^-^</em></span>Sisáhttp://www.blogger.com/profile/09159579741334248551noreply@blogger.com0